Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
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REFLEXÕES SOBRE A PÁTRIA, SOBRE OS PAIS: UMA LEITURA DA CINEMATOGRAFIA BRASILEIRA RECENTE<br />
O movimento neoliberal é o processo econômico da<br />
globalização, que como a violenta espiral de um furacão, não<br />
permite que <strong>na</strong>da e ninguém lhe escape. Assim se faz presente, quer<br />
queiramos ou não, <strong>na</strong>s nossas vidas, alteran<strong>do</strong> a noção anterior<br />
de espaço e tempo da modernidade. Com o impulso das velozes<br />
redes de compartilhamento de da<strong>do</strong>s e informação, o mun<strong>do</strong> se<br />
ressignifi ca em global e local, novas palavras postas em prática<br />
pelo movimento, voluntário ou não, das nossas percepções. Para<br />
Bauman (1999, p. 7), a globalização é irreversível.<br />
Para alguns, “globalização” é o que devemos fazer<br />
se quisermos ser felizes; para outros, é a causa da<br />
nossa infelicidade. Para to<strong>do</strong>s, porém, “globalização”<br />
é o destino irremediável <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, um processo<br />
irreversível; é também um processo que nos afeta<br />
a to<strong>do</strong>s <strong>na</strong> mesma medida e da mesma maneira.<br />
Estamos to<strong>do</strong>s sen<strong>do</strong> “globaliza<strong>do</strong>s” – e isso signifi ca<br />
basicamente o mesmo para to<strong>do</strong>s.<br />
A velocidade seja no deslocamento <strong>do</strong>s corpos, seja no<br />
deslocamento da informação, também vem alteran<strong>do</strong> as<br />
relações huma<strong>na</strong>s, pois ao encurtarem as distâncias, mero<br />
produto social, sofrem mudanças de signifi cação. Como, cada<br />
vez mais, diminui-se o tempo real no processo de comunicação,<br />
tu<strong>do</strong> se tor<strong>na</strong> próximo e acolhe<strong>do</strong>r, e barreiras vão deixan<strong>do</strong> de<br />
existir para aqueles que tenham acesso aos meios e à produção<br />
de informação. Para aqueles que estão distantes <strong>do</strong>s meios e<br />
da velocidade <strong>do</strong>s acelera<strong>do</strong>s processos de comunicação, tu<strong>do</strong><br />
se fragmenta, se quebra, se distancia. Antigas relações que<br />
mantinham comunidades e criavam identidades entre seus<br />
habitantes se fi ndam, já que<br />
os mais recentes desenvolvimentos tiveram imensos<br />
resulta<strong>do</strong>s gerais. Seu impacto <strong>na</strong> interação social –<br />
associação/dissolução – foi amplamente assi<strong>na</strong>la<strong>do</strong> e<br />
descrito em detalhe. Assim como se nota a “essência <strong>do</strong><br />
martelo” somente quan<strong>do</strong> ele se quebra, agora vemos<br />
com mais clareza <strong>do</strong> que nunca o papel desempenha<strong>do</strong><br />
pelo tempo, o espaço e os meios de utilizá-los <strong>na</strong><br />
formação, <strong>na</strong> estabilidade/fl exibilidade e <strong>na</strong> extinção<br />
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />
de totalidades políticas e socioculturais. As chamadas<br />
“comunidades intimamente ligadas” de outrora foram<br />
produzidas e mantidas, como agora podemos ver, pela<br />
defasagem, entre a comunicação quase instantânea<br />
dentro da peque<strong>na</strong> comunidade (...) e a enormidade de<br />
tempo e despesas necessários para passar a informação<br />
entre as localidades. Por outro la<strong>do</strong>, a atual fragilidade<br />
e curta duração das comunidades parece ser sobretu<strong>do</strong><br />
resulta<strong>do</strong> da redução ou completo desaparecimento<br />
daquela defasagem: a comunicação intracomunitária<br />
não leva vantagem sobre o intercâmbio entre<br />
comunidades, uma vez que ambos são instantâneos<br />
(BAUMAN, 1999, p. 22).<br />
Esse momento histórico atua sobre os indivíduos, alteran<strong>do</strong><br />
as relações deles para com a sociedade e consigo. Algo que Hall<br />
(2006, p. 7) chama de “crise de identidade”. Antigas certezas<br />
e concepções sociais que não mais comportam os sujeitos<br />
forma<strong>do</strong>s <strong>na</strong> modernidade tardia e <strong>na</strong> globalização, deslocan<strong>do</strong><br />
os eixos de sustentabilidade da sociedade moder<strong>na</strong>.<br />
As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram<br />
o mun<strong>do</strong> social, estão em declínio, fazen<strong>do</strong> surgir novas<br />
identidades e fragmentan<strong>do</strong> o indivíduo moderno, até<br />
aqui visto como um sujeito unifi ca<strong>do</strong>. A assim chamada<br />
“crise de identidade”, é vista como <strong>parte</strong> de um processo<br />
mais amplo de mudança que está deslocan<strong>do</strong> as estruturas<br />
e processos centrais das sociedades moder<strong>na</strong>s e abalan<strong>do</strong><br />
os quadros de referência que davam aos indivíduos uma<br />
ancoragem estável no mun<strong>do</strong> social.<br />
O sujeito pós-moderno, assim como as famílias, é<br />
fragmenta<strong>do</strong> e compõe-se por volúveis identidades, <strong>na</strong><br />
multiplicidade de sistemas de signifi cação e representação<br />
cultural, que entre contradições e improvisações, não permitem<br />
uma identidade fi xa, permanente e estática, “A identidade<br />
tor<strong>na</strong>-se uma celebração móvel: formada e transformada<br />
continuamente em relação às formas pelas quais somos<br />
representa<strong>do</strong>s ou interpela<strong>do</strong>s nos sistemas culturais que nos<br />
rodeiam” (HALL apud HALL, 2006, p. 13). A fragmentação<br />
<strong>do</strong> indivíduo <strong>na</strong> pós-modernidade se refl ete <strong>na</strong> fragmentação da<br />
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