28.06.2013 Views

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

INTERCULTARILIDADE E FORMAÇÃO DOCENTE: AS VOZES DO COTIDIANO DE UMA ESCOLA RIBEIRINHA NO AMAZONAS<br />

Viver a diversidade cultural no contexto de uma comunidade<br />

ribeirinha da Amazônia implica abrir-se para o reconhecimento<br />

de que vários são ainda os desafi os <strong>na</strong> compreensão <strong>do</strong><br />

signifi ca<strong>do</strong> e da importância em torno <strong>do</strong> respeito às diferenças.<br />

A visão preconceituosa em relação àqueles que habitam<br />

o meio rural ainda é um entrave no caminho das escolas<br />

das comunidades ribeirinhas. As diferenças culturais que<br />

caracterizam o cotidiano <strong>do</strong>s ribeirinhos são negadas e até<br />

mesmo apagadas, quan<strong>do</strong> comparadas aos padrões que<br />

caracterizam o cotidiano das cidades.<br />

Dentre os dilemas em torno das diferenças culturais se destaca<br />

a não valorização <strong>do</strong>s traços identitários de uma comunidade<br />

ribeirinha, expressos, sobretu<strong>do</strong>, <strong>na</strong> relação com o rio e suas<br />

histórias, e <strong>na</strong>s formas de trabalho, de mo<strong>do</strong> especial no roça<strong>do</strong><br />

e <strong>na</strong>s atividades de produção de farinha. Tais características<br />

são colocadas de la<strong>do</strong> nos conteú<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>s pela escola.<br />

Portanto, a interculturalidade, enquanto caminho crítico de<br />

compreensão das diferenças, poderá propiciar, no cotidiano das<br />

escolas ribeirinhas, uma refl exão mais aprofundada acerca <strong>do</strong>s<br />

elementos que compõem a cultura ribeirinha.<br />

É necessário que a escola fomente a discussão sobre<br />

a realidade que a cerca, e os desafi os de se viver em uma<br />

comunidade rural/ribeirinha, com as suas especifi cidades, o<br />

que, em sua grande maioria, continua sen<strong>do</strong> esqueci<strong>do</strong> <strong>na</strong>s<br />

políticas educacio<strong>na</strong>is. Dessa forma, as ações, que delas<br />

precisariam ser ema<strong>na</strong>das, não acontecem. A diferença, neste<br />

caso, merece ser ressaltada como sen<strong>do</strong> um mo<strong>do</strong> diferente de<br />

se viver e de conceber o mun<strong>do</strong>, mas não menos importante e<br />

não menos porta<strong>do</strong>r de direitos essenciais a uma vida dig<strong>na</strong>.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, defendemos uma formação feita no chão<br />

da escola, formação esta que permita enxergar e a<strong>na</strong>lisar<br />

criticamente as difi culdades enfrentadas no cotidiano escolar.<br />

Em outras palavras, defendemos que a escola se torne o locus<br />

da formação continuada, possibilitan<strong>do</strong> o processo de refl exão<br />

crítica sobre a prática pedagógica aí desenvolvida e, portanto,<br />

sobre os reais problemas enfrenta<strong>do</strong>s pelos(as) professores(as)<br />

no dia-a-dia.<br />

Vemos, pois, a formação de professores, seja inicial ou<br />

continuada, um <strong>do</strong>s grandes temas de debate e de pesquisa<br />

LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />

nos últimos tempos, como expressão de uma intencio<strong>na</strong>lidade<br />

política. Conforme acentua Belém (2004), em qualquer<br />

que seja a esfera, “o senti<strong>do</strong> último que incorpora é sempre<br />

expressão de uma concepção, de uma determi<strong>na</strong>da forma de ver<br />

o mun<strong>do</strong>, e, por extensão, a educação” (p. 25). Caminhos são<br />

aponta<strong>do</strong>s, concepções reveladas, novas estratégias esboçadas,<br />

mas sempre algo de inquietante nos impulsio<strong>na</strong> a refl etir<br />

sobre este processo e a problematizá-lo, levan<strong>do</strong> em conta seu<br />

signifi cativo papel para a transformação <strong>do</strong> espaço escolar.<br />

Consideran<strong>do</strong>-se a multifacetada realidade educacio<strong>na</strong>l,<br />

compreende-se a complexidade de formar profi ssio<strong>na</strong>is para<br />

atender a tão variadas demandas.<br />

Desse mo<strong>do</strong>, ao pesquisar sobre os limites e desafi os coloca<strong>do</strong>s<br />

no cotidiano <strong>do</strong>s professores de uma escola ribeirinha no interior <strong>do</strong><br />

Amazo<strong>na</strong>s, a discussão em torno da formação <strong>do</strong>cente apresentou,<br />

para nós, novos contornos, revelan<strong>do</strong> suas especifi cidades e a<br />

importância de pensá-la, repensá-la, rever percursos e buscar<br />

novos direcio<strong>na</strong>mentos. Pois viver o cotidiano de uma escola<br />

ribeirinha é, sem dúvida, uma experiência enriquece<strong>do</strong>ra, marcada<br />

pela peculiaridade de um espaço onde a relação com o rio se<br />

confi gura como sen<strong>do</strong> algo determi<strong>na</strong>nte no desenvolvimento de<br />

suas atividades. Um lugar onde a convivência pessoal no dia-a-dia<br />

se entrelaça com a relação profi ssio<strong>na</strong>l, onde a escola se apresenta<br />

como espaço de trabalho e como casa, moradia, e, portanto,<br />

impreg<strong>na</strong>da no cotidiano <strong>do</strong>s professores.<br />

Estas especifi cidades, porém, nem sempre são elucidadas<br />

nos processos de formação de professores, o que faz com que<br />

esta realidade se torne distante, mesmo daqueles que nela<br />

vivem.<br />

Assim, neste cenário, diante <strong>do</strong>s desafi os que envolvem<br />

a escola e das inúmeras difi culdades encontradas, o(a)<br />

professor(a) é convida<strong>do</strong> a assumir postura e atitude de<br />

intelectual, no senti<strong>do</strong> daquele que refl ete criticamente sobre<br />

sua prática e “cuja refl exão é coletiva no senti<strong>do</strong> de incorporar<br />

a análise <strong>do</strong>s contextos escolares no contexto mais amplo e<br />

colocar clara direção de senti<strong>do</strong> à refl exão: um compromisso<br />

emancipatório de transformação das desigualdades sociais”<br />

(PIMENTA, 2000: 27). Aos profi ssio<strong>na</strong>is da educação cabe,<br />

pois, a problematização <strong>do</strong>s confl itos que cercam o universo<br />

2906

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!