Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

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O LUGAR DA LITERATURA JUVENIL: ENTRE A INDÚSTRIA CULTURAL E OS PROBLEMAS DE GÊNERO E MODO A literatura juvenil pode ser considerada um gênero literário por ter características específi cas como todos os gêneros têm. No entanto, ela utiliza desses gêneros para comunicar. A literatura juvenil não representa um gênero específi co, mas se vale de todos os gêneros literários (e não-literários) existentes para se comunicar. Dessa forma, ela se apresenta através do conto, da crônica, do romance, da poesia, da novela, da notícia, da reportagem, do hipertexto, etc. Nesse passo, podemos pensar na primeira questão: o sistema literário, proposto por Candido (1985), é formado a partir de uma tríade que reúne autor, obra e público, vistos como elementos essenciais para a Literatura. Além disso, desde Aristóteles, a literatura é dividida em três grandes gêneros: épico, dramático e lírico. A partir destes três, outros foram surgindo como encadeamentos desse grande sistema que é a literatura. Dessa forma, a Literatura é um sistema maior que compõe apenas três gêneros. Portanto, a literatura juvenil é um gênero literário? Em que ela se assemelha com a literatura épica, dramática e lírica? Não seria ela, então, um modo de representação do literário? Se assim pensarmos, temos três modos de representação literária: a literatura adulta, a literatura infantil e a literatura juvenil. Assim, a literatura juvenil, tal como a infantil e a adulta, se apropria de gêneros diversos e de um modo específi co de escrita direcionada para jovens, que não são especifi camente adolescentes, pois o conceito de juventude nos mostrou que pessoas de diferentes idades podem encontrar em produtos produzidos “para jovens” uma fonte de prazer. Considerações fi nais Ao pensarmos em literatura, chegamos ao pressuposto de que ela é essencial para a humanização de indivíduos e para a formação humana. Durante toda a sua existência, a literatura se transformou, se dividiu, esteve presente em fatos históricos, manteve-se, portanto, na vida dos seres humanos como um fator de equilíbrio psíquico (CANDIDO, 1995). O consumo de literatura surgiu a partir dessa necessidade de produção intelectual de escritores e da necessidade que os homens tinham e, felizmente, ainda têm de sentir prazer ao ler e LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012 viajar pela fi cção. A relação entre autor, obra e público nunca foi tão sintomática quanto na era do capitalismo, da indústria cultural e do consumismo exacerbado. Fica evidente, nessa relação, que o autor escreve determinada obra para ser lida por um público específi co; esse autor, portanto, sabe o que escrever e para quem escrever. Por isso, logo que surgiu o conceito de juventude, a indústria cultural e a literatura, mais tarde e com mais reservas, se voltaram para o público que se formava, com o intento de satisfazer seus desejos e vontades, representando o seu estilo de vida. A literatura juvenil, portanto, nasceu de vontade de agradar uma faixa etária, mas, tornou-se, com o passar do tempo, um modo de narrar específi co, com uma estrutura própria. O adjetivo “juvenil” serve somente para a venda e o consumo, pois as obras intituladas juvenis trazem um retrato de nossa época, das vontades dos jovens de todos os lugares e culturas. A literatura juvenil não é só um gênero ou um subsistema da literatura, considerada como menor, mas um modo de narrar um mundo específi co e de pensar em valores específi cos. Diante de tudo o que foi exposto, fi ca a citação de Padrino (2005, p. 65-66): Referências [...] a mudança real que nos leva a discutirmos hoje se existe ou não essa chamada literatura juvenil deve situarse, na verdade, mais em uma mudança social que tem, em seu centro, a realidade juvenil que na aparição ou revitalização desse gênero específi co. Mudança social que tem infl uenciado nessa adequação ou adaptação dos produtos a outras manifestações artísticas unidas inevitavelmente a processos de claro caráter comercial, como podem ser a música ou o cinema. (tradução minha). ADORNO, T. W; HORKHEIMER, M. A indústria cultural: o iluminismo como mistifi cação das massas. In: ADORNO, T. W. Indústria cultural e sociedade. Seleção de Textos Jorge Mattos Brito de Almeida; Traduzido por Julia Elisabeth Levy. São Paulo: Paz e Terra, 2002. p. 7-74. 2830
O LUGAR DA LITERATURA JUVENIL: ENTRE A INDÚSTRIA CULTURAL E OS PROBLEMAS DE GÊNERO E MODO BOURDIEU, P. O mercado de bens simbólicos. In: ______. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2007. p. 99-181. BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo:EDUC, 1999. CADERMATORI, Ligia. O que é literatura infantil. São Paulo: Brasiliense, 2006. CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. 7. ed. São Paulo: Nacional, 1985. p. 3-39; p. 73-88. CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários escritos. 3. ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995. p. 235-263. CECCANTINI, João Luis C. T (org.). 2004. Leitura e literatura infanto-juvenil: memórias de Gramado. São Paulo: Cultura Acadêmica. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise e didática. São Paulo: Moderna, 2000. COMPAGNON, Antoine. A literatura. In: ______. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Ed. da UFMG: Belo Horizonte, 2001. p. 29-46. EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. Tradução de Waltensir Dutra. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. ESCARPIT, Roger. Sociologia da literatura. Coimbra: Almedina, 1969. ESCARPIT, Roger. Hacia una sociología del hecho literario. Madrid: Edicusa, 1974, p. 11-43. LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012 GROPPO, Luís Antonio. Juventude: Ensaios sobre Sociologia e História das Juventudes Modernas. Rio de Janeiro: DIFEL, 2000. HOBSBAWM, Eric J. Revolução Cultural. In: _____. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 314-336. MARCUSCHI, Luis A. Gêneros textuais: defi nição e funcionalidade. Disponível em: . Acesso em: 15 de janeiro de 2012. OBIOLS, Sílvia Di S. Adultos em crisis: Jóvenes a la deriva. 1. ed. Buenos Aires: Centro de Publicaciones Educativas y Material Didáctico, 2006. PADRINO, Jaime García. Vuelve la polémica: ¿existe la literatura... juvenil? In: RETTENMAIER, Miguel; RÖSING, Tânia M. K. (org.). Questões de literatura para jovens. Passo Fundo: UPF Editora, 2005. p. 57-72. PASSERINI, Luisa. A juventude, metáfora da mudança social. Dois debates sobres os jovens: a Itália fascista e os Estados Unidos da década de 50. In: LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean- Claude (org.). História dos jovens. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 319-382. SOARES, Magda. A escolarização da Literatura Infantil e Juvenil. In EVANGELISTA, Aracy; BRINA, Heliana; MACHADO, Maria Zélia (Orgs). A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e juvenil. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. WELLERSHOFF, Dieter. Literatura, Mercado e Indústria Cultural. Trad. Teresa Balté. Hamburgo. Humboldt, n. 22, p. 44-48, 1970. 2831
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