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Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

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INTERCULTARILIDADE E FORMAÇÃO DOCENTE: AS VOZES DO COTIDIANO DE UMA ESCOLA RIBEIRINHA NO AMAZONAS<br />

diálogo intercultural, no senti<strong>do</strong> da promoção <strong>do</strong> ser humano,<br />

o que não signifi ca fechar os olhos às relações de poder e<br />

<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção, imbricadas no cotidiano de nossa sociedade.<br />

Sabemos que esse não é um movimento fácil, <strong>na</strong> medida<br />

em que os programas de formação nem sempre se preocupam<br />

realmente com a formação de um professor comprometi<strong>do</strong><br />

com a problematização das relações de poder que permeiam<br />

as práticas pedagógicas e políticas da instituição escolar e da<br />

sociedade como um to<strong>do</strong>. Uma constatação que vem se tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong><br />

frequente tem si<strong>do</strong> a de que a problemática da formação <strong>do</strong><br />

professor se “constitui um conjunto de práticas institucio<strong>na</strong>is<br />

que raramente resulta <strong>na</strong> radicalidade <strong>do</strong>s professores. Os<br />

programas de formação difi cilmente estimulam os licencia<strong>do</strong>s<br />

a levar a sério o papel <strong>do</strong> intelectual que trabalha em benefício<br />

de uma visão emancipatória” (GIROUX; McLAREN, 1995,<br />

p. 131). Reconhecen<strong>do</strong>, porém, a história como possibilidade,<br />

acreditamos ser esta uma visão superável, pois assumimos<br />

que “ensi<strong>na</strong>r exige a convicção de que a mudança é possível”<br />

(FREIRE, 1996, p.85).<br />

Diante das refl exões aqui apresentadas, a pesquisa teve<br />

como objetivo: Conhecer o cotidiano de uma escola ribeirinha,<br />

identifi can<strong>do</strong> como a temática das diferenças se projeta <strong>na</strong><br />

formação e <strong>na</strong> prática <strong>do</strong>s(as) professores(as) que atuam nessa<br />

realidade.<br />

Para atingir a este objetivo, trilamos os caminhos da<br />

pesquisa qualitativa com características <strong>do</strong> tipo etnográfi co,<br />

pauta<strong>do</strong> principalmente <strong>na</strong> observação participante.<br />

A escola ribeirinha e a diversidade cultural.<br />

A escola acolhe em si múltiplas identidades, com suas<br />

características e peculiaridades, representan<strong>do</strong> um espaço onde<br />

ideias e valores são trabalha<strong>do</strong>s. É nesse senti<strong>do</strong> que ela se tor<strong>na</strong><br />

um importante instrumento no qual as ideias de valorização<br />

e respeito às diferenças e a luta por melhores condições de<br />

vida podem ganhar força e valor. Para tanto, a pluralidade /<br />

diversidade cultural deve ser um importante argumento a ser<br />

considera<strong>do</strong> <strong>na</strong> escola e nos programas <strong>do</strong>s cursos de formação<br />

de professores. “Considerar a pluralidade cultural no âmbito<br />

LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />

da educação e da formação <strong>do</strong>cente implica, portanto, pensar<br />

formas de se valorizar e se incorporar as identidades plurais em<br />

políticas e práticas curriculares” (CANEN; MOREIRA, 1999,<br />

p.12).<br />

Assim, a realidade das escolas ribeirinhas nos possibilita<br />

inúmeras refl exões acerca <strong>do</strong> desafi o de viver a diferença<br />

cultural. Uma cultura expressa, <strong>na</strong> maioria das vezes, <strong>na</strong>s<br />

celebrações religiosas, <strong>na</strong> relação com as lendas e mitos, no<br />

simbolismo com a água e com as plantas medici<strong>na</strong>is, enfi m,<br />

como acentua Fraxe (2004)<br />

[...] Uma cultura de profundas relações com a <strong>na</strong>tureza,<br />

que perdura, consolida e fecunda o imaginário desse<br />

conjunto social, isto é, no âmbito de uma “cultura<br />

híbrida” com relação aos cânones urbanos, o caboclo<br />

busca desvendar os segre<strong>do</strong>s de seu mun<strong>do</strong>, recorren<strong>do</strong><br />

a mitos, lendas, plantas medici<strong>na</strong>is, rezadeiras,<br />

assim como ao trabalho, ao labor e ao lazer; onde o<br />

homem viveu e ainda vive, em algumas áreas de<br />

forma tradicio<strong>na</strong>l, alimentan<strong>do</strong>-se de pratos típicos,<br />

celebran<strong>do</strong> a vida <strong>na</strong>s festividades e danças origi<strong>na</strong>is,<br />

banhan<strong>do</strong>-se prazerosamente <strong>na</strong>s águas <strong>do</strong>s rios e das<br />

chuvas, curan<strong>do</strong>-se de suas <strong>do</strong>enças com as plantas e<br />

ervas das fl orestas (p. 20)<br />

Uma cultura que, frequentemente, não é valorizada e é até<br />

mesmo pouco estudada. O currículo das escolas ribeirinhas<br />

necessita contemplar elementos de compreensão dessa<br />

realidade por elas vivida. Trata-se de uma escola que tem suas<br />

diferenças, suas características, suas marcas, e que precisa ser<br />

respeitada enquanto escola que abriga um outro mo<strong>do</strong> de viver<br />

as relações pedagógicas e cujo currículo precisa voltar-se para<br />

suas necessidades cotidia<strong>na</strong>s.<br />

Souza (2006) enfatiza que a escola poderia<br />

[...] se fazer mais presente <strong>na</strong> vida <strong>do</strong> estudante<br />

ribeirinho, se ela estivesse voltada para compreender e<br />

a<strong>na</strong>lisar a realidade <strong>do</strong> estudante, procuran<strong>do</strong> valorizar<br />

o saber local associa<strong>do</strong> ao saber universal formal. Para<br />

que ela possa se integrar cada vez mais, é necessário<br />

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