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Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

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INFÂNCIA, LUDICIDADE E CRÍTICA SOCIAL NA TESSITURA POÉTICA DE JORGE DE LIMA<br />

da velha, rodar com o canoeiro e virar a sua canoa, fazer me<strong>do</strong><br />

as piabas, dentre tantas travessuras. “Só os meninos estão<br />

satisfeitos”, afi rma o poeta. A enchente é subjetivada com o<br />

desejo <strong>do</strong>s meninos, que em coro e repetidamente entoam: -<br />

“Deus permita que o rio encha mais!” / - “Deus permita que o<br />

rio encha mais!” (LIMA, 2007, p. 61).<br />

O poema que se inicia com um preâmbulo: um diálogo<br />

explicativo em que o poeta recorre a um si<strong>na</strong>l (gritos de<br />

jandaias e periquitos) que noticia a passagem de “uma cabeça<br />

de enchente” parece que vai avoluman<strong>do</strong>-se, deixan<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s<br />

os meninos satisfeitos já que “a professora fechará a escola!”<br />

Em “Noite de S. João” o poeta explora as sonoridades das<br />

letras “ch” e “x” para imitar o som <strong>do</strong>s fogos de artifício, que,<br />

aliás, são de muitos tipos (foguetes, bombas, chuvinhas). As<br />

onomatopeias “Chá-Bum!” e “Tchi-bum!” remetem a explosão<br />

fi <strong>na</strong>l <strong>do</strong>s fogos que, inicialmente produzem chia<strong>do</strong>s. O convitedesafi<br />

o que introduz o poema é feito por meio de uma pergunta:<br />

“Vamos ver quem é que sabe / soltar fogos de S. João?”<br />

O poeta-menino parece ter se distraí<strong>do</strong> com a meni<strong>na</strong> bonita que<br />

saltara a fogueira <strong>do</strong>s seus olhos emitin<strong>do</strong> uma fumaça de sonhos de<br />

encher os olhos <strong>do</strong> menino. Um fato inusita<strong>do</strong> rouba a ce<strong>na</strong>:<br />

Um tiro chocho chamusca<br />

o dedinho<br />

<strong>do</strong> Zezinho.<br />

Xi!<br />

(LIMA, 2004, p. 48)<br />

Todas as atenções foram voltadas para o pequeno Zezinho<br />

e as ações providenciais que vão da tentativa de distraí-lo,<br />

passan<strong>do</strong> por expressões de carinho e muito mimo até as ações<br />

de envolver o seu de<strong>do</strong> com um chumaço de água gelada e<br />

chupá-lo para que fi que bonzinho, “o dedinho queimadinho<br />

<strong>do</strong> Zezinho” vão culmi<strong>na</strong>r <strong>na</strong> reintrodução de Zezinho <strong>na</strong><br />

brincadeira típica da noite de São João:<br />

Vamos agora, Zezinho,<br />

ver quem sabe soltar fogos,<br />

foguetinhos de assobio,<br />

sem lágrimas meu coração?<br />

LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />

- Chuvinhas?<br />

- Chuvinhas!<br />

(LIMA, 2004, p. 49)<br />

Cabe destacar que o poeta assume vários eu-líricos no<br />

referi<strong>do</strong> poema. Adultos e crianças interagem e, a propósito,<br />

registra-se no poema em itálico: “O delega<strong>do</strong> proibiu bombas,<br />

foguetes, busca-pés.”<br />

Com relação à presença <strong>do</strong> lúdico <strong>na</strong> leitura desse poema,<br />

reafi rmamos que esta se realiza <strong>na</strong>s interfaces da esfera<br />

semântica com a esfera sonora.<br />

3.3. “Boneca de pano” e “Minha sombra”: outrora<br />

brinque<strong>do</strong> e brincadeira de crianças<br />

Brincar com a sombra, observan<strong>do</strong>-a e falan<strong>do</strong> com ela, eis<br />

a brincadeira que o poeta descreve: uma sombra que cresce,<br />

diminui, alonga-se; conforme as horas <strong>do</strong> dia e o olhar atento<br />

<strong>do</strong> menino que a tu<strong>do</strong> acompanha. Brincar de arremedar os<br />

gestos <strong>do</strong> menino em companhia <strong>do</strong> macaco e <strong>do</strong> papagaio<br />

(capaz de arremedar com palavras). Igualada aos animais, a<br />

sombra vivifi ca a imagem <strong>do</strong> poeta e o faz relembrar o menino<br />

fi can<strong>do</strong> <strong>do</strong> “tamaninho” que já tivera outrora.<br />

A sombra que acompanha o poeta desde a infância,<br />

mesmo sem saber ler e escrever, participara das primeiras<br />

elaborações <strong>do</strong>s seus poemas, ainda em fase de rascunho. As<br />

motivações que levam o eu-lírico a tê-la como companhia e/ou<br />

brinque<strong>do</strong> de desejo tem relação com a infância, a ludicidade, a<br />

cumplicidade, evidenciadas nos versos em que o poeta dirigese<br />

à sombra, expressan<strong>do</strong> a sua admiração. A propósito, seria a<br />

sombra o arquétipo da infância que acompanha o poeta, da qual<br />

não pretende se desvencilhar?! Vejamos os versos:<br />

Minha sombra eu só queria<br />

ter o humor que você tem,<br />

ter a sua meninice,<br />

ser igualzinho a você.<br />

E de noite quan<strong>do</strong> escrevo,<br />

fazer como você faz,<br />

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