28.06.2013 Views

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CORPOLIDO-ESCRITO: INTENSIFICAÇÕES DE SENTIDO NA TECELAGEM DE UMA LEITURA-ESCRITA<br />

a partir das composições que vamos viven<strong>do</strong>. Cada um<br />

destes esta<strong>do</strong>s constitui uma diferença que instaura<br />

uma abertura para a criação de um novo corpo, o que<br />

signifi ca que as marcas são sempre gênese de um devir<br />

(ROLNIK, 1993, § 5).<br />

A ofi ci<strong>na</strong> esquizodramática 4 (BAREMBLITT, 2008),<br />

“CORPOESCRITATECIDO: provocações de senti<strong>do</strong> entre<br />

leitura-escrita”, realizada em setembro de 2011, <strong>na</strong>s<br />

dependências <strong>do</strong> Instituto de Educação de Mi<strong>na</strong>s Gerais, por<br />

ocasião <strong>do</strong> III Congresso de Esquizoanálise e Esquizodrama:<br />

saúde mental e direitos humanos, em Belo Horizonte,<br />

é entendida como processo inventivo, desacostuma<strong>do</strong>r<br />

e problematiza<strong>do</strong>r de ações cotidia<strong>na</strong>s, comumente<br />

<strong>na</strong>turalizadas pelo hábito. Na experiência agora apresentada,<br />

a escrita e a leitura são postas em movimento pelo fazer<br />

manual da tecelagem. A ofi ci<strong>na</strong>, com participantes vin<strong>do</strong>s das<br />

áreas da Saúde, Ciências Sociais e Huma<strong>na</strong>s, funcio<strong>na</strong> como<br />

dispositivo promotor de mobilização da percepção, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong><br />

visíveis forças e formas. “Não se trata, aí, de mostrar a<br />

decomposição <strong>do</strong>s elementos, nem a transformação da forma,<br />

mas os efeitos das forças diversas sobre um mesmo corpo<br />

[...]” (PERBART, 2009, p. 93). As forças da leitura marcam<br />

o corpo? As marcas formam a escrita? O corpo lê? O corpo<br />

escreve? A leitura e a escrita se compõem com o fazer <strong>do</strong><br />

corpo? A ofi ci<strong>na</strong> de inspiração esquizoa<strong>na</strong>lítica 5 coloca em<br />

circulação estas questões, crian<strong>do</strong> condições para a reativação<br />

pelo fazer corporal <strong>do</strong> lúdico, <strong>do</strong> afetivo e <strong>do</strong> poético, nos<br />

gestos de escrileitura cotidianos e, assim, problematizar os<br />

territórios existenciais que se produzem através deles.<br />

Um corpoli<strong>do</strong>-escrito carrega, no senti<strong>do</strong> que Sueli Rolnik<br />

(1993) lhe atribui, as marcas de sua escrileitura. Marcas como<br />

LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />

diferença, desassossego, devir-outro, marcas invisíveis, menos<br />

óbvias <strong>do</strong> que as que percebemos <strong>na</strong> interação com o ambiente,<br />

uma textura ontológica “que vai se fazen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fl uxos que<br />

constituem nossa composição atual, conectan<strong>do</strong>-se com<br />

outros fl uxos, soman<strong>do</strong>-se e esboçan<strong>do</strong> outras composições.<br />

Tais composições, a partir de um certo limiar, geram em nós<br />

esta<strong>do</strong>s inéditos, inteiramente estranhos em relação àquilo de<br />

que é feita a consistência subjetiva de nossa atual fi gura” (§ 4).<br />

Um corpoli<strong>do</strong>-escrito é composto de várias mãos, vários pés,<br />

cabeças e troncos múltiplos que tecem, pensam, escrevem e<br />

leem coletivamente. Algo que, em uma perspectiva espinoza<strong>na</strong>,<br />

dita por Deleuze, acontece quan<strong>do</strong> “[...] um corpo ‘encontra’<br />

outro corpo, uma ideia, outra ideia, tanto acontece que as duas<br />

relações se compõem para formar um to<strong>do</strong> mais potente, quanto<br />

que decompõe o outro e destrói a coesão das suas <strong>parte</strong>s [...]”<br />

(DELEUZE, 2002, p. 25).<br />

Cada corpoli<strong>do</strong>-escrito carrega sua escrita-leitura e sua<br />

fazedura. Faz-se <strong>na</strong>/pela sua escrileitura de corpos-outros,<br />

múltiplos. O corpoli<strong>do</strong>-escrito é teci<strong>do</strong> que sofre a ação e é a<br />

própria ação. Tu<strong>do</strong> ao mesmo tempo, múltiplos uns, relação<br />

entre corpos, em um jogo de forças tecidas e formadas por<br />

corpos muitos. O corpoli<strong>do</strong>-escrito é meio, um local através<br />

<strong>do</strong> qual a experiência se dá. O corpoli<strong>do</strong>-escrito é a própria<br />

experiência. O corpoli<strong>do</strong>-escrito é um platô, um outro que se<br />

confi gura com corpo outro, corpo-outro-li<strong>do</strong>-escrito-teci<strong>do</strong>.<br />

Ce<strong>na</strong> primeira: leituras<br />

A sala preparada, fi os e papéis espalha<strong>do</strong>s sobre o tatame<br />

verde que forra o espaço. Vertigem. Como vamos fazer? Os<br />

participantes, chegan<strong>do</strong>, perguntam. Capturar e liberar as<br />

forças inéditas e vitais, que agem sob as formas: trabalhan<strong>do</strong><br />

4 - O esquizodrama foi desenvolvi<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> como base, principalmente, a esquizoanálise de Deleuze e Guattari, pelo psiquiatra Gregório F. Baremblitt, durante<br />

a década de 1970. Sua meto<strong>do</strong>logia procura proporcio<strong>na</strong>r um espaço-tempo outro, onde os participantes <strong>do</strong> laboratório podem ampliar sua experiência <strong>do</strong><br />

real, fazen<strong>do</strong> conexões, reven<strong>do</strong> aquilo que já percebem ou aproprian<strong>do</strong>-se de outras dimensões, ainda não tão instituídas ou identifi cadas, colaboran<strong>do</strong> para a<br />

articulação de novos mo<strong>do</strong>s de subjetivação.<br />

5 - A esquizoanálise pode ser considerada uma abordagem <strong>do</strong> real por toda a sua superfície, onde a produção, o desejo e o registro são imanentes e produzem<br />

realidades. Nesta perspectiva, o ser humano é um conjunto de forças dinâmicas, heterogêneas e o mun<strong>do</strong>, em sua riqueza e complexidade é “cristal proliferante<br />

de trajetórias imprevisíveis” (ZOURABICHVILI, 2010, § 15).<br />

2844

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!