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Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

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REFLEXÕES SOBRE A PÁTRIA, SOBRE OS PAIS: UMA LEITURA DA CINEMATOGRAFIA BRASILEIRA RECENTE<br />

a utilizar como o recorte de classifi cação identitária e social,<br />

não mais é sufi ciente para esse momento da pós-modernidade.<br />

Como sujeitos nos vemos em um momento de instabilidade, de<br />

deslocamento e descentralidade.<br />

O corpus proposto para esse trabalho trata de um<br />

momento de instabilidade, a a<strong>do</strong>lescência, turbi<strong>na</strong>da pela pósmodernidade.<br />

Nos fi lmes selecio<strong>na</strong><strong>do</strong>s buscamos semelhanças<br />

com este momento de crise, relacio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-os com a crise que<br />

vive os Esta<strong>do</strong>s-Nações; logo, a sua população. Escolhemos<br />

a linguagem cinematográfi ca como o start de nosso texto,<br />

por considerá-la um artefato cultural e como tal um produtor<br />

de signifi ca<strong>do</strong>s, um defi ni<strong>do</strong>r de identidade, um campo de<br />

signifi cação <strong>na</strong> contemporaneidade e <strong>na</strong> globalização.<br />

3. Antes que acabem com as coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

“O cinema é a arte de olhar pela câmera, crian<strong>do</strong>, por<br />

meio da ligação com o cenário, uma refl exão sobre o<br />

homem no mun<strong>do</strong>.”<br />

Luiz Carlos Merten<br />

O cinema, como outras artes, promove a possibilidade de<br />

conhecermos o processo contemporâneo que nos atravessa, através<br />

de histórias e momentos comuns que se esboçam, permitin<strong>do</strong><br />

conhecer e refl etir sobre a relação <strong>do</strong> país e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com a história<br />

e com as identidades que se formam <strong>na</strong> contemporaneidade.<br />

Em As Melhores Coisas <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> (2010), de Lais Bodanzky,<br />

e Antes que o Mun<strong>do</strong> Acabe (2009), de A<strong>na</strong> Luiza Azeve<strong>do</strong>,<br />

temos a oportunidade de observar o cinema brasileiro falan<strong>do</strong><br />

sobre o universo a<strong>do</strong>lescente, algo não usual, descobrin<strong>do</strong> a<br />

necessidade de falar sobre e com esse mun<strong>do</strong> tão particular que é<br />

a a<strong>do</strong>lescência, um lugar aparentemente i<strong>na</strong>cessível aos adultos;<br />

perío<strong>do</strong> entre a infância e a maturidade, de transformações<br />

rápidas e momentâneas, como a globalização. Leri<strong>na</strong> (2010, p.<br />

63-4), observa as difi culdades que o cinema tem em incorporar<br />

as transformações juvenis.<br />

Extremamente identifi ca<strong>do</strong>s com um universo de<br />

referências culturais volátil, em esta<strong>do</strong> de permanente<br />

LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />

e veloz modifi cação, os jovens facilmente podem<br />

aparecer desfoca<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> retrata<strong>do</strong>s pelo nosso<br />

cinema – cujo esquema de produção demanda pelo<br />

menos três a quatro anos entre a concepção e a exibição<br />

de um fi lme. Não é ape<strong>na</strong>s o rosto desses protagonistas<br />

que muda: tu<strong>do</strong> o que o fi lme pretendia registrar (o<br />

comportamento, os valores, os gostos estéticos) pode ser<br />

altera<strong>do</strong> sensivelmente durante o processo de produção<br />

da obra, impedin<strong>do</strong> mesmo que os especta<strong>do</strong>res se<br />

identifi quem com os jovens perso<strong>na</strong>gens <strong>na</strong> tela.<br />

As Melhores Coisas <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> é um fi lme que abarca um<br />

pouco de tu<strong>do</strong> sobre as múltiplas identidades <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />

pós-moderno: drogas, sexualidades, amor, fetiche midiático,<br />

ética. Mano (Francisco Miguez) tem de enfrentar os problemas<br />

decorrentes da separação <strong>do</strong>s pais, com um componente a mais:<br />

uma relação homossexual, em que o pai aban<strong>do</strong><strong>na</strong> a família<br />

para viver com o <strong>na</strong>mora<strong>do</strong>; como também as difi culdades <strong>do</strong><br />

ambiente escolar, a depressão <strong>do</strong> irmão, a perda da virgindade,<br />

a busca de um amor estável numa sociedade instável.<br />

Antes que o Mun<strong>do</strong> Acabe, conta a história de Daniel (Pedro<br />

Tergoli<strong>na</strong>) que se defronta com o reaparecimento, por cartas,<br />

<strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong> pai biológico, um fotógrafo que viaja pelo<br />

mun<strong>do</strong> procuran<strong>do</strong> retratar os mais diferentes povos. Além da<br />

fi gura pater<strong>na</strong>, há outros problemas comuns a outros milhares<br />

de a<strong>do</strong>lescentes: as dúvidas sobre o futuro, o fi m <strong>do</strong> primeiro<br />

amor, os hormônios em ebulição, a incompreensão <strong>do</strong>s seus<br />

sentimentos pelos demais.<br />

Nesses fi lmes, estão presentes os problemas essenciais <strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente, um mixto de angústias, incertezas, insegurança<br />

e sofrimento - o primeiro amor, o núcleo familiar em crise, o<br />

descontentamento como o mun<strong>do</strong> – midiatiza<strong>do</strong>s pelos novos<br />

instrumentos que os jovens têm a sua disposição: de celulares a<br />

redes sociais turbi<strong>na</strong>das pela internet.<br />

A fi gura <strong>do</strong> pai é emblemática nesses <strong>do</strong>is fi lmes, pois é<br />

o momento de transição/subjetivação da a<strong>do</strong>lescência para as<br />

perso<strong>na</strong>gens em que a ausência (o pai que se separa da mãe para<br />

viver um novo relacio<strong>na</strong>mento; o pai que nunca conheceu o<br />

fi lho e, por cartas, procura reativar esse contato) e/ou a presença<br />

(as perso<strong>na</strong>gens substitutas <strong>do</strong> pai biológico, pais a<strong>do</strong>tivos, que<br />

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