Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
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INTERCULTARILIDADE E FORMAÇÃO DOCENTE: AS VOZES DO COTIDIANO DE UMA ESCOLA RIBEIRINHA NO AMAZONAS<br />
a maior sujeira dentro da escola e ele disse: - ei, o<br />
colégio tá feito onde é a casa <strong>do</strong>s animais; aí é o lugar<br />
deles. Tem os porcos aí em baixo, o ga<strong>do</strong>, não tem nem<br />
onde as crianças brincarem direito, nem construir a<br />
nossa horta escolar. (Professora Jéssica)<br />
Construir alter<strong>na</strong>tivas para o trabalho pedagógico volta<strong>do</strong><br />
para o multiculturalismo/interculturalismo vai se tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>,<br />
pois, um desafi o diário <strong>do</strong>s professores e da escola como<br />
um to<strong>do</strong> para que se possam abrir novos caminhos, onde<br />
aprender com o outro signifi que aprender com a diversidade,<br />
com o diferente, projetan<strong>do</strong> no horizonte novas perspectivas<br />
de se fazer educação. Uma educação que consolide a<br />
construção de uma escola cidadã, aqui concebida, de acor<strong>do</strong><br />
com Paulo Freire, cita<strong>do</strong> por Ga<strong>do</strong>tti e Romão (2001) no<br />
livro “Autonomia da escola: princípios e propostas”, como<br />
sen<strong>do</strong><br />
[...] aquela que se assume como um centro de direitos<br />
e deveres. O que a caracteriza é a formação para a<br />
cidadania. A Escola Cidadã, então, é aquela que<br />
viabiliza a cidadania de quem está nela e de quem<br />
vem a ela. Ela não pode ser uma escola cidadã em<br />
si para si. Ela é cidadã <strong>na</strong> medida mesma em que se<br />
exercita <strong>na</strong> construção da cidadania de quem usa o seu<br />
espaço. A Escola Cidadã é uma escola coerente com<br />
a liberdade. E coerente com seu discurso forma<strong>do</strong>r<br />
e educa<strong>do</strong>r. É toda escola que, brigan<strong>do</strong> para ser ela<br />
mesma, luta para que os educan<strong>do</strong>s e educa<strong>do</strong>res<br />
também sejam eles mesmos. E como ninguém pode<br />
ser só, a Escola Cidadã é uma escola de comunidade,<br />
de companheirismo. É uma escola de produção<br />
comum <strong>do</strong> saber e da liberdade. É uma escola que vive<br />
a experiência tensa da democracia.<br />
Fazer educação voltada para uma prática que refl ita sobre<br />
os aspectos excludentes da sociedade signifi ca “promover uma<br />
educação intercultural em perspectiva crítica e emancipatória,<br />
que respeite e promova os direitos humanos e articule questões<br />
relativas à igualdade e à diferença” (CANEN; OLIVEIRA,<br />
2002, p. 63) Nesse fazer, as autoras enfatizam que a educação<br />
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />
multicultural e, diríamos nós, intercultural, apresenta uma<br />
dupla dimensão:<br />
[...] de um la<strong>do</strong>, a necessidade de promovermos a<br />
equidade educacio<strong>na</strong>l, valorizan<strong>do</strong> as culturas <strong>do</strong>s<br />
alunos e colaboran<strong>do</strong> para a superação <strong>do</strong> fracasso<br />
escolar. Por outro, a quebra de preconceitos contra<br />
aqueles percebi<strong>do</strong>s como “diferentes”, de mo<strong>do</strong> que<br />
se formem futuras gerações nos valores de respeito<br />
a apreciação à pluralidade cultural, e de desafi o a<br />
discursos preconceituosos que constroem as diferenças<br />
(p.63).<br />
Na construção de uma educação guiada pela perspectiva da<br />
interculturalidade, alguns cuida<strong>do</strong>s devem ser toma<strong>do</strong>s, para<br />
que esta não se torne ape<strong>na</strong>s mais um modismo, um clichê. É o<br />
que nos adverte Candau (2007), ao esclarecer que<br />
A educação intercultural não pode ser reduzida a<br />
algumas situações e/ou atividades realizadas em<br />
momentos específi cos ou por determi<strong>na</strong>das áreas<br />
curriculares, nem focalizar sua atenção exclusivamente<br />
em determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s grupos sociais. Trata-se de um<br />
enfoque global que deve afetar a cultura escolar e a<br />
cultura da escola como um to<strong>do</strong>, a to<strong>do</strong>s os atores e a<br />
todas as dimensões <strong>do</strong> processo educativo, assim como<br />
a cada uma das escolas e ao sistema de ensino como um<br />
to<strong>do</strong>; (p.59).<br />
Consolidar dentro da escola uma ação que valorize e respeite<br />
o outro em sua diferença (e aqui destacamos a diferença cultural)<br />
é um grande desafi o, <strong>na</strong> medida em que tal perspectiva assume<br />
postura contrária aos interesses daqueles que procuram fazer<br />
da escola o lugar da “ordem e <strong>do</strong> progresso” e da manutenção<br />
de uma aparente normalidade. É neste senti<strong>do</strong> que somos<br />
desafi a<strong>do</strong>s a desvendar esses discursos, contrarian<strong>do</strong> posições<br />
que tentam deslocar o foco das discussões, atribuin<strong>do</strong> ao outro<br />
a culpa de seu fracasso.<br />
São muitos os caminhos <strong>na</strong> luta pela melhoria de condições<br />
das escolas públicas e, consequentemente, pela melhoria das<br />
práticas que as permeiam, porém, não podemos perder de<br />
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