Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

O PAPEL DA EXPERIÊNCIA NO ENSINO EM EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DO MÉTODO...
Nasceu assim, sob sua coordenação, o Programa
Nacional de Alfabetização, que pelo “Método Paulo
Freire” tencionava alfabetizar, politizando, 5 milhões
de adultos. Estes poderiam, pela lei vigente da época,
fazer parte, em um futuro próximo, do ainda restrito
colégio eleitoral brasileiro do início dos anos 60.
Tinham votado na recente eleição presidencial, na qual
saíram vencedores o senhor Jânio da Silva Quadros
e João Goulart, apenas pouco mais de 11 milhões e
seiscentos mil eleitores. (FREIRE, 1996, p. 41)
Nesses termos discutia-se, na década de 60, a necessidade
de alfabetização de pessoas adultas, tema que, até os anos 40,
pouca atenção recebera. Somente com a regulamentação do
Fundo Nacional do Ensino primário em 1945, vinte e cinco
por cento dos recursos obtidos deveriam ser destinados para
o Ensino Supletivo de adolescentes e adultos analfabetos, de
acordo com Haddad (2000). Além disso, ressalta o autor, o
Serviço de Educação de Adultos (SEA), em 1947, impulsionou
discussões e avanços no que se referia ao analfabetismo entre
adultos. A década de 60, dessa forma, representa o marco que
considero importante na questão da alfabetização de pessoas
adultas, visto que a Pedagogia de Paulo Freire deu início a
programas de alfabetização com objetivos para além da leitura
e escrita, com base na educação libertadora/humanizadora,
considerando o homem como sujeito histórico que é oprimido
em sua existência.
O empenho de Paulo Freire na alfabetização de adultos
resultou em seu exílio em 1964, apenas um ano após a
implementação do Método Paulo Freire no Brasil, visto que,
“Por duas vezes, em Recife, Paulo Freire foi obrigado a
responder a inquérito policial-militar. Sentindo-se ameaçado,
asilou-se na embaixada da Bolívia e partiu para aquele país em
setembro de 1964, com apenas 43 anos de idade [...]” (FREIRE,
1996, p. 42).
A atuação de Freire na educação de adultos está ligada
a um momento histórico e social em que a alfabetização da
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012
classe trabalhadora se mostrava emergencial. Mais ainda:
era necessário que os educandos – em sua maioria homens –
lessem sua realidade com consciência de classe. E, segundo
os princípios da Pedagogia da Libertação, desenvolver nos
educandos a conscientização, a leitura crítica da realidade e da
historicidade humana.
Esses elementos são ressaltados em Educação como prática
da liberdade, a primeira grande obre de Freire. De acordo com
Gadotti (1996), esse livro resulta da tese de concurso de Paulo
Freire, intitulada Educação e atualidade brasileira, de 1959.
Para complementação das discussões desta parte do texto,
o segundo material analisado, intitulado A experiência de
ANGICOS, do Setor de Alfabetização de Adultos, representa
a materialização do método a partir dos apontamentos de
Carlos Lyra, um dos coordenadores do Programa de Angicos.
O documento data de março de 1963 2 .
Educação como prática da liberdade foi publicado
em 1965, durante o exílio de Freire no Chile, e editado no
Brasil em 1967. Tornou-se importante por apresentar a visão
pedagógica dos pressupostos freireanos e o seu método de
ensino. O livro é dividido em quatro capítulos, que expressam
a visão pedagógica de Freire em relação à educação e à
emancipação, sendo o quarto capítulo uma explicitação do
Método Paulo Freire.e aborda das questões que envolvem
a consciência através da educação. Nesse capítulo, Freire
escreve sobre o projeto de Educação de Adultos que lançou
o Círculo de Cultura e o Centro de Cultura para debates em
grupo tendo como base problematizações. No sexto mês de
funcionamento, Freire se questionou se seria possível um
método ativo com resultados iguais para a alfabetização
de adultos. Partindo desse questionamento, a primeira
experiência foi realizada com cinco adultos analfabetos no
Recife, da qual dois desistiram porque, de acordo com Freire,
apresentavam apatia diante dos problemas. A questão com
base na experiência residia em qual modo seria adequado para
alfabetizar um adulto e inseri-lo na escrita. A busca se deu por
2 - Carlos Lyra participou do programa de Angicos e anotou, em diário, o cotidiano das aulas com base no Método Paulo Freire. Seus registros foram publicados
pela editora Cortez (LYRA, 1996). O que apresentamos são os originais datilografados.
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