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Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

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REFLEXÕES SOBRE A PÁTRIA, SOBRE OS PAIS: UMA LEITURA DA CINEMATOGRAFIA BRASILEIRA RECENTE<br />

1. Introdução<br />

Este texto pretende apresentar algumas leituras e refl exões<br />

sobre a contemporaneidade, particularmente sobre o processo de<br />

globalização, a partir de uma comparação proposta por Avellar<br />

(2007) no texto Pai, país, mãe, pátria, em que a ausência da<br />

fi gura pater<strong>na</strong> em alguns fi lmes por ele a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s 2 e a ausência <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> como prove<strong>do</strong>r <strong>do</strong> bem estar social. Essa análise avançará<br />

um pouco mais no tempo e utilizará <strong>do</strong>is fi lmes – As Melhores<br />

Coisas <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> e Antes que o Mun<strong>do</strong> Acabe, respectivamente<br />

dirigi<strong>do</strong>s por Lais Bodanzky e A<strong>na</strong> Luiza Azeve<strong>do</strong>, duas mulheres.<br />

Ambos tratam <strong>do</strong> universo a<strong>do</strong>lescente, que além das crises e<br />

dúvidas habituais à idade, têm em comum a ausência da fi gura<br />

pater<strong>na</strong> nesse momento crucial que é a<strong>do</strong>lescência.<br />

O desenvolvimento desse texto se dará: a) nos estu<strong>do</strong>s<br />

culturais da contemporaneidade, visto que o momento histórico<br />

da globalização atua sobre o indivíduo, alteran<strong>do</strong> as relações<br />

dele para com a sociedade e si próprio, deslocan<strong>do</strong> os eixos<br />

de sustentabilidade da sociedade moder<strong>na</strong>; b) pela relação<br />

entre pai e Esta<strong>do</strong> através <strong>do</strong>s conceitos da globalização e <strong>do</strong><br />

neoliberalismo, que se afasta e reduz cada vez mais o ideal<br />

de bem estar social proposto <strong>na</strong> modernidade, bem como a<br />

fl exibilização das antigas fronteiras territoriais, interferin<strong>do</strong> no<br />

mo<strong>do</strong> de vida e interesses da população local.<br />

Para atingir nosso objetivo, constituiremos como corpus os<br />

fi lmes As Melhores Coisas <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> (2010), de Lais Bodanzky e<br />

Antes que o Mun<strong>do</strong> Acabe (2009), de A<strong>na</strong> Luiza Azeve<strong>do</strong>. O texto<br />

se organizará em três <strong>parte</strong>s: Da tela para a realidade que apresenta<br />

breve consideração sobre os textos que darão suporte a este artigo;<br />

Antes que acabem com as coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, que apresenta os fi lmes<br />

e se procura interpretar as relações entre a família (particularmente<br />

o pai) e o Esta<strong>do</strong>; e as Considerações fi <strong>na</strong>is.<br />

2. Da tela para a realidade<br />

A novidade no cinema reside <strong>na</strong> ilusão; ver algo <strong>na</strong> tela<br />

que sabemos de antemão não corresponder à realidade, mas<br />

LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />

tomá-lo como verdadeiro, real. Temos a impressão de que a<br />

vida acontece a nossa frente, como se fosse nossa a história a<br />

ser contada, assim “no cinema, fantasia ou não, a realidade se<br />

impõe com toda força” (BERNADET, 1983, p. 13).<br />

Ao aceitarmos a ilusão como algo real, um momento da vida<br />

congela<strong>do</strong> e, que através de um mecanismo luminoso, ganha<br />

movimento novamente, podemos, através <strong>do</strong> cinema, reinterpretar<br />

a História e as repercussões sociais, culturais, econômicas e<br />

políticas contadas através de imagens e sons. Assim, através<br />

<strong>do</strong> cinema podemos tomar contato com diferentes aspectos e<br />

possibilidades sobre a humanidade, bem como produzir diferentes<br />

olhares sobre um fi lme. Logo em um fi lme de a<strong>do</strong>lescentes em<br />

crise com a família e com o mun<strong>do</strong>, podemos ver também as<br />

relações que constituem a sociedade, o governo, o país.<br />

O cinema, <strong>na</strong>sci<strong>do</strong> em uma sociedade que propôs transformar<br />

os meios de produção, as relações de trabalho e a vida, hoje arte<br />

para entreter e/ou refl etir, busca através de seus olhos mecânicos<br />

capturar retratos de um mun<strong>do</strong> diferente àquele que o criou. Um<br />

mun<strong>do</strong> em que a organização das relações sociais, econômicas,<br />

políticas e culturais até então estabilizadas <strong>na</strong> modernidade (pai<br />

<strong>do</strong> maquinismo cinematográfi co), vêm-se modifi cadas pela<br />

globalização. Agora, <strong>na</strong> contemporaneidade, o mun<strong>do</strong> se pôs em<br />

um movimento ininterrupto, fragmentan<strong>do</strong> e descentran<strong>do</strong> antigas<br />

verdades estabelecidas outrora. Essa mobilidade, introdutora de<br />

um novo paradigma, colocou em xeque as singularidades que<br />

anteriormente constituíam/construíam nossas identidades. Nessa<br />

nova organização, o tempo real se liquefaz nos processos de<br />

comunicação, tu<strong>do</strong> se tor<strong>na</strong> próximo, mas não acolhe<strong>do</strong>r; limites<br />

territoriais vão sen<strong>do</strong> transpostos por aqueles que tenham acesso<br />

aos meios e à produção de informação. Alicerces e fundações,<br />

muito antes construídas e símbolos de uma eternidade, jazem sob<br />

a fl uidez das águas <strong>do</strong>s oceanos.<br />

Nesse mun<strong>do</strong> movediço e veloz, os sujeitos se encontram<br />

em crise de identidade, pois se identifi car nesse momento<br />

de transformação, reconhecer-se dentro de classe, gênero,<br />

sexualidade, etnia, raça e <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidade, que nos acostumamos<br />

2 - Esses fi lmes representam um momento particular no cinema brasileiro, conheci<strong>do</strong> como “retomada”, com o retorno da participação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> através de leis de<br />

incentivo e verbas desti<strong>na</strong>das à produção cinematográfi ca, após o desmonte das estruturas de fi <strong>na</strong>nciamento, produção e exibição promovida pelo governo Collor.<br />

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