Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O LUGAR DA LITERATURA JUVENIL: ENTRE A INDÚSTRIA CULTURAL E OS PROBLEMAS DE GÊNERO E MODO<br />
nessa escala, provavelmente não teve paralelo desde<br />
a era romântica <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XIX: o herói cuja<br />
vida e juventude acabavam juntas. [...] O surgimento <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente como ator consciente de si mesmo era cada vez<br />
mais reconheci<strong>do</strong>, entusiasticamente, pelos fabricantes de<br />
bens de consumo, às vezes com menos boa vontade pelos<br />
mais velhos, à medida que viam expandir-se o espaço entre<br />
os que estavam dispostos a aceitar o rótulo de “criança” e os<br />
que insistiam no de “adulto” (HOBSBAWM, 1995, p. 318).<br />
Desse mo<strong>do</strong>, a juventude não era mais vista como um estágio<br />
preparatório para a vida adulta; a “cultura juvenil” tornouse<br />
<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte “<strong>na</strong>s economias de merca<strong>do</strong> desenvolvidas”; a<br />
juventude se inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lizou, rompen<strong>do</strong> barreiras e deixan<strong>do</strong><br />
mais evidente o abismo entre as gerações. Segun<strong>do</strong> Hobsbawm<br />
(1995, p. 323), “a cultura jovem tornou-se a matriz da revolução<br />
cultural no senti<strong>do</strong> mais amplo de uma revolução nos mo<strong>do</strong>s e<br />
costumes, nos meios de gozar o lazer e <strong>na</strong>s artes comerciais,<br />
que formavam cada vez mais a atmosfera urba<strong>na</strong>”.<br />
Nesses novos tempos, seja qual for o nível ou a classe social,<br />
a juventude busca ressignifi car objetos e signos para formarem<br />
grupos, mais ou menos, homogêneos, como forma de se localizar<br />
em uma determi<strong>na</strong>da sociedade. Para Groppo (2000, p. 19),<br />
a multiplicidade das juventudes não se funda num<br />
vazio social ou num <strong>na</strong>da cultural, não emerge de uma<br />
realidade meramente diversa, ininteligível e esvaecida.<br />
Tem como base experiências sócio-culturais anteriores<br />
[...], projetos e ações que fazem <strong>parte</strong> <strong>do</strong> processo<br />
civiliza<strong>do</strong>r da modernidade.<br />
Essa juventude no plural dá-se, essencialmente, porque houve<br />
um desenvolvimento de grupos juvenis, ao longo da formação <strong>do</strong><br />
conceito de juventude, que possibilitaram não só o reconhecimento<br />
da juventude como tal, mas também um crescimento <strong>do</strong>s espaços<br />
de lazer, da cultura <strong>do</strong> consumo e da indústria cultural <strong>do</strong> século<br />
XX. “Os processos sócio-culturais de constituição dessas esferas<br />
cruciais <strong>na</strong> sociedade contemporânea se iniciaram juntamente com<br />
a multiplicação <strong>do</strong>s grupos juvenis informais, ou seja, <strong>na</strong> passagem<br />
<strong>do</strong> século XIX ao XX” (GROPPO, 2000, p. 52).<br />
Desse mo<strong>do</strong>,<br />
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />
a juventude é construída, <strong>do</strong> século XIX ao início<br />
<strong>do</strong> século XX, através de instituições preocupadas<br />
com a proteção <strong>do</strong>s indivíduos ainda não maduros<br />
e diagnostica<strong>do</strong>s em suas fragilidades, ou através<br />
das instituições interessadas <strong>na</strong> potencialização das<br />
capacidades desses indivíduos, entre as quais, as<br />
instituições escolares, as ciências moder<strong>na</strong>s, o direito,<br />
o Esta<strong>do</strong> e o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho industrial (GROPPO,<br />
2000, p. 77).<br />
A simples percepção da existência da juventude parece ter<br />
feito o sucesso de setores da indústria cultural, onde se encontra<br />
a indústria de livros juvenis. No século XX, a indústria cultural<br />
encontrou no juvenil temas atraentes a este novo público<br />
consumi<strong>do</strong>r, detentor de um estilo de vida próprio. De certo<br />
mo<strong>do</strong>, a sociedade como um to<strong>do</strong> se “juvenilizou”, queren<strong>do</strong> a<br />
vitalidade <strong>do</strong> jovem por toda a vida, representada <strong>na</strong>s roupas,<br />
cosméticos, produtos, esportes, etc.<br />
Obiols (2006), também discute o conceito de juventude e a<br />
sua relação com os momentos históricos pelos quais a sociedade<br />
moder<strong>na</strong> passou e pelo qual estamos passan<strong>do</strong>.<br />
Segun<strong>do</strong> ela, a partir da segunda metade <strong>do</strong> século XX,<br />
o homem perdeu poder e autoridade, dan<strong>do</strong> margem para o<br />
surgimento <strong>do</strong> que a autora chama de “cultura a<strong>do</strong>lescente”,<br />
em oposição à cultura adulta. Dessa forma,<br />
para a cultura a<strong>do</strong>lescente, os jovens passaram a ser os<br />
deuses, os modelos de si mesmos e, progressivamente,<br />
da sociedade em seu conjunto. O merca<strong>do</strong> os descobriu<br />
e produziu para eles. Se, até então, tinham si<strong>do</strong> vesti<strong>do</strong>s<br />
como adultos em peque<strong>na</strong> escala, agora tinham os<br />
jeans, jaquetas e tênis que os identifi cavam. Se antes<br />
haviam si<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>samente educa<strong>do</strong>s como meninos<br />
ou meni<strong>na</strong>s, agora avançariam até o estilo “unissex”. Se<br />
haviam cresci<strong>do</strong> em um sistema fortemente verticalista,<br />
proporiam a horizontalidade. Horizontalidade que<br />
estaria em tu<strong>do</strong>: o mo<strong>do</strong> de relacio<strong>na</strong>r-se de igual a<br />
igual, sem importar a idade nem outras características<br />
<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s; a linguagem, que aban<strong>do</strong><strong>na</strong>ria as<br />
2827