28.06.2013 Views

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E SEUS ATRAVESSAMENTOS POLÍTICOS<br />

constitui motivo sufi ciente para que ocorra a escrita, assim<br />

como ler ape<strong>na</strong>s por obrigação não motiva o aluno a encontrar<br />

<strong>na</strong> leitura uma atividade signifi cativa.<br />

Escrita que fl ui: “se tivermos resolvi<strong>do</strong> o que temos a<br />

dizer, para quem dizer, razões para dizer, então estaremos em<br />

condições de escolher estratégias de dizer, porque elas dependem<br />

de nosso assunto, de nossas razões, de nossos interlocutores”<br />

(Ibidem, p. 98). Leitura que acontece se proposta de maneira<br />

signifi cativa, apoiada em certos objetivos, motivações: ler para<br />

manter contato com alguém, para encontrar informações, ler<br />

por prazer, para deleitar-se com a leitura. Se fora da escola<br />

lemos por estes motivos, por que dentro da escola tem que ser<br />

diferente?<br />

Ler e escrever, ação que precede a refl exão, mas não<br />

prescinde <strong>do</strong> pensar sobre a língua, <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> das regras da<br />

gramática normativa, posto que não se trata de negar aos alunos<br />

o conhecimento das normas que regem a variante de prestígio<br />

social.<br />

Diário de uma professora, 24 de fevereiro de 2011<br />

Hoje a primeira aula da tarde foi com a 7ª série. Levei<br />

a última produção deles corrigida. (...)<br />

Depois que eles observaram as correções, expliquei<br />

o uso da vírgula. Para não fi car um amontoa<strong>do</strong> de<br />

regras sem senti<strong>do</strong>, pedi para que eles a<strong>na</strong>lisassem o<br />

uso da vírgula em seus textos e tentassem descobrir as<br />

regras. Eles conseguiram identifi car a maioria delas:<br />

depois <strong>do</strong> nome da cidade <strong>na</strong>s datas, com o vocativo,<br />

expressão de lugar e tempo, enumeração. (...)<br />

Quase que uma profi ssão de fé: defender o ensino da língua<br />

como ensino da leitura e escrita, produção e compreensão de<br />

textos, posto que a língua não surge por aí em palavras ou<br />

frases soltas sem senti<strong>do</strong> e sim materializada textualmente/<br />

discursivamente, nos seus mais diversos gêneros:<br />

Aprender a falar [e a escrever] signifi ca aprender a<br />

construir enuncia<strong>do</strong>s (porque falamos por enuncia<strong>do</strong>s<br />

e não por orações isoladas e, evidentemente, não por<br />

palavras isoladas). Os gêneros <strong>do</strong> discurso organizam<br />

LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />

nosso discurso quase da mesma forma que organizam<br />

as formas gramaticais (sintáticas). Nós aprendemos<br />

a moldar o nosso discurso em formas de gênero e,<br />

quan<strong>do</strong> ouvimos o discurso alheio, já adivinhamos o<br />

seu gênero pelas primeiras palavras (...) (BAKHTIN,<br />

2006, p. 283).<br />

Língua, forma de interação social. O que signifi ca<br />

defender o ensino da língua mater<strong>na</strong> dessa perspectiva?<br />

Caminhos possíveis: fazer da sala de aula um espaço de<br />

intercâmbio social, de trocas entre os alunos, sujeitos, sim,<br />

constituí<strong>do</strong>s, imersos <strong>na</strong> linguagem. Usar a língua em sala de<br />

aula, oral e escrita. Não ape<strong>na</strong>s escutar o professor e falar o que<br />

se espera, teatro onde só se ence<strong>na</strong> a mesma peça, discursos<br />

vazios. Falar, discutir, se posicio<strong>na</strong>r, de preferência de maneira<br />

nunca antes colocada em ce<strong>na</strong>. Escrever como quem brinca<br />

com “bola, papagaio e peão” (PAES, 2001).<br />

Diário de uma professora, 17 de setembro de 2011<br />

A aula com a 7ª série foi maravilhosa! Fizemos um<br />

agradável trabalho em grupo. A montagem <strong>do</strong>s grupos<br />

foi diferente. Estamos fazen<strong>do</strong> uma matéria [sobre o<br />

tema da a<strong>do</strong>lescência, que sairá <strong>na</strong> <strong>revista</strong> da escola]<br />

e eles já tinham, cada um, escrito um texto. Então,<br />

de acor<strong>do</strong> com o subtema que cada um escreveu,<br />

montamos os grupos. Isso misturou bastante a sala e<br />

foi bom. (...)<br />

Percebi um trabalho coletivo bem agradável e a<br />

impressio<strong>na</strong>nte desenvoltura para escrever. Não estou<br />

dizen<strong>do</strong> de uma escrita sem desvios ortográfi cos,<br />

gramaticais, mas de uma escrita coerente. Cada um<br />

escreveu um texto enorme, com refl exões interessantes,<br />

sem bloqueios. A escrita não é vista por eles como algo<br />

distante, estranho. Faz <strong>parte</strong> da vida deles. As folhas<br />

enfeitadas para escrever...si<strong>na</strong>is...<br />

Que os alunos entendam, sim, o “signifi ca<strong>do</strong> social” da<br />

escrita, que aprendam a lidar com a norma-padrão e suas regras<br />

e exceções, mas que antes se entendam como produtores de<br />

signifi ca<strong>do</strong>s/senti<strong>do</strong>s <strong>na</strong> e pela língua, sujeitos escritores/<br />

produtores de língua. Não simplesmente “letrar-se” para ler<br />

2917

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!