Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
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O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E SEUS ATRAVESSAMENTOS POLÍTICOS<br />
o que se escreve <strong>na</strong> “cidade das letras”, onde prevalecem os<br />
discursos de quem tem o poder e legitimidade para escrever,<br />
mas antes “alfabetizar-se” para “produzir” letras, discursos,<br />
fazer falar a “não-língua”, a língua-calada, as histórias-nãocontadas,<br />
as opiniões-não-circuladas:<br />
A cidade das letras, tal como entre nós tem existi<strong>do</strong>,<br />
tem produzi<strong>do</strong> sujeitos da ‘não-língua’ mais <strong>do</strong> que<br />
sujeitos prontos a dizerem a sua história, uma outra<br />
história. Sempre é possível, no entanto, encontrar nesta<br />
mesma cidade, usan<strong>do</strong> também a escrita, aqueles que<br />
se contrapõem à cidade das letras para construir uma<br />
cidade outra, de outras vozes. Penso que a aposta das<br />
alfabetizações cotidia<strong>na</strong>s reside precisamente nisto:<br />
não o ‘letrar-se’ para pertencer à sociedade letrada<br />
nos níveis que esta prevê para cada segmento social,<br />
mas o alfabetizar-se para recuperar <strong>na</strong> ‘não-língua’ os<br />
silêncios, para soltá-los com nós <strong>na</strong>s gargantas, apesar<br />
<strong>do</strong>s infortúnios impostos pelo pensamento globaliza<strong>do</strong>,<br />
este que se pensa único e tem si<strong>do</strong> capaz de nos roubar<br />
qualquer sonho! (GERALDI, 2006, p.69).<br />
Ainda que as convicções sejam confi rmadas no diálogo com<br />
outros autores (da academia ou da escola), <strong>na</strong> interação com os<br />
alunos, nos saberes produzi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> e a partir da experiência, a<br />
dúvida e a insegurança insistem e resistem, toman<strong>do</strong> o lugar<br />
da quase certeza de que este (o da leitura e escrita, o <strong>do</strong> uso da<br />
língua) é o caminho:<br />
Diário de uma professora, 01 de agosto de 2011<br />
O fato é que eu não mudei signifi cativamente a minha<br />
prática e, <strong>na</strong> verdade, ainda não sei quais práticas<br />
devo mudar e como mudar.<br />
Continuo seguin<strong>do</strong> os Cadernos <strong>do</strong> Professor, mas com<br />
adaptações de atividades. Com toda essa cobrança por<br />
resulta<strong>do</strong>s, sinto-me insegura em dedicar mais tempo<br />
à leitura e à escrita, pois sei que eles serão avalia<strong>do</strong>s<br />
com base em outros critérios (...).<br />
De encontro ao anseio por mudança o vento que tende a<br />
levar as coisas para onde sempre (ou durante tempo mais que<br />
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />
sufi ciente) estiveram. Alguns mecanismos para manter o esta<strong>do</strong><br />
das coisas: referenciais curriculares prescritivos (dizen<strong>do</strong> o que<br />
e como ensi<strong>na</strong>r) e avaliações exter<strong>na</strong>s que garantam o uso de tais<br />
referenciais. Sobre haver referencias não me oponho, mas vale<br />
lembrar que para formar leitores e escritores é preciso dedicar<br />
tempo ao ler e escrever; que a leitura e a escrita são práticas<br />
que (felizmente) resistem à fragmentação e distribuição <strong>do</strong>s<br />
conteú<strong>do</strong>s no tempo e à necessidade institucio<strong>na</strong>l em controlar<br />
a aprendizagem (LERNER, 2002, p.18). É preciso mudar os<br />
critérios de avaliação, as maneiras de distribuir o tempo em<br />
sala de aula. É necessário arriscar-se, enfrentar, inclusive, a si<br />
mesmo.<br />
3. Políticas públicas e práticas pedagógicas<br />
Importância de se efetivar mudanças no ensino de língua<br />
portuguesa <strong>na</strong> escola e de se promover, no ambiente escolar,<br />
práticas signifi cativas que garantam a formação de leitores e<br />
escritores, portanto, uma questão que se coloca como política.<br />
Política porque deve ser considerada não ape<strong>na</strong>s no plano<br />
individual, por <strong>parte</strong> de alguns professores, algumas escolas,<br />
mas num âmbito coletivo, público, políticas públicas.<br />
Em se tratan<strong>do</strong> de quantidade, até que caminhamos alguns<br />
passos, as políticas públicas para o ensino da língua, numa<br />
perspectiva que enfatiza o ensino da leitura e da escrita,<br />
existem: publicações de referenciais, diretrizes curriculares e<br />
livros didáticos que sugerem o uso <strong>do</strong> texto e o ler e escrever<br />
<strong>na</strong>s salas de aula, distribuição de livros de literatura <strong>na</strong>s<br />
escolas etc. Esbarramos, porém, <strong>na</strong> questão da qualidade<br />
dessas políticas:<br />
Apesar das diretrizes curriculares contidas <strong>na</strong>s políticas<br />
públicas para o ensino da língua, como trabalhar com<br />
seus conteú<strong>do</strong>s e quais desses conteú<strong>do</strong>s o professor<br />
deve ensi<strong>na</strong>r continuam sen<strong>do</strong> algumas das indagações<br />
de muitos professores e objeto de pesquisa de inúmeros<br />
pesquisa<strong>do</strong>res da área de ensino-aprendizagem [...]<br />
(...) os trabalhos <strong>na</strong> área de ensino da língua apontam<br />
que ainda que novas propostas teórico-meto<strong>do</strong>lógicas<br />
preconizem o conhecimento da língua em detrimento<br />
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