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Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

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INFÂNCIA, LUDICIDADE E CRÍTICA SOCIAL NA TESSITURA POÉTICA DE JORGE DE LIMA<br />

segui<strong>do</strong> da expressão (que dia!) - destacada entre parênteses<br />

e acompanhada <strong>do</strong> ponto de exclamação. “o De<strong>do</strong>- mindinho<br />

/ feriu-se num espinho”... Aquelas mãozinhas que “<strong>do</strong>rmiam<br />

unidinhas” / “viviam sujinhas”, entristeceram e “o Cata-piolhos<br />

deixou de rezar” (verso em que a presença da morte é si<strong>na</strong>lizada<br />

e se faz sentir acentuadamente). Os versos seguintes parecem<br />

eternizar a ce<strong>na</strong>:<br />

e João mais Maria, juntinhos,<br />

liga<strong>do</strong>s,<br />

pararam em cruz<br />

cobertos de fi tas<br />

que nem <strong>do</strong>is bonecos<br />

sem molas, quebra<strong>do</strong>s...<br />

(LIMA, 2007, p. 48)<br />

Com um monóstico, o autor fi <strong>na</strong>liza o poema fazen<strong>do</strong> uma<br />

indagação: “Quem compra um boneco da loja de Deus”? O poeta<br />

recorre a um eufemismo para (não) aludir à morte, já anunciada<br />

pelo símbolo da cruz feita pelas mãozinhas unidinhas, em que<br />

destaca a posição <strong>do</strong> Cata-piolhos que já não podia realizar a<br />

ação de rezar.<br />

Em meio a brincadeiras infantis como as parlendas, em que<br />

se joga com as palavras e com o corpo por meio de movimentos,<br />

o escritor surpreendeu o leitor no “Poema de duas mãozinhas”<br />

reafi rman<strong>do</strong> que <strong>na</strong> feitura da poesia, “ao mesmo tempo,<br />

repete e inventa; reitera e rompe; em aparente contradição<br />

(CADEMARTORI, 2009, p. 104)”.<br />

Evidencia-se nos <strong>do</strong>is poemas um intenso jogo entre<br />

textos e imagens em que o escritor constrói um texto singular<br />

e extremamente poético. Se no “Poema de duas mãozinhas”<br />

parece haver uma quebra da infância; em “Domingo”, o tenente<br />

mofi no parece desejoso de reencontrar sua infância, inferência<br />

que fazemos consideran<strong>do</strong> que os meninos eram muitos: “E a<br />

gente trepava <strong>na</strong> torre da igreja” e o tenente “Subia <strong>na</strong> torre<br />

atrás <strong>do</strong> menino!” (<strong>do</strong> menino que fora), já que ao subir <strong>na</strong><br />

torre estava se igualan<strong>do</strong> as crianças por meio da brincadeira.<br />

A expressão desdenhosa e repetida “Tenente mofi no! Tenente<br />

mofi no!” empregada pelos meninos que “olhavam de cima”<br />

LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />

com os olhos carolhos denotam a sensação ou sentimento de<br />

quem se sente por cima, diante de alguém que julgam ser/estar<br />

infeliz.<br />

3.2 Enchente e Noite de S. João: contextos aprecia<strong>do</strong>s pelo<br />

menino poeta<br />

No poema enchente,o fenômeno aprecia<strong>do</strong> e observa<strong>do</strong><br />

pelo poeta é <strong>na</strong>rra<strong>do</strong> por meio das peripécias de um rio que,<br />

antropomorfi za<strong>do</strong>, dialoga com uma velha e um canoeiro:<br />

- “Não duvide que eu levo<br />

a sua almofada de fazer renda, minha velha!”<br />

[...]<br />

- “Não duvide, seu canoeiro<br />

que eu emborco a sua canoa!”<br />

(LIMA, 2007, p. 60).<br />

A princípio a observação <strong>do</strong> autor anteceden<strong>do</strong> a fala <strong>do</strong> rio:<br />

“E o rio deu pra falar grosso / e bancar Zé-pabulagem:” denota<br />

uma certa incredulidade, inclusive reforçada por ocasião da fala<br />

<strong>do</strong> rio por meio da jocosa expressão “não duvide”. O emprego<br />

<strong>do</strong>s verbos de ação no pretérito perfeito (ro<strong>do</strong>u, virou, entrou,<br />

saiu, subiu, pulou) mostram o rio em seu desvario “espuman<strong>do</strong><br />

como um <strong>do</strong>i<strong>do</strong>”. Vejamos a sequência <strong>do</strong>s versos:<br />

[...]<br />

E ro<strong>do</strong>u com o canoeiro<br />

e virou a canoa mesmo.<br />

E entrou no fun<strong>do</strong> das casas<br />

e saiu <strong>na</strong>s portas da rua.<br />

Subiu no olho da ingazeira,<br />

tirou ingá e comeu.<br />

Pulou das pedras embaixo, espuman<strong>do</strong> como um <strong>do</strong>i<strong>do</strong>.<br />

Fez até me<strong>do</strong> às piabas, que correram<br />

pra os barreiros.<br />

(LIMA, 2007, p. 60).<br />

O rio menino brinca, desafi a e mostra sua ferocidade ao<br />

realizar façanhas, tais como: levar a almofada de fazer renda<br />

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