28.06.2013 Views

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

PROCESSOS INFERENCIAIS EM ATIVIDADES ESCOLARES DE LEITURA E O (RE)CONHECIMENTO DA VOZ DO ALUNO-LEITOR<br />

Introdução<br />

Em seu artigo “Em terra de sur<strong>do</strong>s-mu<strong>do</strong>s – um estu<strong>do</strong><br />

sobre as condições de produção de textos escolares”, retoma<strong>do</strong><br />

por muitos que desejam entender os processos de signifi cação<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s dentro da sala de aula, Percival Brito (1983) nos<br />

revela o caráter fortemente institucio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong> das interações<br />

desenvolvidas no espaço escolar. Ao investigar problemas<br />

de produção textual <strong>do</strong>s alunos, o autor nos mostra que, ao<br />

contrário <strong>do</strong> que se pensava, tais problemas não se relacio<strong>na</strong>m<br />

a uma possível falta de interlocutor – que impediria a escrita de<br />

um texto com foco em quem vai lê-lo -, mas sim pela opressora<br />

presença de um interlocutor altamente institucio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong> e<br />

representa<strong>do</strong> pela fi gura <strong>do</strong> professor.<br />

Dessa maneira, o professor deixaria de se apresentar<br />

como alguém com quem o aluno interagiria em sala de aula<br />

para assumir o papel de representante da instituição escolar,<br />

corporifi can<strong>do</strong> suas regras e normas de conduta e sen<strong>do</strong> o<br />

agente regula<strong>do</strong>r dessa interação, indican<strong>do</strong> os signifi ca<strong>do</strong>s que<br />

seriam ou não aceitos neste espaço. O aluno também deixa de<br />

ser sujeito nesta interação, pois, ao invés de se colocar como<br />

alguém que tem algo importante a dizer e que merece ser<br />

ouvi<strong>do</strong>, passa a se construir como alguém que deve buscar o<br />

acerto e atender o que se espera dele.<br />

Partin<strong>do</strong> da proposta apresentada por Brito (1983),<br />

Gerhardt (2006) busca, então, no aporte teórico sociocognitivo<br />

a compreensão dessa interação, no que diz respeito à construção<br />

de signifi ca<strong>do</strong>s pelos alunos ao responderem às tarefas escolares.<br />

Com base nos estu<strong>do</strong>s em cognição que entendem a construção<br />

da linguagem e <strong>do</strong> pensamento como um processo efetua<strong>do</strong><br />

interativamente, a autora chega à conclusão de que a tarefa<br />

escolar, de forma geral, busca “preparar” e “educar” o aluno,<br />

que se despersonifi ca, para que estruturem seu comportamento<br />

com o objetivo de atender às expectativas da escola.<br />

Dessa forma, a autora nos leva a refl etir sobre o que seria<br />

a avaliação escolar, entenden<strong>do</strong> que, em verdade, toda tarefa<br />

escolar atua <strong>na</strong> construção da cognição <strong>do</strong> aluno, que, por<br />

2 - A produção da dissertação contou com apoio <strong>do</strong> CNPq, de março de 2011 a fevereiro de 2012.<br />

LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />

meio de sua realização, acaba por incorporar as normas de<br />

comportamento defi nidas pela instituição escolar. Assim, acaba<br />

questio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> as condições de validação dessas tarefas, uma vez<br />

que elas estariam avalian<strong>do</strong> não a aquisição de informações, mas<br />

sim a adaptação a um esquema que dá ao aluno a oportunidade<br />

de conseguir notas altas e aprovação:<br />

Nesse questio<strong>na</strong>mento, com base no que temos dito, é<br />

possível supor que as noções de “certo” e “erra<strong>do</strong>” podem<br />

estar intimamente vinculadas a (...) se o aluno sabe o que a<br />

escola espera que ele saiba e não se ele consegue relacio<strong>na</strong>r<br />

e expressar conceitos. E, quanto a isso, podemos também<br />

conjeturar em que medida esses saberes são justamente os<br />

relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s a uma elite sociocultural, e autoriza<strong>do</strong>s pela<br />

escola. (Gerhardt, 2006, p 1200).<br />

Com base <strong>na</strong>s postulações apresentadas por Gerhardt<br />

(2006), este artigo visa, então, a a<strong>na</strong>lisar as respostas dadas por<br />

alunos <strong>do</strong> 9o ano <strong>do</strong> ensino fundamental a questões de leitura<br />

apresentadas em um livro didático (LD) de Língua Portuguesa<br />

em contraposição ao que o gabarito <strong>do</strong> livro apresenta como<br />

resposta correta. Assim, apresentamos uma peque<strong>na</strong> <strong>parte</strong><br />

<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s de uma pesquisa de dissertação 2 que buscava<br />

entender o comportamento cognitivo <strong>do</strong>s estudantes ao<br />

responderem às questões de leitura e comparar o que os alunos<br />

fi zeram ao que o LD esperava que eles fi zessem. Seu foco está<br />

no processo de geração de inferências em leitura por <strong>parte</strong> <strong>do</strong>s<br />

alunos, com base <strong>na</strong>s Ciências da Cognição, especifi camente a<br />

Psicolinguística e a Linguística Cognitiva.<br />

Iniciamos, então, este texto problematizan<strong>do</strong> o papel <strong>do</strong> LD<br />

<strong>na</strong>s interações desenvolvidas em sala de aula e apresentan<strong>do</strong><br />

a defi nição de inferência e a compreensão de como se dão os<br />

processos inferenciais <strong>na</strong> mente <strong>do</strong> leitor, sob essa perspectiva<br />

teórica. Em seguida, apresentaremos as questões selecio<strong>na</strong>das<br />

para a aplicação com os estudantes, bem como o texto que as<br />

motivou, e a sistematização das respostas dadas, de forma a<br />

entender os processos desenvolvi<strong>do</strong>s pelos alunos e avaliar em<br />

que medida o LD atua <strong>na</strong> validação desses processos.<br />

2833

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!