Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A EVOLUÇÃO DO ROMANCE E A NARRATIVA JUVENIL: “O DIA EM QUE LUCA NÃO VOLTOU”<br />
juvenil que a cada ano cresce vertiginosamente. Basea<strong>do</strong> em um<br />
problema real, o desaparecimento de crianças e a<strong>do</strong>lescentes,<br />
Luís Dill constrói uma história triste e angustiante que serve de<br />
alerta para o problema apresenta<strong>do</strong>.<br />
A história é a seguinte: Luca deveria chegar <strong>do</strong> colégio,<br />
mas isso não acontece. Ele era fi lho único em uma família de<br />
classe média alta, vivia em um con<strong>do</strong>mínio monitora<strong>do</strong> e não<br />
costumava dar trabalho. Era bom aluno, craque de bola e o<br />
sonho de muitas meni<strong>na</strong>s. Mas um dia não voltou <strong>do</strong> colégio.<br />
Veio até o con<strong>do</strong>mínio <strong>na</strong> condução de sempre, sumin<strong>do</strong> sem<br />
deixar rastro. O tempo vai passan<strong>do</strong> e as notícias não chegam.<br />
Quem <strong>na</strong>rra essa história de <strong>do</strong>r e afl ição é Everal<strong>do</strong>, fi lho<br />
da empregada, com <strong>do</strong>ze anos quan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> acontece, um a<br />
menos que Luca. Após alguns anos, a mãe de Everal<strong>do</strong> morre<br />
e ele vai morar com o pai, mas a imagem <strong>do</strong> amigo Luca o<br />
acompanha.<br />
Por meio de Everal<strong>do</strong>, Dill (2009) fala, com muita emoção,<br />
de uma realidade terrível de nosso país. Estima-se que quatro<br />
menores de <strong>do</strong>ze anos desapareçam to<strong>do</strong>s os dias no Brasil. E<br />
muitos são os pais que fi cam sem resposta, esperan<strong>do</strong> rever<br />
o fi lho sumi<strong>do</strong>, ou pelo menos ter alguma explicação <strong>do</strong> que<br />
aconteceu. Ao fi <strong>na</strong>l <strong>do</strong> livro, um apêndice apresenta os da<strong>do</strong>s<br />
sobre crianças desaparecidas no Brasil e no mun<strong>do</strong>, indica os<br />
procedimentos a serem toma<strong>do</strong>s tanto para se evitar que algo<br />
aconteça quanto para que a busca seja a mais efi caz possível.<br />
Há uma indicação de sites e números úteis.<br />
Pensan<strong>do</strong> <strong>na</strong> construção <strong>na</strong>rrativa e em aspectos<br />
relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s ao romance, e que poderiam ser utiliza<strong>do</strong>s para<br />
lermos uma <strong>na</strong>rrativa juvenil, temos: o herói problemático; a<br />
ambivalência entre sociedade concreta e sociedade construída;<br />
a dialética forma e conteú<strong>do</strong>; a relação entre o livro e o merca<strong>do</strong><br />
e, por último, a utilidade da obra literária enquanto objeto de<br />
educação para os jovens.<br />
O herói pode ser tanto Luca, o garoto desapareci<strong>do</strong>, quanto<br />
Everal<strong>do</strong>, nosso <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r-perso<strong>na</strong>gem. A história de Luca é<br />
escrita mediante as impressões de Everal<strong>do</strong>, que se angustia,<br />
sofre e exprime os sentimentos de to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s com<br />
a <strong>na</strong>rrativa: os pais de Luca, a empregada da casa (mãe de<br />
Everal<strong>do</strong>) e a Lu (“<strong>na</strong>morada” de Luca).<br />
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />
O valor individual da história de Luca transpassa a <strong>na</strong>rrativa<br />
e chega ao leitor como o retrato de um problema coletivo que<br />
precisa ser questio<strong>na</strong><strong>do</strong>, pensa<strong>do</strong>, refl eti<strong>do</strong>. O individualismo<br />
romanesco chega ao século XXI, <strong>na</strong>s <strong>na</strong>rrativas juvenis,<br />
coletiviza<strong>do</strong>, refl etin<strong>do</strong> problemas que são de to<strong>do</strong>s.<br />
Do mesmo mo<strong>do</strong> como ocorreu com o romance burguês, no<br />
fi <strong>na</strong>l <strong>do</strong> século XIX, a ambivalência entre sociedade concreta<br />
e sociedade construída se perde em meio a obra. Por refl etir<br />
o século XXI e trabalhar os problemas juvenis, como meio<br />
de educar, <strong>na</strong> maioria das vezes, a <strong>na</strong>rrativa juvenil funde os<br />
mun<strong>do</strong>s “imaginário” e “real”, com o objetivo de se tor<strong>na</strong>r o<br />
mais próxima possível <strong>do</strong> seu leitor. É preciso enfatizar que<br />
existe um mun<strong>do</strong> fi ccio<strong>na</strong>l, mas a construção deste mun<strong>do</strong> é<br />
muito próxima <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> leitor, confundin<strong>do</strong>-o em relação<br />
às fronteiras construídas.<br />
A <strong>na</strong>rrativa “O dia em que Luca não voltou”, de Luís Dill<br />
(2009), é dividida em cinco capítulos: as horas seguintes, os<br />
dias seguintes, as sema<strong>na</strong>s seguintes, os meses seguintes<br />
e os anos seguintes. A sua apresentação, desde o título,<br />
apresenta símbolos <strong>do</strong> universo da internet, como “carinhas”<br />
tristes, preocupadas, cansadas, dentre outras. Estes símbolos<br />
acompanham a tensão <strong>na</strong>rrativa e as divisões de capítulos,<br />
poden<strong>do</strong> ser considera<strong>do</strong>s uma ilustração para a <strong>na</strong>rrativa,<br />
estan<strong>do</strong> intimamente interliga<strong>do</strong>s a ela.<br />
O apelo visual da <strong>na</strong>rrativa também pode ser visto em<br />
sua própria estrutura formal. Os parágrafos são longos e as<br />
falas de perso<strong>na</strong>gens se misturam com as <strong>do</strong> <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r. É uma<br />
<strong>na</strong>rrativa “truncada”, amarrada, construída para deixar o leitor<br />
tão angustia<strong>do</strong> quanto o <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r Everal<strong>do</strong> se encontra sem<br />
notícias de seu amigo Luca.<br />
Por ser uma obra direcio<strong>na</strong>da ao merca<strong>do</strong> juvenil, em<br />
crescimento no Brasil desde os anos 80, a obra “O dia em que<br />
Luca não voltou”, de Luís Dill (2009), é interessante tanto <strong>do</strong><br />
ponto de vista <strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong>, por trabalhar um tema volta<strong>do</strong><br />
ao núcleo de problemas juvenis, mas também <strong>do</strong> ponto de<br />
vista <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, visto que amplia o leque de títulos oferta<strong>do</strong>s<br />
para esse público. A estrutura e o apelo visual da <strong>na</strong>rrativa, já<br />
comenta<strong>do</strong>s neste artigo, fazem com que o livro adquira um<br />
status de merca<strong>do</strong>ria atraente, pois é fato que, primeiramente,<br />
2821