Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
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A SENSAÇÃO DE ESTAR PERDIDO: A PERSONAGEM DE “LIKE A ROLLING STONE”<br />
“How <strong>do</strong>es it feel<br />
To be on your own<br />
With no direction home<br />
Like a complete unknown<br />
Like a rolling stone?” 2<br />
O leitor de <strong>na</strong>rrativas está acostuma<strong>do</strong> a focar sua atenção<br />
<strong>na</strong>s ações de uma perso<strong>na</strong>gem central, que são, em sua<br />
maioria, organizadas em uma estrutura linear de tempo, ou<br />
em um fl ashback simples. É nesse senti<strong>do</strong> que um especta<strong>do</strong>r<br />
de um videoclipe como o Like a rolling stone 3 , <strong>do</strong> diretor<br />
Michel Gondry, pode sentir-se desampara<strong>do</strong>. Ele difi cilmente<br />
conseguirá atribuir uma interpretação imediata à obra, pois<br />
ape<strong>na</strong>s conseguirá racio<strong>na</strong>lizá-la após assisti-la inúmeras vezes.<br />
Em um primeiro momento, estará entregue a um amálgama<br />
de sensações e, provavelmente, suas interpretações se<br />
manifestarão muito mais por conta da sensoriedade provocada<br />
pela música e pelas imagens <strong>do</strong> que pela decifração de um<br />
enre<strong>do</strong> propriamente dito. Não há como negar, porém, que<br />
esse videoclipe trata-se também de uma obra <strong>na</strong>rrativa. Nele há<br />
nitidamente uma perso<strong>na</strong>gem, pela qual o especta<strong>do</strong>r sente-se<br />
envolvi<strong>do</strong> e sobre a qual ele procura entender alguma coisa.<br />
Provavelmente tentará situá-la em um espaço e tempo para<br />
compreender o seu confl ito, pois ele percebe, no videoclipe, a<br />
existência desses elementos <strong>na</strong>rrativos; estes, no entanto, não<br />
estão da<strong>do</strong>s de uma forma explícita.<br />
Há <strong>na</strong>rrativas que não apresentam esses elementos de<br />
imediato, mas vão construin<strong>do</strong>-os ao longo da história, de forma<br />
que, no fi <strong>na</strong>l, o leitor consiga unir os pontos e compreender<br />
elementos que até então estavam soltos, talvez por conta da não<br />
linearidade <strong>do</strong> enre<strong>do</strong> ou de outras estratégias <strong>na</strong>rrativas. Não é<br />
esse, porém, o caso de Like a rolling stone, pois, mesmo quan<strong>do</strong><br />
o videoclipe termi<strong>na</strong>, os fatos apresenta<strong>do</strong>s não fi cam claros<br />
para o especta<strong>do</strong>r. Isso permite levantar hipóteses a respeito<br />
dessa obra. É possível encará-la como um fragmento ou como<br />
um tipo específi co de <strong>na</strong>rrativa. Ou como as duas coisas juntas.<br />
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />
Ou mais. O interessante é perceber que os efeitos de senti<strong>do</strong> que<br />
ela provoca são amplos e desencadea<strong>do</strong>s por diversos fatores.<br />
Esse artigo apresenta algumas hipóteses sobre o videoclipe<br />
Like a rolling Stone, aponta efeitos de senti<strong>do</strong> e entende a<br />
perso<strong>na</strong>gem como fundamental para provocação desses efeitos,<br />
perceben<strong>do</strong> nela características de um tipo de perso<strong>na</strong>gem<br />
apontada pelo fi lósofo Gilles Deleuze em seu livro “A imagemtempo”.<br />
O gênero<br />
O videoclipe apresenta uma estrutura mínima que se repete<br />
em grande <strong>parte</strong> das produções, mas que não é a característica<br />
defi nitiva <strong>do</strong> gênero. Podemos considerar, em termos bem<br />
gerais, que um <strong>do</strong>s elementos que podem defi nir o videoclipe<br />
é o fato de ser uma produção visual feita para se aliar a uma<br />
música e, por isso, seu tempo de duração acompanha, ou é<br />
muito próximo, ao tempo da canção. Não há um único perfi l<br />
para essa produção: ela pode ser <strong>na</strong>rrativa, pode apresentar<br />
imagens <strong>do</strong> artista (o que costuma ser mais comum devi<strong>do</strong> a seu<br />
caráter publicitário), pode estar articulada à letra da música, ou<br />
pode utilizar um recurso completamente inespera<strong>do</strong>, diferente<br />
de to<strong>do</strong>s os anteriores. Contu<strong>do</strong>, apesar de características tão<br />
amplas e variáveis, há um certo padrão que o constitui enquanto<br />
gênero audiovisual:<br />
O que é um videoclipe? Diremos que videoclipe é um<br />
pequeno fi lme, um curta metragem, cuja duração está<br />
atrelada (mas não restrita) ao início e fi m ao som de<br />
uma única música. Para ser considera<strong>do</strong> um videoclipe,<br />
este curta-metragem não pode ser jor<strong>na</strong>lístico, não é<br />
a simples fi lmagem da apresentação de um ou mais<br />
músicos. Ele é a ilustração, a versão fi lmada, de uma<br />
canção. Há intenções artísticas em sua realização, e,<br />
quase sempre, ausência de linha <strong>na</strong>rrativa. (Pontes,<br />
2003: p.36)<br />
2 - Como se sente?/Por estar sem um lar?/Como um completa estranha?/Como uma pedra rolan<strong>do</strong>?<br />
3 - LIKE a rolling stone. Direção: Michel Gondry. Produção: The Rolling Stones. Intérpretes: The Rolling Stones. Composição: Bob Dylan. (4:17 min), son.<br />
color. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=tuGjBNSRi1c. (último acesso em 08/03/2012).<br />
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