Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O LUGAR DA LITERATURA JUVENIL: ENTRE A INDÚSTRIA CULTURAL E OS PROBLEMAS DE GÊNERO E MODO<br />
2. Indústria cultural e produção de bens simbólicos<br />
O conceito de indústria cultural <strong>na</strong>sceu no auge <strong>do</strong> capitalismo<br />
e transformou a cultura, de mo<strong>do</strong> geral, em algo “pré-construí<strong>do</strong>”.<br />
Segun<strong>do</strong> A<strong>do</strong>rno (2002), a arte deixou de ser uma necessidade,<br />
pois tu<strong>do</strong> passou a se orientar pela ideologia capitalista que,<br />
através <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de reprodução, fez “com que inevitavelmente,<br />
em numerosos locais, necessidades iguais sejam satisfeitas com<br />
produtos estandardiza<strong>do</strong>s” (ADORNO, 2002, p. 8).<br />
A uniformidade <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s e das técnicas faz com que o<br />
público também se uniformize, submeten<strong>do</strong>-se às leis <strong>do</strong> que<br />
é previamente aprova<strong>do</strong> e reconheci<strong>do</strong>. Para A<strong>do</strong>rno (2002), a<br />
arte se alia ao divertimento e a técnica se sobressai ao conteú<strong>do</strong>,<br />
tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> o meio alie<strong>na</strong>nte e o público um mero consumi<strong>do</strong>r de<br />
si mesmo. Desse mo<strong>do</strong>,<br />
a indústria cultural se desenvolveu com a primazia<br />
<strong>do</strong>s efeitos, da performance tangível, <strong>do</strong> particular<br />
técnico sobre a obra, que outrora trazia a ideia e com<br />
essa foi liquidada. [...] a indústria cultural despedaça<br />
a sua insubordi<strong>na</strong>ção e os sujeita à fórmula que tomou<br />
o lugar da obra. Molda da mesma maneira o to<strong>do</strong> e às<br />
<strong>parte</strong>s (ADORNO, 2002, p. 14-15).<br />
Mais adiante, o autor continua a sua argumentação<br />
apontan<strong>do</strong> que<br />
o mun<strong>do</strong> inteiro é força<strong>do</strong> a passar pelo crivo da<br />
indústria cultural. A velha experiencia <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r<br />
cinematográfi co, para quem a rua lá de fora parece a<br />
continuação <strong>do</strong> espetáculo que acabou de ver – pois este<br />
quer precisamente reproduzir de mo<strong>do</strong> exato o mun<strong>do</strong><br />
percebi<strong>do</strong> cotidia<strong>na</strong>mente – tornou-se o critério da<br />
produção. Quanto mais densa e integral a duplicação <strong>do</strong>s<br />
objetos empíricos por <strong>parte</strong> de suas técnicas, tanto mais fácil<br />
fazer crer que o mun<strong>do</strong> de fora é o simples prolongamento<br />
daquele que se acaba de ver [...] (ADORNO, 2002, p. 15).<br />
Assim, os produtos da indústria cultural fazem <strong>parte</strong> de um<br />
mecanismo econômico muito maior que encontra <strong>na</strong> repetição<br />
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />
a raiz <strong>do</strong> perpetuamento e <strong>na</strong> diversão o “estar de acor<strong>do</strong>”.<br />
Neste modelo “cultural”, a imitação é o estilo e, em to<strong>do</strong> e<br />
qualquer campo da indústria cultural, a arte repete e imita suas<br />
próprias formas e os seus conteú<strong>do</strong>s “rigidamente repeti<strong>do</strong>s,<br />
intimamente esvazia<strong>do</strong>s e já meio aban<strong>do</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>s” (ADORNO,<br />
2002, p. 29) de mo<strong>do</strong> a ser sempre reconhecida pelo público<br />
consumi<strong>do</strong>r.<br />
Segun<strong>do</strong> A<strong>do</strong>rno (2002, p. 31),<br />
[...] a mecanização adquiriu tanto poder sobre o<br />
homem em seu tempo de lazer e sobre sua felicidade,<br />
determi<strong>na</strong>da integralmente pela fabricação <strong>do</strong>s produtos<br />
de divertimento, que ele ape<strong>na</strong>s pode captar as cópias<br />
e as reproduções <strong>do</strong> próprio processo de trabalho. O<br />
pretenso conteú<strong>do</strong> é só uma pálida fachada; aquilo<br />
que se imprime é a sucessão automática de operações<br />
reguladas.<br />
A partir de tais operações reguladas, a indústria cultural<br />
processa a imitação e ganha o seu público consumi<strong>do</strong>r. Para<br />
o autor, a cultura sempre serviu para <strong>do</strong>mar os instintos<br />
humanos e a cultura industrializada difunde que a vida pode<br />
ser vivida como bem se quer, aparentemente “sem regras”.<br />
Essa aparente liberdade tor<strong>na</strong> o ser humano passivo e reduz<br />
a individualidade aos quereres da coletividade, ambas, e sem<br />
distinção, construídas pela indústria cultural.<br />
Dessa forma,<br />
o valor de uso da arte, o seu ser, é para os consumi<strong>do</strong>res<br />
um fetiche, a sua valoração social, que eles tomam pela<br />
escala objetiva das obras, tor<strong>na</strong>-se o seu único valor de<br />
uso, a única qualidade de que usufruem. Assim o caráter<br />
de merca<strong>do</strong>ria da arte se dissolve no próprio ato de se<br />
realizar integralmente. Ela é um tipo de merca<strong>do</strong>ria,<br />
prepara<strong>do</strong>, inseri<strong>do</strong>, assimila<strong>do</strong> à produção industrial<br />
[...] (ADORNO, 2002, p. 61).<br />
Dentro <strong>do</strong> contexto da indústria cultural, Bourdieu (2007)<br />
marca a produção intelectual e artística através da distinção<br />
entre <strong>do</strong>is campos: o campo de produção erudita e o campo<br />
2825