Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
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A SENSAÇÃO DE ESTAR PERDIDO: A PERSONAGEM DE “LIKE A ROLLING STONE”<br />
invadin<strong>do</strong> defi nitivamente a seara <strong>do</strong> pensamento: há o<br />
encontro <strong>do</strong> pensamento com a imagem, ou, como diz<br />
Deleuze: um fi lme deixa de ser uma mera associação de<br />
imagens, o pensamento tor<strong>na</strong>-se imanente à imagem.”<br />
(Vasconcellos, 2008, p. 159)<br />
O pensamento fi lma<strong>do</strong>, a imagem <strong>do</strong> pensamento<br />
vislumbrada <strong>na</strong> tela, bem diferente da ação, <strong>do</strong> par causaconsequência,<br />
ocasio<strong>na</strong> uma necessária falta de orientação que<br />
abre espaço para que se possa criar uma gama muito maior de<br />
interpretações, forçan<strong>do</strong>, assim, o próprio pensar, deparan<strong>do</strong>-se<br />
com o senti<strong>do</strong> de forma ativa e não mais passiva.<br />
É essa a situação da perso<strong>na</strong>gem<br />
<strong>do</strong> videoclipe Like a rolling stone<br />
de Michel Gondry. Ela não parece<br />
ser <strong>do</strong><strong>na</strong> de seus próprios passos,<br />
não podemos acompanhá-la<br />
compreenden<strong>do</strong> claramente seus<br />
atos, onde está, como chegou até ali,<br />
para onde vai e o que quer. O recorte<br />
de vida que nos é apresenta<strong>do</strong> é<br />
muito pequeno, atrela<strong>do</strong> à duração<br />
da música, e não parece acaba<strong>do</strong> em si mesmo. É um meio, é um<br />
entre. Entre tempos, entre perso<strong>na</strong>gens, entre possibilidades.<br />
Um fragmento que não anseia por um to<strong>do</strong>, mas desperta<br />
inferências e, principalmente, sensações. Por conta desses<br />
fatores: imagens, sons e tema que envolve este videoclipe, ele<br />
uma perso<strong>na</strong>gem da imagem-tempo.<br />
As imagens surgem. Imagens de pessoas estáticas, imagens<br />
de um mun<strong>do</strong> sem movimento, sem senti<strong>do</strong> aparente. Qual o<br />
tempo dessas imagens? A perso<strong>na</strong>gem principal aparece em<br />
outro cenário. Ela se movimenta, mas não controla os próprios<br />
movimentos, caminha pela rua como se fosse movida por algo<br />
que não <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>. Tanto faz. Ela, nesse contexto, não é <strong>na</strong>da de<br />
importante, de destacável. Ela não se diferencia das pedras <strong>do</strong><br />
caminho. Minúsculas pedras sem vida, que rolam conforme<br />
chutadas. Seu destino? Incerto. A perso<strong>na</strong>gem, assim como as<br />
pedras que vemos por aí, é só mais um elemento cênico. Perde-<br />
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />
se em meio a imagens distorcidas, desfocadas. Nada é claro,<br />
<strong>na</strong>da é níti<strong>do</strong>. Essa perso<strong>na</strong>gem atônita, calada e congelada,<br />
tor<strong>na</strong>-se uma especta<strong>do</strong>ra das mesmas imagens e sons que<br />
observamos, que constituem um mun<strong>do</strong> novo da <strong>na</strong>rrativa, a<br />
imagem-tempo, onde o tempo escapa das ações sen<strong>do</strong> lega<strong>do</strong> a<br />
novos tipos de signos, os sonsignos e opsignos que envolvem<br />
tanto especta<strong>do</strong>r quanto perso<strong>na</strong>gens.<br />
“Ora, se é verdade que a situação sensório-motora<br />
impunha a representação indireta <strong>do</strong> tempo como<br />
consequência da imagem-movimento, a situação<br />
puramente ótica ou sonora abre-se com base numa<br />
imagem-tempo direta. A imagem-tempo é o correlato<br />
<strong>do</strong> sonsigno e <strong>do</strong> opsigno (...) Em vez da ‘situação<br />
motora – representação indireta <strong>do</strong> tempo’, temos o<br />
‘opsigno ou sonsigno - apresentação direta <strong>do</strong> tempo’.”<br />
(Deleuze, 2007, p. 323s)<br />
Com a utilização de sonsignos<br />
e opsignos, signos sonoros e óticos<br />
puros, é ofereci<strong>do</strong> ao especta<strong>do</strong>r um<br />
amálgama de imagens e sons que são<br />
senti<strong>do</strong>s pela perso<strong>na</strong>gem, perdida<br />
em meio a uma profusão de signos<br />
que tor<strong>na</strong> o seu devir uma grande<br />
indefi nição. Essa perso<strong>na</strong>gem,<br />
vagan<strong>do</strong> ao léu em meio a esses<br />
sonsignos e opsignos produz, ao especta<strong>do</strong>r da obra, senti<strong>do</strong>s<br />
que, ao invés de seu objetivarem em uma interpretação única,<br />
possibilitam novas aberturas de signifi cação, novas relações de<br />
senti<strong>do</strong>, novas sensações e sensibilizações.<br />
“De repente as situações já não se prolongam em ação<br />
ou reação como exigia a imagem movimento. São puras<br />
situações óticas e sonoras, <strong>na</strong>s quais a perso<strong>na</strong>gem<br />
não sabe como responder, espaços desativa<strong>do</strong>s nos<br />
quais ela deixa de sentir e agir, para partir para a fuga,<br />
a perambulação, o vaivém, vagamente indiferente ao<br />
que lhe acontece, indecisa sobre o que é preciso fazer.”<br />
(Deleuze, 2007, p. 323s)<br />
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