Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

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O CINEMA COMO LINGUAGEM NA PRODUÇÃO DE SUJEITOS DO ESPAÇO ESCOLAR NA CONTEMPORANEIDADE Marcelo Vicentin 1 Jackeline Rodrigues Mendes 1 Resumo A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEE), implantou no ano de 2008 o projeto “O Cinema vai à Escola – A Linguagem Cinematográfi ca na Educação” como parte de um projeto maior: Cultura é Currículo, que visa propiciar aos alunos atividades culturais como complemento às atividades pedagógicas praticadas no espaço escolar, com a fi nalidade de os alunos aprimorarem seu senso estético e sua atitude críticorefl exiva. Para o cinema, assim como para outras artes, se pressupõe funções sociais e a sua utilização na formação escolar do aluno de ensino médio. Procurando compreender como essa proposta pode ser observada à luz das questões contemporâneas tais como: identidade, currículo e globalização e qual a formação esse projeto destina aos alunos e ao grupo escolar, decidimos pela leitura dos textos introdutórios do material destinado às escolas, particularmente ao professor. Para essa discussão, fundamentamo-nos nos estudos sobre globalização e identidade de Bauman (1999, 2005), na concepção entre cinema e pedagogia de Duarte (2002), nos estudos culturais de Hall (2006) e nas teorias pós-críticas de Silva (2011). Palavras-chave Cinema; educação; currículo; identidade. 1 - Universidade São Francisco – USF. Abstract The Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEE), implemented in 2008 the project “O Cinema vai à Escola – A Linguagem Cinematográfi ca na Educação”, as a part of a larger project Cultura é Currículo, which aims to provide students cultural activities as a complement to pedagogical activities practiced in the school environment, in order that students enhance their aesthetic sense and their critical and refl ective attitude. To cinema, such as other arts, social functions are assumed and its use in upbringing of the high school student. Trying to understand how this proposal can be seen in light of contemporary issues such as: identity, curriculum and globalization and which training this project designs for students and the school group, we decided by the reading of the introductory texts of the material for schools, particularly to the teacher. For this discussion, we based in studies of globalization and identity of Bauman (1999, 2005), in the conception between cinema and pedagogy of Duarte (2002), in the cultural studies of Hall (2006), in the postcritical theories of Silva (2011). Keywords Cinema; education; curriculum; identity.
O CINEMA COMO LINGUAGEM NA PRODUÇÃO DE SUJEITOS DO ESPAÇO ESCOLAR NA CONTEMPORANEIDADE 1. Introdução Este texto pretende apresentar algumas refl exões sobre a proposta de inserção de obras cinematográfi cas como apêndice curricular. Nesse sentido é entendido como um material de apoio as atuais mudanças curriculares do sistema educacional do Governo Estadual de São Paulo, implantadas pela Secretaria Estadual de Educação (SEE), com a fi nalidade de apresentar novas metodologias para o Ensino Médio. Essa proposta incide tanto sobre a formação do professor como a do aluno. Considerando a produção desses sujeitos nas práticas discursivas que circulam nos documentos produzidos pela Secretaria Estadual de Educação, pretendemos desenvolver uma análise sob o olhar das teorias curriculares e dos estudos culturais. Para essa discussão, abordamos a temática curricular a partir das teorias pós-críticas, que discutem as relações de poder que atravessam as escolhas do que deve ou não ser ensinado aos alunos. O espaço escolar se constitui assim, no lugar em que dispositivos são organizados e utilizados para moldar os sujeitos ao modelo que se considera ideal para assumir diferentes papéis sociais (SILVA, 2011). Dos estudos culturais aborda-se aspectos relacionados às discussões sobre a contemporaneidade e a globalização, visando analisar os efeitos desses processos nas relações entre os sujeitos e as reorganizações sociais (BAUMAN 1999, 2005; HALL, 2006; WOODWARD, 2000). Nesse movimento pretendemos apontar como sujeitos e instituições deslocam os eixos de sustentabilidade da sociedade moderna. Por fi m, nos interessa problematizar as possibilidades pedagógicas de instrumentos artísticos, particularmente o cinema, através de obras que procurem reproduzir histórias que abordem as mudanças sociais, políticas, econômicas e científi cas do século XX e XXI. Pois o cinema, ao retratar aspectos de uma sociedade em transformação, torna-se uma prática social tão importante para a formação cultural e educacional das pessoas como a leitura de obras literárias, fi losófi cas, entre outras. Para atingir nosso objetivo, tomamos como corpus de análise o documento ofi cial intitulado Caderno de Cinema do Professor LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012 Um/2008, através dos textos introdutórios, distribuídos entre: apresentação do projeto, assinados pela Secretária da Educação do Estado de São Paulo, pelo Presidente e pela Diretora de Projetos Especiais da FDE; a proposta dirigida aos professores e sem assinatura. Esses textos estarão representados por recortes analisados e discutidos mais adiante. 2. Cinema e currículo: entrecruzamentos na sociedade contemporânea O cinema nasce ofi cialmente em 1895, em Paris, como instrumento e meio que, ao todo instante, dialogará com a modernidade. Se fosse apenas uma máquina, um instrumento científi co, uma curiosidade, como imaginada pelos seus criadores, os Irmãos Lumière, nasceria com a data de sua morte impressa em sua própria estrutura, algo particular à modernidade. Este destino aparentemente certo se tornou incerto pela ação humana: ao perceberem na máquina algo além de suas engrenagens, enxergaram num metabolismo luminoso, a chama que proporciona vida ao que estava congelado pelo tempo. A representação da vida, primeiramente cinza, desbotada e muda, aos poucos se torna falante e colorida. Essa máquina, um Frankenstein amado pela humanidade, tornou-se uma velha e célebre contadora de histórias, com mais de cem anos. Durante esse período, imagens e sons, proporcionaram milhares de histórias: mudanças sociais, políticas, econômicas, culturais e científi cas de uma sociedade em transformação, notadamente do século XX, no qual o cinema triunfou como maior representação artística. Assistir fi lmes, como a educação, “constitui uma prática social importante que atua na formação das pessoas e contribui para distinguí-las socialmente” (DUARTE, 2002, p. 14), pois a educação escolar é ímpar, mas não única na formação humana, cabendo também a outros meios, entre eles os artísticos e os midiáticos, transmitir e transformar o conhecimento, e, assim, possibilitar às pessoas acesso a padrões e valores que norteiam uma determinada sociedade. Logo, o cinema carrega em si uma natureza eminentemente 2889
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