28.06.2013 Views

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A SENSAÇÃO DE ESTAR PERDIDO: A PERSONAGEM DE “LIKE A ROLLING STONE”<br />

A perso<strong>na</strong>gem <strong>do</strong> videoclipe<br />

Like a rolling stone perambula em<br />

meio à apatia, e à falta de reação em<br />

que se encontra. Nessas ce<strong>na</strong>s há<br />

imagens em que ela está em outro<br />

contexto: aparece acompanhada por<br />

outros perso<strong>na</strong>gens e, assim como<br />

to<strong>do</strong>s, está parada, como que posan<strong>do</strong> para uma fotografi a.<br />

Obviamente trata-se de uma realidade distinta da que nos é<br />

apresentada em outros momentos, em que ela vaga pelas ruas de<br />

uma cidade, estafada e maltrapilha: nesta, ela possui dinheiro,<br />

conforto e está rodeada de pessoas. Nem por isso pode-se<br />

afi rmar que há, nesses momentos, reações por <strong>parte</strong> dela. Como<br />

já mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>, ela aparece estática, é ape<strong>na</strong>s mais um signo em<br />

meio a outros, sem destaque. Além disso, percebe-se que essas<br />

ce<strong>na</strong>s atribuem ao videoclipe um caráter de imagem-tempo<br />

ainda mais evidente por conta da maneira como compõem a<br />

sua temporalidade. Esses momentos em que a perso<strong>na</strong>gem<br />

aparece bem vestida, em uma casa luxuosa, pertencem a qual<br />

tempo? Seriam lembranças da moça que caminha? Delírios?<br />

Ou delírio é a própria moça? São presentes incompossíveis?<br />

Deleuze afi rma que “a força pura <strong>do</strong> tempo põe a verdade em<br />

crise”. Este é o para<strong>do</strong>xo <strong>do</strong>s “futuros contingentes”:<br />

“Se é verdade que uma batalha <strong>na</strong>val pode acontecer<br />

amanhã, como evitar uma das duas consequências<br />

seguintes: ou o impossível procede <strong>do</strong> possível, (já<br />

que, se a batalha acontece, não é mais possível que<br />

ela não aconteça), ou o passa<strong>do</strong> não é necessariamente<br />

verdadeiro (já que ela podia não acontecer). É fácil<br />

tratar tal para<strong>do</strong>xo como sofi sma. Mas ele não deixa<br />

de apontar a difi culdade que há em apontar uma<br />

relação direta da verdade com uma forma <strong>do</strong> tempo, e<br />

nos conde<strong>na</strong> a situar o verdadeiro longe <strong>do</strong> existente,<br />

no eterno ou no que imita o eterno.” (Deleuze, 2007:<br />

p.160)<br />

Para explicar esse para<strong>do</strong>xo, ele recorre a Leibniz, que diz<br />

que a batalha <strong>na</strong>val acontece em um mun<strong>do</strong> e em outro não.<br />

Esses <strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s são possíveis, mas não compossíveis, dessa<br />

LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />

forma, “o passa<strong>do</strong> pode ser verdadeiro sem ser, necessariamente,<br />

verdadeiro”. Os <strong>do</strong>is contextos em que a perso<strong>na</strong>gem <strong>do</strong><br />

videoclipe aparece não precisam necessariamente ser <strong>do</strong>is<br />

tempos distintos de um mesmo espaço. São realidades que<br />

podem existir em um mesmo tempo, em mun<strong>do</strong>s diferentes.<br />

Percebemos por esse olhar que a temporalidade dessa história,<br />

por fi m, não é clara.<br />

Isso porque, ao contrário da imagem-movimento, <strong>na</strong><br />

imagem-tempo não é possível discernir o plano da memória,<br />

<strong>do</strong> sonho, <strong>do</strong> virtual, <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> real. Não há uma correlação<br />

lógica entre as imagens que permita extrair-se delas uma ideia<br />

cronológica de tempo, pois esse não resulta mais da ação, não<br />

se conclui no espaço. No regime cristalino:<br />

“o atual está corta<strong>do</strong> de seus encadeamentos motores,<br />

ou o real de suas conexões legais, e o virtual, por sua<br />

<strong>parte</strong>, se exala de suas atualizações, começa a valer<br />

por si próprio. Os <strong>do</strong>is mo<strong>do</strong>s de existência reúnemse<br />

agora, num circuito em que o real e o imaginário,<br />

o atual e o virtual, correm um atrás <strong>do</strong> outro, trocam<br />

de papel e se tor<strong>na</strong>m indiscerníveis.” (Deleuze, 2007:<br />

p. 156)<br />

Segun<strong>do</strong> Deleuze, “Se o tempo aparece diretamente é <strong>na</strong>s<br />

pontas de presente desatualizadas, é nos lençóis de passa<strong>do</strong><br />

virtuais” (Deleuze, 2007: p. 159). Michel Gondry explora essas<br />

situações e nos desperta novas sensações, quebran<strong>do</strong> conceitos<br />

<strong>na</strong>rrativos pré-estabeleci<strong>do</strong>s.<br />

Videoclipes como Like a rolling stone possibilitam novas<br />

experiências de senti<strong>do</strong> para o especta<strong>do</strong>r. Novos senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

corpo e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que são despertos com novos olhares, novas<br />

sensações óticas e sonoras. Neste videoclipe um enre<strong>do</strong> mínimo<br />

nos é apresenta<strong>do</strong>, mas não de forma objetiva. Insistimos em<br />

objetivar um enre<strong>do</strong>, já que vemos ape<strong>na</strong>s imagens desconexas,<br />

perdidas, sensações, sons, imagens. Temos uma perso<strong>na</strong>gem que<br />

não está nem em seu passa<strong>do</strong> nem em seu futuro. Está em um<br />

entre, um presente que a to<strong>do</strong> o tempo de transforma e possibilita<br />

infi nitas possibilidades a ela mesma e a ao seu especta<strong>do</strong>r. Esse<br />

especta<strong>do</strong>r, em meio a esse turbilhão de senti<strong>do</strong>s, acaba por se<br />

enveredar por novos caminhos de signos e pensamentos, sai<br />

2934

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!