Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Introdução<br />
O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E SEUS ATRAVESSAMENTOS POLÍTICOS<br />
Texto que <strong>na</strong>sce de uma vontade de escrita: falar sobre o<br />
ensino da língua mater<strong>na</strong>. Vontade que <strong>na</strong>sce da experiência:<br />
professora de língua portuguesa para o Ensino Fundamental<br />
II e Ensino Médio. Escrever para refl etir, para dialogar, para<br />
defi nir posturas, marcar posicio<strong>na</strong>mentos. Inquietações: o que<br />
se ensi<strong>na</strong>, o que se deixa de ensi<strong>na</strong>r, o que ensino, o que deixo<br />
de ensi<strong>na</strong>r? Quais posturas pedagógicas e políticas implicam<br />
as escolhas por uma ou outra abordagem de ensino da língua?<br />
Neste texto, entrelaço refl exões, a partir de autores que discutem<br />
essas temáticas.<br />
As discussões acerca <strong>do</strong> ensino da língua atravessam<br />
décadas. Desde os anos 80, o ensino da língua <strong>na</strong> educação<br />
básica brasileira vem sen<strong>do</strong> o centro <strong>do</strong>s debates, sobretu<strong>do</strong>,<br />
em decorrência <strong>do</strong> fracasso 2 de alunos diante da relação ensinoaprendizagem<br />
da língua mater<strong>na</strong> (ZUIN; REYES, 2010, p.20).<br />
Fracasso escolar como consequência de um ensino sobre<br />
a língua, a saber, ensino de gramática, com abordagens que<br />
não contribuem signifi cativamente para formar bons leitores<br />
e escritores. Surge, assim, a necessidade de repensar o ensino<br />
da língua e redimensio<strong>na</strong>r o objeto de estu<strong>do</strong> da discipli<strong>na</strong> de<br />
língua portuguesa.<br />
Necessidade de repensar e recusar perspectivas que<br />
entendem as aulas de língua portuguesa como de gramática<br />
normativa, memorização de nomenclaturas e classifi cações,<br />
estu<strong>do</strong> vazio da metalinguagem técnica, ensino sobre a língua<br />
que perdurou – e, infelizmente, em muitos contextos ainda<br />
perdura – e sobre o qual as críticas recaem quan<strong>do</strong> se discute<br />
a questão <strong>do</strong> baixo desempenho linguístico-discursivo <strong>do</strong>s<br />
educan<strong>do</strong>s brasileiros.<br />
Repensan<strong>do</strong> para refazer caminhos, surgem perspectivas<br />
outras, como a de tor<strong>na</strong>r o texto o objeto principal <strong>do</strong> ensino<br />
de língua portuguesa, mais coerentes com a necessidade de<br />
se ensi<strong>na</strong>r e aprender a língua, de se aproximar das práticas<br />
sociais (tão necessárias!) – <strong>do</strong> ler e escrever para a vida,<br />
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />
principalmente –, de contribuir para formar sujeitos autônomos<br />
no uso da língua.<br />
Na tentativa de se efetivar essas mudanças por meio de<br />
políticas públicas surgem os Parâmetros Curriculares Nacio<strong>na</strong>is<br />
de Língua Portuguesa (PCNs), em 1996, que, dentre outras<br />
recomendações, sugerem o uso texto <strong>na</strong> sala de aula como<br />
unidade básica para o ensino de língua mater<strong>na</strong>.<br />
A despeito da chegada dessas discussões <strong>na</strong>s escolas,<br />
via <strong>do</strong>cumentos ofi ciais (PCNs e outros), livros e manuais<br />
didáticos, poucas mudanças são efetivadas. Resistem <strong>na</strong>s salas<br />
de aula abordagens que ainda defendem o estu<strong>do</strong> aprofunda<strong>do</strong><br />
das nomenclaturas da gramática normativa como pressuposto<br />
para o bom desempenho linguístico-discursivo <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s.<br />
Ou surgem perspectivas supostamente novas, mas que, <strong>na</strong><br />
realidade, propõem uma nova substituição, o estu<strong>do</strong> das<br />
superestruturas textuais como requisito para se ler e escrever/<br />
produzir e compreender textos.<br />
Refl exão vazia posto que desvinculada <strong>do</strong> uso, o que me<br />
leva a acrescentar mais uma questão às colocadas inicialmente:<br />
qual a razão da distância entre as políticas públicas para o ensino<br />
de língua portuguesa, tais como as publicações de referenciais<br />
curriculares, e as práticas pedagógicas? E quais os caminhos<br />
possíveis para que os professores (dentre os quais me incluo)<br />
se reapropriem das políticas públicas em favor de uma línguafl<br />
uxo? Começo tangencian<strong>do</strong> as questões iniciais.<br />
1. Posturas pedagógicas, posicio<strong>na</strong>mentos políticos<br />
Parece simples, mas não é. Enveredar-se pelas encruzilhadas<br />
da língua e de seu ensino implica assumir posturas pedagógicas,<br />
não desvinculadas de mo<strong>do</strong>s de conceber a língua/linguagem<br />
e, portanto, entrelaçadas a posicio<strong>na</strong>mentos políticos. Três<br />
concepções de linguagem historicamente defendidas, refl etin<strong>do</strong><br />
mo<strong>do</strong>s de ver o mun<strong>do</strong>, o homem, o conhecimento, a sociedade:<br />
1) a linguagem como expressão <strong>do</strong> pensamento; 2) a linguagem<br />
como instrumento de comunicação; 3) a linguagem como forma<br />
2 - Não cabe problematizar aqui as diversas determi<strong>na</strong>ntes desse fracasso e a complexidade da instituição escolar, que se confi gura no âmbito histórico, político,<br />
social e cultural.<br />
2914