Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O PAPEL DA EXPERIÊNCIA NO ENSINO EM EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DO MÉTODO...<br />
a construção de um novo mo<strong>do</strong> de conceber a alfabetização de<br />
adultos, bem como a base de Freire nos estu<strong>do</strong>s pedagógicos e<br />
linguísticos da década de 60.<br />
Dessa forma, para compreender a importância <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong><br />
Paulo Freire é preciso ter em mente o mo<strong>do</strong> como o educan<strong>do</strong><br />
era considera<strong>do</strong> no processo de alfabetização àquela época.<br />
Restringir o méto<strong>do</strong> à palavração é desconsiderar a sua<br />
relevância para os estu<strong>do</strong>s sobre a questão <strong>do</strong> adulto que não se<br />
apropriou da linguagem escrita:<br />
Um <strong>do</strong>s grandes equívocos que se criam no Brasil em<br />
relação a Paulo Freire foi o de imaginá-lo como inventor<br />
de um méto<strong>do</strong> de alfabetização, o famoso “Méto<strong>do</strong><br />
Paulo Freire”. Paulo Freire nunca foi nem pretendeu<br />
ser um metodólogo. Sua contribuição é fi losófi ca e<br />
pedagógica. Sua grande preocupação relacio<strong>na</strong>-se<br />
com a questão da produção de conhecimento e o ato<br />
de conhecer não se dá através <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong>. Méto<strong>do</strong>s<br />
não criam conhecimento. No entanto, não é difícil<br />
identifi car Freire com um Méto<strong>do</strong> de Alfabetização.<br />
(BARRETO, 1996, p. 647-8)<br />
O Méto<strong>do</strong>, <strong>na</strong> atualidade, tem importância pela forma<br />
como propõe o reconhecimento da realidade <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, seja<br />
homem ou mulher, partin<strong>do</strong> da concepção de humanização<br />
como momento de conscientização e diálogo.<br />
As possibilidades <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong> Paulo Freire residem,<br />
assim, <strong>na</strong> sua (re) signifi cação e <strong>na</strong> ampliação <strong>do</strong> conceito<br />
de escrita, com base em pressupostos de alfabetização e<br />
pós-alfabetização. O que se denomi<strong>na</strong> ‘tradicio<strong>na</strong>l’ ou ‘mais<br />
um méto<strong>do</strong> de palavração’ são argumentos que destituem<br />
as contribuições de Freire, quan<strong>do</strong> seria fundamental<br />
levar em conta o que ele diz em relação à humanização e à<br />
conscientização como questões fundamentais para a prática<br />
pedagógica.<br />
O Méto<strong>do</strong> se constrói com base <strong>na</strong> palavração, porém a<br />
palavração carregada de senti<strong>do</strong> para os educan<strong>do</strong>s, basea<strong>do</strong><br />
em suas experiências e em como elas podem afetar o sujeito,<br />
que se tor<strong>na</strong> consciente de sua historicidade. Tal elemento é<br />
importante <strong>na</strong> compreensão da proposta de Freire. O trecho<br />
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />
abaixo, extraí<strong>do</strong> de Educação como prática da liberdade,<br />
sintetiza <strong>parte</strong> de suas questões:<br />
[...] Na verdade, somente com muita paciência é<br />
possível tolerar, após as durezas de um dia de trabalho,<br />
ou de um dia sem “trabalho”, lições que falam de asa<br />
[...] Lições que falam de Evas e de uvas a homens e<br />
que às vezes conhecem poucas Evas e nunca comeram<br />
uvas. “Eva viu a uva”. Pensávamos numa alfabetização<br />
que fosse em si um ato de criação, capaz de<br />
desencadear outros atos cria<strong>do</strong>res. Numa alfabetização<br />
em que o homem, porque não fosse seu paciente, seu<br />
objeto, desenvolvesse a impaciência, a vivacidade,<br />
característica <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s de procura, de invenção e<br />
reivindicação. (FREIRE, 1991, p. 104)<br />
Das afi rmações de Freire (1991) é possível compreender<br />
sua concepção de alfabetização e o que signifi ca, para ele, ler o<br />
mun<strong>do</strong>: um ato de busca, de questio<strong>na</strong>mento e, ainda mais: de<br />
reivindicação. Falar sobre os senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong> Paulo Freire<br />
implica a responsabilidade de compreender o ler e o escrever<br />
como atos políticos e emancipa<strong>do</strong>res, um ler o mun<strong>do</strong> que está<br />
<strong>na</strong>s palavras, trazen<strong>do</strong> em seu bojo a refl exão sobre a condição<br />
huma<strong>na</strong>, sobre o ser e a importância da palavra como ferramenta<br />
de mudança, de conscientização <strong>do</strong> homem.<br />
Outro elemento importante a ser considera<strong>do</strong> <strong>na</strong> compreensão<br />
<strong>do</strong> Méto<strong>do</strong> é o contexto que conduziu à sua construção e a<br />
trajetória de seu representante, Paulo Reglus Neves Freire, que<br />
teve seu primeiro contato com educação de adultos trabalha<strong>do</strong>res<br />
no cargo de diretor <strong>do</strong> setor de Educação e Cultura <strong>do</strong> SESI<br />
(Serviço Social da Indústria). No início <strong>do</strong>s anos 60 fun<strong>do</strong>u<br />
o MCP (Movimento de Cultura Popular) no Recife. Após a<br />
fundação, infl uenciou a criação da campanha “De Pé no Chão<br />
Também se Aprende a Ler”, no Rio Grande <strong>do</strong> Norte. Também<br />
nessa região Freire organizou e dirigiu uma campanha de<br />
alfabetização de adultos em Angicos no ano de 1962, momento<br />
em que fi cou conheci<strong>do</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lmente pela rapidez com que<br />
adultos foram alfabetiza<strong>do</strong>s. Diante <strong>do</strong> reconhecimento, Freire<br />
foi convida<strong>do</strong> pelo Ministro da Educação Paulo de Tarso para a<br />
Campanha Nacio<strong>na</strong>l de Alfabetização em 1963:<br />
2808