Artigos do 18° COLE publicados na revista LTP - 9ª parte
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O POTENCIAL TRANSMIDIÁTICO DE HARRY POTTER E SUAS FANFICTIONS<br />
universo fi ccio<strong>na</strong>l composto por múltiplas “timelines” – linhas<br />
<strong>do</strong> tempo.<br />
Em suma, a convergência ajuda a contar melhores<br />
histórias, a vender marcas e a seduzir o consumi<strong>do</strong>r<br />
utilizan<strong>do</strong> as múltiplas plataformas de mídia. Para<br />
lograr isso, não há como copiar modelos anteriores;<br />
por consequência, é preciso criar e adaptar novas<br />
possibilidades a partir <strong>do</strong>s caminhos já traça<strong>do</strong>s.<br />
(RENÓ; VERSUTI; GONÇALVES; GOSCIOLA,<br />
2011, p. 206)<br />
Durante a produção dessas mídias, os produtores pensam em<br />
tramas onde os sujeitos também possam participar e protagonizar.<br />
E os fãs correspondem a este esforço através da internet crian<strong>do</strong><br />
blogs, fóruns, ou comunidades virtuais, compartilhan<strong>do</strong> opiniões<br />
e sugerin<strong>do</strong> mudanças no rumo da história.<br />
Nas <strong>na</strong>rrativas transmídia também podemos evidenciar<br />
processos interativos como a hipertextualidade, ainda mais<br />
presente <strong>na</strong>s fanfi cs. Contu<strong>do</strong>, é a intertextualidade a maior fonte<br />
da transmidiação, que segun<strong>do</strong> Bakhtin (1986) é o diálogo entre<br />
inúmeros textos. Ou seja, nesse tipo de <strong>na</strong>rrativa o espera<strong>do</strong> é<br />
o cruzamento de conteú<strong>do</strong>s em mídias distintas e não ape<strong>na</strong>s a<br />
soma <strong>do</strong>s mesmos. Podemos dizer que a <strong>na</strong>rrativa transmídia<br />
é um universo cria<strong>do</strong> através de várias mídias, amplian<strong>do</strong> o<br />
conhecimento <strong>do</strong> sujeito sobre o conteú<strong>do</strong> da obra, e fazen<strong>do</strong><br />
com que o mesmo experimente desse universo fi ccio<strong>na</strong>l.<br />
De acor<strong>do</strong> com Bakhtin (1986), to<strong>do</strong> texto vem carrega<strong>do</strong><br />
de polifonias, ou seja, impressões sensoriais e emotivas, e<br />
infl uências <strong>do</strong>s contatos que o autor já teve com outras mídias.<br />
“A forma mais efi caz de persuadir um leitor é o dialogismo e a<br />
intertextualidade que empresta dinâmica ao texto, provocan<strong>do</strong><br />
o receptor à interação.” (RAZ; LUCERA, 2008, p. 7).<br />
Assim, por trás de to<strong>do</strong> texto, encontra-se o sistema<br />
da língua; no texto, corresponde-lhe tu<strong>do</strong> quanto é<br />
repetitivo e reproduzível, tu<strong>do</strong> quanto pode existir<br />
fora <strong>do</strong> texto. Porém, ao mesmo tempo, cada texto<br />
(em sua qualidade de enuncia<strong>do</strong>) é individual, único<br />
e irreproduzível, sen<strong>do</strong> nisso que reside seu senti<strong>do</strong><br />
LEITURA: TEORIA & PRÁTICA (SUPLEMENTO), n.58, jun.2012<br />
(seu desígnio, aquele para o qual foi cria<strong>do</strong>). É com<br />
isso que ele remete à verdade, ao verídico, ao bem,<br />
à beleza, à história. Em relação a esta função, tu<strong>do</strong> o<br />
que é repetitivo e reproduzível é da ordem <strong>do</strong> meio, <strong>do</strong><br />
material. (BAKHTTIN, 1986, p. 331)<br />
Dessa forma o texto uma vez escrito, pode ser li<strong>do</strong>,<br />
repassa<strong>do</strong>, desenha<strong>do</strong> e fi lma<strong>do</strong>, convergin<strong>do</strong> por várias mídias<br />
em diversas plataformas. Assim, toman<strong>do</strong> as características<br />
aqui apresentadas, podemos dizer que, em suma, uma <strong>na</strong>rrativa<br />
transmídia se caracteriza pela capacidade de conexão entre uma<br />
migração entre as mídias, ou seja, a intertextualidade adequada<br />
ao ciberespaço.<br />
San taella (2010) explica que o ciberespaço é constituí<strong>do</strong><br />
pelos computa<strong>do</strong>res e as redes que os conectam, mas que<br />
uma relação entre esses computa<strong>do</strong>res deve surgir antes que<br />
qualquer objeto seja inseri<strong>do</strong> no ciberespaço.<br />
Cada um terá sua pági<strong>na</strong>, seu mapa, seu site, seu<br />
ou seus pontos de vista. Cada um se tor<strong>na</strong>rá autor,<br />
proprietário de uma parcela <strong>do</strong> ciberespaço. Mas essas<br />
pági<strong>na</strong>s, esses sites, esses mapas se correspondem, se<br />
interconectam e confl uem horizontalmente por ca<strong>na</strong>is<br />
móveis e labirínticos. (LÉVY, 2001, p. 141)<br />
Assim, a partir das relevâncias <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s aqui apresenta<strong>do</strong>s,<br />
explicitamos que as <strong>na</strong>rrativas transmídias podem ser também<br />
produtos deriva<strong>do</strong>s dessa conexão proporcio<strong>na</strong>da pelo<br />
ciberespaço, ou seja, as <strong>na</strong>rrativas são os conteú<strong>do</strong>s que serão<br />
migra<strong>do</strong>s nessa convergência de interfaces.<br />
2. Ficção produzida por fãs<br />
As fanfi ctions, - fi cções criadas por fãs - são histórias sem<br />
caráter comercial ou lucrativo, escritas por fãs, utilizan<strong>do</strong><br />
perso<strong>na</strong>gens e universos fi ccio<strong>na</strong>is que não foram cria<strong>do</strong>s por<br />
eles (REIS, 2010), ou seja, a partir de uma história origi<strong>na</strong>l,<br />
fãs criam suas próprias <strong>na</strong>rrativas sem nenhum interesse em<br />
lucrar com suas produções. Essas <strong>na</strong>rrativas também podem<br />
ser consideradas como uma subcultura, pois traz em si<br />
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