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Revista Elas por elas 2014

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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minha situação. Eu ficava me lembrando.<br />

Não tem saída! Abrir não é saída! Não<br />

vai melhorar minha situação! Só vai<br />

piorar a dos outros, sem melhorar a<br />

minha. Então eu não posso falar!”,<br />

conta Jussara.<br />

O relato dela, feito na Comissão da<br />

Verdade, foi também publicado no livro<br />

Mulheres e Militância – Encontros e<br />

confrontos durante a ditadura militar,<br />

publicado pela editora da Universidade<br />

Federal de Minas Gerais (UFMG). Baseada<br />

em entrevistas, a obra reconstitui<br />

a trajetória de nove mulheres oriundas<br />

do movimento estudantil que militaram<br />

contra o regime militar e foram torturadas<br />

nos <strong>por</strong>ões da ditadura. “A gente carrega<br />

socialmente uma memória do silêncio<br />

sobre a ditadura. Na democracia, a<br />

questão do silêncio vai aparecer <strong>por</strong>que<br />

não tratamos isso de forma clara, não<br />

passamos essa história a limpo”, afirma<br />

Ingrid Faria, professora do Departamento<br />

de Psicologia da UFMG e autora do<br />

livro, que contou com a colaboração<br />

das pesquisadoras Zeidi Trindade e Maria<br />

de Fátima Santos. Segundo Ingrid, algo<br />

que a surpreendeu foi a capacidade de<br />

resistência dessas mulheres, mesmo após<br />

terem passado <strong>por</strong> tantas adversidades.<br />

“Quando eu terminava de ouvir as entrevistas,<br />

ficava às vezes três dias sem<br />

conseguir conversar. Essa foi uma coisa<br />

que me impactou muito. Essas pessoas,<br />

em determinados momentos, quiseram<br />

morrer para acabar com o sofrimento<br />

que estavam vivendo. Como <strong>elas</strong> conseguiram<br />

reconstruir suas vidas? Isso é<br />

algo impressionante. Como não enlouqueceram,<br />

não sucumbiram e tiveram a<br />

capacidade de sobreviver a isso”, aponta<br />

Ingrid.<br />

A professora avalia que o atual momento,<br />

em que o país completa 50<br />

anos do golpe, é propício para redescobrir<br />

o papel das mulheres na luta contra<br />

o regime militar.“Tivemos um cenário<br />

político que chamou as mulheres para<br />

responderem, e <strong>elas</strong> responderam politicamente,<br />

para a história do país e da<br />

democracia. Foi uma contribuição muito<br />

grande”. Confira abaixo trechos da entrevista<br />

concedida à <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong>.<br />

Modelos<br />

Uma d<strong>elas</strong> engravidou no período<br />

de clandestinidade e teve de sair do<br />

país. Deixou uma filha aqui, com os<br />

avós. Então se rompeu muito com desejos,<br />

com modelos. Essa coisa de naquela<br />

época as mulheres saírem do<br />

país com os companheiros de militância,<br />

que eram seus relacionamentos afetivo-amorosos,<br />

sem serem casadas, teve<br />

um impacto muito grande, subjetivamente,<br />

para <strong>elas</strong> mesmas, em algumas<br />

dimensões, e para <strong>elas</strong> em relação às<br />

famílias.<br />

Coletividade<br />

Em termos dos perfis, o que as<br />

aproxima muito é o sentimento de coletividade,<br />

de doação, algo que se<br />

perdeu muito nas gerações posteriores.<br />

Era algo muito presente na socialização<br />

d<strong>elas</strong> como um todo. No geral, há uma<br />

presença forte de ligações humanistas,<br />

não necessariamente religiosas. Está<br />

presente também, de certa maneira,<br />

uma resistência ao autoritarismo, seja<br />

ele qualquer que fosse, num momento<br />

em que isso eclode no mundo inteiro.<br />

Essas questões estão presentes em toda<br />

formação d<strong>elas</strong>. Se você pega o que<br />

<strong>elas</strong> leram quando criança, a geração<br />

da gente não leu isso nem na universidade.<br />

Tipo Gramsci, Sartre. Era muita<br />

filosofia, desde muito cedo.<br />

Gênero e militância<br />

Você não tinha ainda uma discussão<br />

sobre esse lugar do feminino. Mas<br />

várias d<strong>elas</strong> relataram, <strong>por</strong> exemplo,<br />

dentro das organizações, um lugar de<br />

certa forma secundário, no sentido de<br />

ação. Essas mulheres tinham posicionamentos<br />

e colocavam esses posicionamentos.<br />

Mas na hora da negociação<br />

das ações, ainda prevaleciam modelos<br />

tradicionais. Algumas d<strong>elas</strong> tinham liderança.<br />

O que <strong>elas</strong> viam era que a<br />

condição feminina era muito usada<br />

contra <strong>elas</strong>. Por exemplo, as que tinham<br />

ligação com a Ação Popular (AP), que<br />

era de origem católica, eram chamadas<br />

de igrejeiras, de mulherzinha, de burguesinhas.<br />

Então havia essa conotação<br />

de diminuí-las politicamente em função<br />

dessa origem feminina. Mas naquele<br />

momento, essa leitura não estava presente<br />

pra <strong>elas</strong>. <strong>Elas</strong> sabiam que acontecia,<br />

conseguiam perceber que isso<br />

era acionado, mas não <strong>por</strong> essa dimensão<br />

do ser mulher efetivamente.<br />

Maternidade<br />

A questão da maternidade tem uma<br />

característica muito forte no relato e<br />

na trajetória d<strong>elas</strong>. Para o bem e para<br />

o mal. Para o bem, em alguns momentos,<br />

essa condição feminina as pro-<br />

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