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Revista Elas por elas 2014

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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“As mulheres precisam estar<br />

nuas para entrar no Metropolitan<br />

Museum? Menos de 5% dos artistas<br />

nas seções de arte moderna são<br />

mulheres, mas 85% dos nus são<br />

femininos”, diz um cartaz, de 1989,<br />

assinado pelo Guerrilla Girls, grupo<br />

criado na década de 80, em Nova<br />

York, que reúne mulheres famosas<br />

<strong>por</strong> usarem máscaras de gorila em<br />

suas intervenções feministas e<br />

nomes de artistas falecidas como<br />

pseudônimos.<br />

A provocação do Guerrilla Girls<br />

é um símbolo do debate sobre a<br />

presença das mulheres nas artes<br />

plásticas, cuja falta de destaque<br />

para as artistas reflete o preconceito<br />

e o machismo da sociedade, como<br />

mostra a própria história do feminino<br />

na arte.<br />

“Em 2011, mais de duas décadas<br />

após o primeiro levantamento, o<br />

coletivo Guerrilla Girls decidiu realizar<br />

uma nova contagem das obras<br />

do Metropolitan Museum. Deparou-se<br />

com um dado surpreendente:<br />

diminuíram tanto o número<br />

de mulheres nas seções de arte<br />

moderna e contem<strong>por</strong>ânea (de 5%<br />

para 4%) quanto o número de nus<br />

femininos (de 85% para 76%)”,<br />

destaca a re<strong>por</strong>tagem da <strong>Revista</strong><br />

Bravo, Mulheres ainda são minoria<br />

na arte? (maio/2013).<br />

Na pesquisa de doutorado da<br />

cientista social e professora da USP<br />

Ana Paula Cavalcanti Simioni, de<br />

2008, ela localizou, no Brasil, uma<br />

cifra de mais de 212 artistas mulheres<br />

que participaram, entre 1844 e 1922,<br />

das exposições gerais (com a República,<br />

denominadas Salões Nacionais<br />

de B<strong>elas</strong> Artes), praticamente todas<br />

<strong>elas</strong> ainda hoje desconhecidas. Na<br />

sua tese Profissão artista: pintoras<br />

e escultoras acadêmicas, a professora<br />

destaca e analisa duas causas de obliteração<br />

da trajetória das artistas<br />

brasileiras. Primeiramente, o acesso<br />

desigual à formação artística e, em<br />

segundo lugar, o papel desempenhado<br />

pelos críticos de arte. “A questão da<br />

formação está atrelada à da crítica.<br />

Ela foi significativa para excluir as<br />

mulheres do grande gênero da pintura<br />

histórica, que era considerado o mais<br />

elevado pelo sistema acadêmico”,<br />

afirma (leia a entrevista na página<br />

71).<br />

A sua constatação é de que,<br />

historicamente, o trabalho feminino<br />

foi muito sub-representado no<br />

campo artístico, ainda que existam<br />

exceções e que as mulheres artistas<br />

existiram, mas não estão expostas<br />

<strong>por</strong>que não foram reconhecidas.<br />

Desigualdade de<br />

gênero na arte<br />

Em Paris, o Centro George<br />

Pompidou possui uma coleção de<br />

obras feitas <strong>por</strong> mulheres. A exposição<br />

Elles: mulheres artistas esteve<br />

no Brasil em 2013, com 20 trabalhos<br />

de 65 artistas que representam<br />

mais de 100 anos de arte feminina,<br />

de 1907 a 2010.<br />

A professora Samantha Simões<br />

Braga, graduada em publicidade,<br />

mestre em Literaturas de Língua<br />

“<br />

As mulheres artistas<br />

não estão expostas<br />

<strong>por</strong>que não foram<br />

reconhecidas<br />

Portuguesa e doutoranda em Literatura<br />

Comparada, levou suas<br />

turmas de alunos da PUC Minas<br />

para ver a exposição. Na sua avaliação,<br />

a exposição Elles foi claustrofóbica<br />

e pesada, mas im<strong>por</strong>tante<br />

para a reflexão sobre o espaço das<br />

mulheres nos museus, que antes<br />

eram vistas somente como musas<br />

e não eram reconhecidas como<br />

verdadeiras artistas.<br />

“Alguns alunos relataram mal<br />

estar com a exposição. As obras<br />

tocam em pontos polêmicos como<br />

o lugar de submissão em que as<br />

mulheres foram colocadas na arte<br />

e na sociedade. Apesar de tudo, a<br />

mulher hoje ainda está em um lugar<br />

periférico. A mulher artista passa<br />

<strong>por</strong> mais dificuldades do que os<br />

homens, pois em tudo ela precisa<br />

provar sua capacidade. Há muito<br />

machismo e preconceito. Os debates<br />

sobre o feminismo estagnaram<br />

como se a desigualdade de gênero<br />

já estivesse resolvida, mas a gente<br />

vê que não está”, opina Samantha.<br />

Impactos de uma<br />

história de preconceitos<br />

Quando se questiona o fato de<br />

não existirem artistas do sexo femini -<br />

no equiparadas a Leonardo da Vinci<br />

e Michelangelo, é preciso resgatar<br />

um pouco da construção da história<br />

das mulheres na arte. Para se ter<br />

uma ideia, em 1582, uma pintora<br />

espanhola foi proibida pelo pai de<br />

tornar-se retratista oficial do reino.<br />

O fato de a obra ser pintada<br />

<strong>por</strong> uma mulher desvalorizava a<br />

obra, <strong>por</strong>tanto muitas passavam a<br />

autoria para os homens. Como cita<br />

a re<strong>por</strong>tagem da <strong>Revista</strong> Bravo,<br />

em 1922, <strong>por</strong> exemplo, o Metropolitan<br />

Museum, em Nova York,<br />

adquiriu a tela Charlotte du Val<br />

d’Ognes acreditando tratar-se de<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - março <strong>2014</strong> 69

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