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Revista Elas por elas 2014

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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mais avanços nós tivermos, o Brasil<br />

será ainda melhor. Precisamos ter a<br />

nossa contribuição reconhecida. Eu<br />

tenho fé, as próximas gerações vão colher<br />

os frutos da luta <strong>por</strong> direitos”.<br />

A historiadora Agda Marina Ferreira<br />

é assessora da Federação Quilombola.<br />

Sua principal função é visitar as comunidades<br />

quilombolas e levar informações<br />

sobre direitos e viabilizar o acesso às<br />

políticas públicas.<br />

Admirada com o modo de vida coletivo,<br />

Agda fala das diferenças entre<br />

uma mulher que nasce em uma comunidade<br />

quilombola e uma que vive na<br />

cidade. “Nas cidades é pregado o individualismo,<br />

o que praticamente não<br />

existe nas comunidades. <strong>Elas</strong> se reúnem<br />

para fazer quase tudo. Cozinham,<br />

bordam, contam histórias, cantam,<br />

dançam, tudo em grupo. A solidariedade<br />

é um ponto crucial entre as mulheres<br />

desse meio. Os laços afetivos são muito<br />

fortes entre as famílias quilombolas”.<br />

Para a historiadora, em muitas ocasiões,<br />

as mulheres se tornam líderes<br />

<strong>por</strong> vocação, em outras <strong>por</strong> necessidade,<br />

entretanto, o machismo ainda é uma<br />

mancha que insiste em não desaparecer.<br />

“Na região do Jequitinhonha, <strong>por</strong><br />

exemplo, acontece um fenômeno no<br />

qual os homens saem para trabalhar e<br />

ficam durante meses em outras cidades.<br />

Nesses casos, as mulheres assumem<br />

tudo. <strong>Elas</strong> tomam as decisões. Em<br />

outros lugares, as meninas casam-se<br />

muito cedo e são totalmente submissas<br />

aos maridos. São obrigadas a parar<br />

com os estudos e relatam muito sofrimento.<br />

Também existem alguns casos<br />

de violência doméstica. São muitas<br />

questões a serem superadas”.<br />

O Quilombo na cidade<br />

A comunidade matriarcal dos<br />

Luízes resiste às pressões urbanas<br />

A comunidade quilombola dos Luízes<br />

situa-se no bairro Grajaú, na capital<br />

mineira. São um dos poucos povos<br />

quilombolas que ainda resistem nas<br />

grandes cidades. De acordo com informações<br />

do Centro de Documentação<br />

Eloy Ferreira da Silva, existem relatos<br />

dessa comunidade desde 1895, quando<br />

seu território era em Nova Lima.<br />

O fato inusitado em relação aos<br />

Luízes é que eles vieram de um relacionamento<br />

entre um fazendeiro e uma<br />

escrava. Antônio Luiz Simões Lopes e<br />

Anna Apolinária tiveram nove filhos.<br />

Eles são um caso excepcional, herdeiros<br />

de um escravagista. Antônio Luiz doou<br />

suas terras para a mulher, que se tornou<br />

a matriarca da comunidade.<br />

A bisneta do casal explica um pouco<br />

da história da família “Nossa família<br />

começou com uma mulher. Estamos à<br />

frente na luta pelos direitos. Minha tia<br />

Cordelina foi assassinada <strong>por</strong> causa<br />

disso. Eu já tive sob a proteção dos direitos<br />

humanos”, relata Maria Luzia Sidônio.<br />

Maria esclarece que a comunidade<br />

dos Luízes é certificada como quilombola<br />

pela Fundação Cultural Palmares. No<br />

entanto, seus moradores sofrem forte<br />

pressão devido aos inúmeros projetos<br />

imobiliários que vêm se instalando na<br />

região nas últimas décadas. A manutenção<br />

de seu território é uma das<br />

grandes lutas dos Luízes.<br />

A comunidade originariamente<br />

tinha 18 mil metros quadrados, com<br />

mais de duas mil pessoas morando em<br />

37 lotes. Com as invasões e construções<br />

no entorno das moradias, o terreno<br />

diminuiu para 6 mil metros<br />

quadrados onde vivem, hoje, cerca de<br />

150 pessoas. Segundo relato de moradores,<br />

as danças afro, que ocorriam aos<br />

sábados, quase não acontecem mais,<br />

devido às reclamações da vizinhança incomodada<br />

com barulho dos batuques.<br />

Outro problema foi a perda do centro<br />

cultural, local que se transformou em<br />

um prédio residencial.<br />

Dona Luzia se orgulha ao dizer que<br />

na comunidade não há analfabetismo,<br />

e com relação aos projetos para seu<br />

povo, ela apresenta o sonho de construírem<br />

uma capela e um espaço para<br />

realização de cursos profissionalizantes<br />

e resgate das manifestações culturais.<br />

Todavia, ela conclui: “para isso é necessário<br />

garantirmos a nossa permanência<br />

aqui”.<br />

Forte papel das mulheres<br />

A professora de história e pesquisadora<br />

Miriam Aprígio é moradora da<br />

comunidade. Ela reafirma a frequência<br />

de mulheres em funções ativas. “Constatei<br />

na minha pesquisa que muitas<br />

mulheres ficaram responsáveis p<strong>elas</strong><br />

famílias. A Maria Luiza, minha bisavó,<br />

tomava as decisões e todos acatavam.<br />

Ela era o elo entre as gerações”.<br />

“Essa é a minha história. É de onde<br />

eu venho e de onde eu sou. Me tornei<br />

professora, para repassar essa história<br />

que está no meu sangue. É algo muito<br />

vivo na memória das pessoas daqui. A<br />

ligação comunal, uma vivência interligada,<br />

um zelo pelo outro, não é só <strong>por</strong><br />

obrigação, são laços eternos. Isso fortaleceu<br />

o papel da mulher. Apesar de<br />

estarmos no meio urbano, permanecemos<br />

quilombolas”, reflete Miriam.ø<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - março <strong>2014</strong> 43

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