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Revista Elas por elas 2014

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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Quantas mulheres você conhece? E<br />

quantas você sabe que sofreram violência<br />

sexual? Talvez você não conheça nenhuma,<br />

pois é um crime que ninguém<br />

fala sobre ele, nem para a melhor amiga.<br />

Crime invisível! Porém, os casos de estupro<br />

são maiores do que o de homicídio<br />

doloso (com intenção de matar), conforme<br />

os resultados dos estudos do 7º<br />

Anuário Brasileiro de Segurança Pública,<br />

do Fórum Brasileiro de Segurança Pública<br />

(FBSP), publicado em 2013. Os estudos<br />

registram 50,6 mil casos de estupro em<br />

todo o país, enquanto os de homicídios<br />

dolosos chegaram a 47,1 mil mortes. O<br />

número de estupros no Brasil subiu<br />

18,17% em 2012, na comparação com<br />

o ano anterior. O que significa dizer que<br />

foi de 22, 1 estupros <strong>por</strong> grupo de 100<br />

mil habitantes em 2011, para 26,1 em<br />

2012.<br />

Ao avaliar essa pesquisa, o membro<br />

do Fórum Brasileiro de Segurança Pública,<br />

professor Robson Sávio, alerta<br />

para a necessidade de considerarmos<br />

duas variáveis. A primeira é que o<br />

estudo foi baseado na nova legislação,<br />

a Lei Federal 12.015, de 2009, que<br />

altera a conceituação de “estupro”,<br />

passando a incluir, além da conjunção<br />

carnal, os “atos libidinosos” e “atentados<br />

violentos ao pudor”. Isso, provavelmente,<br />

aumenta a quantidade de registros.<br />

A segunda é que há, cada vez<br />

mais, políticas públicas com mecanismos<br />

que garantem a integridade da mulher<br />

que denuncia o estupro: novos canais<br />

de denúncia, delegacias especializadas,<br />

etc. Portanto, melhores mecanismos<br />

que auxiliam no aperfeiçoamento da<br />

coleta de dados. “Infelizmente, os casos<br />

reais são muito maiores que aqueles<br />

noticiados às agências estatais, principalmente<br />

às polícias – dado que outras<br />

agências públicas, como a saúde pública,<br />

<strong>por</strong> exemplo, têm obrigação de notificação<br />

do crime”, afirma.<br />

Na realidade, <strong>por</strong> medo e pelo estigma,<br />

milhares de mulheres não denunciam<br />

o estupro. Muitas vezes são<br />

abusadas durante anos, mas preferem<br />

o sofrimento solitário a se ex<strong>por</strong>em<br />

publicamente. De acordo com Robson<br />

Sávio, vivemos uma “certa hipocrisia<br />

social que revitima a mulher. Além de<br />

sofrer a violência, a mulher é quase<br />

condenada ao silêncio”.<br />

Nossa cultura retrata uma sociedade<br />

machista e patriarcal, que ainda vê a<br />

mulher como mercadoria, e não dona<br />

de seu corpo e da sua sexualidade.<br />

Essa mentalidade precisa mudar para<br />

atingirmos um patamar de igualdade e<br />

respeito. Na avaliação de Robson Sávio,<br />

é inadmissível que o Estado não aprimore<br />

os mecanismos de prevenção e<br />

punição dos autores da violência contra<br />

a mulher. “Lembrando que em relação<br />

aos autores do ato violento há que se<br />

pensar em medidas para além da simples<br />

detenção, haja vista que, muitas vezes,<br />

foram também vítimas de abusos sexuais,<br />

principalmente na infância. A vingança<br />

como punição nesse e noutros casos<br />

não resolve o problema. Trata-se, <strong>por</strong>tanto,<br />

de um enfrentamento complexo<br />

e difícil, <strong>por</strong>que é perpassado <strong>por</strong> outros<br />

elementos, como <strong>por</strong> exemplo a rotulação<br />

e estigmatização das vítimas pela<br />

sociedade”, ressalta.<br />

Problema mundial<br />

Notícias de estupros coletivos na<br />

Índia chocam o mundo inteiro, mas,<br />

na realidade, a violência sexual é um<br />

problema global. De acordo com estudo<br />

feito em 56 países e publicado em fevereiro<br />

de <strong>2014</strong>, na revista The<br />

Lancet, uma em cada 14 mulheres já<br />

foi, pelo menos uma vez, vítima de violência<br />

sexual <strong>por</strong> parte de alguém que<br />

não o seu parceiro.<br />

Matéria divulgada na Agência Brasil<br />

mostra que a realidade varia de país<br />

para país. As mais altas taxas de violência<br />

sexual estão no Centro da África<br />

Subsaariana (21% na República Democrática<br />

do Congo), no Sul da mesma<br />

região (17,4% na Namíbia, África do<br />

Sul e no Zimbabue), e na Oceania<br />

(16,4% na Nova Zelândia e Austrália).<br />

Os países do Norte da África e Médio<br />

Oriente (4,5% na Turquia) e no Sul da<br />

Ásia (3,3% na Índia e em Bangladesh)<br />

registraram as taxas mais baixas. No<br />

Brasil, a <strong>por</strong>centagem encontrada foi<br />

de 7,6%. Já no Uruguai e na Argentina,<br />

o percentual ficou em 5,8%. O Peru registrou<br />

a taxa de 15,3%.<br />

Na Europa, os países do Leste (6,9%<br />

na Lituânia, Ucrânia e no Azerbaijão)<br />

têm percentual muito mais baixo do<br />

que os do Centro (10,7% na República<br />

Tcheca, Polônia, Sérvia, em Montenegro<br />

e Kosovo) e do que os do Ocidente<br />

(11,5% na Suíça, Espanha, Suécia, no<br />

Reino Unido, na Dinamarca, Finlândia<br />

e Alemanha).<br />

Já a pesquisa da ONU, realizada<br />

em seis países asiáticos com 10 mil<br />

homens, indica que 24% deles admitem<br />

ter praticado o crime. Durante quatro<br />

anos, agentes da ONU visitaram lares<br />

de áreas urbanas e rurais de Bangladesh,<br />

Camboja, China, Indonésia, Papua-<br />

Nova Guiné e Sri Lanka. A novidade<br />

desse estudo é que ele se baseia em<br />

conversas individuais com homens, e<br />

não com mulheres vítimas de estupros,<br />

tanto em zonas urbanas como rurais.<br />

A pergunta não era, especificamente,<br />

se haviam praticado estupro e sim se já<br />

haviam forçado uma mulher que não<br />

era a esposa ou namorada a ter relações<br />

sexuais. O resultado mostra que 11%<br />

dos entrevistados relataram ter cometido<br />

o crime ao menos uma vez na vida,<br />

sendo que a taxa subiu para 24%<br />

quando foram consideradas a esposa,<br />

a noiva ou a namorada. Os pesquisadores<br />

constaram também que homens<br />

com histórico de vitimização, como<br />

abuso sexual na infância ou coagidos<br />

sexualmente, tinham mais probabilidade<br />

de cometer o crime.<br />

Uma das pesquisadoras que participaram<br />

do estudo, Emma Fulu, disse,<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - março <strong>2014</strong> 59

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