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PERFIL | <strong>por</strong> Nanci Alves | fotos: Arquivo Noisinho da Silva Érika Foureaux: o sonho de mudar o mundo pelo designer Nascida em Belo Horizonte, a designer Érika Foureaux, hoje diretora do Instituto Noisinho da Silva, foi, ainda pequena, para Paris, onde passou quase toda a infância <strong>por</strong> causa do exílio dos pais, ex-militantes do Partido Comunista. “A vida foi boa comigo, me colocou no lugar que é o berço do humanismo, do ativismo, do pensamento. Vivi toda a infância em Paris, na década de 70, uma época fervilhante. Tive também uma boa escola dentro de casa, pois com pais militantes políticos, aprendi a ser contestadora. Meus pais me ensinaram que as leis existem, mas devem ser questionadas, desde que com boa argumentação. Por isso, ainda pequena, já contestava até meus próprios pais”, conta Érika. No início da adolescência, Érika retornou para a França, apenas com a mãe e a única irmã, onde ficou até os 18 anos. “Meus pais haviam se separado e minha mãe queria fazer um curso na França. Ao voltar novamente para o Brasil, me casei com o Vitor. Quando nasceu minha primeira filha, Júlia, entrei em uma loja de uma marca francesa, da qual admirava o design dos seus produtos. Queria que o quarto do meu bebê tivesse aquela cara. Durante nossa conversa na loja, me convidaram para trabalhar com eles. Bastava um treinamento”, lembra. Além deste contrato de trabalho, Érika e seu marido passaram a ser representantes desta empresa francesa no Brasil, <strong>por</strong> meio de franquia. Por um tempo sua vida foi assim até que aos 25 anos, arquiteta e mãe de 3 filhas (Júlia, Sophia e Nina), fez um curso de design de produtos na Universidade do Estado de Minas Gerais, (UEMG). “Vi que já estava transitando mais na área de designer do que de arquitetura, mas precisava me profissionalizar didaticamente. Durante o curso, formamos um grupo de estudo para mostrar que designer não era supérfluo e que podíamos fazer mudanças na sociedade <strong>por</strong> meio dele. Já era um movimento no mundo todo”, reforça. Em sintonia com esses acontecimentos, Érika experimentava mudanças em sua vida pessoal. Com o nascimento da segunda filha, Sophia, que tem deficiência física, ela se viu diante de novo desafio. “Eu, com dificuldades “ Senti que tinha que fazer alguma coisa para garantir uma o<strong>por</strong>tunidade igualitária para Sophia. para as injustiças, senti que tinha que fazer alguma coisa para gerar uma o<strong>por</strong>tunidade igualitária para Sophia. Muita coisa a Júlia tinha permissão para fazer e a Sophia não, <strong>por</strong>que não conseguia se sentar sozinha, <strong>por</strong> exemplo. Achamos uma cadeira nos Estados Unidos, mas era horrível, muito cara e com conotação médica. Mais tarde, quando Sophia foi para o ensino fundamental, o problema se agravou. “No primeiro dia de aula, a gente preparou a escola, mas na hora que abrimos a <strong>por</strong>ta da sala, ela falou: mãe, como vou assentar nesta carteira? Aí, minha ficha caiu. Pensei: É mesmo, Sophia não vai aprender deste jeito, ela precisa de uma cadeira que dê apoio, condições, segurança”, conta. Essas demandas diárias motivaram Érika a buscar uma resposta <strong>por</strong> meio do seu trabalho de designer. “Reconheço que só pensei em inclusão <strong>por</strong>que tive a Júlia antes. Como ofereci o que pude para ela, me dei conta de que aquela situação era desigual e que algo precisava ser feito pela Sophia. Ainda não sabia como e nem o quê”, afirma Érika ao ressaltar que quando um mulher engravida não imagina ter um filho com algum problema, mas precisa ter em mente que sempre tem uma forma de melhorar a realidade. “O que é necessário é estar disposto a encarar os desafios. Assim, o primeiro momento é aceitar que seu filho tem alguma deficiência; depois, buscar tratamento ade- <strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - março <strong>2014</strong> 75