Revista Elas por elas 2014
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
PERFIL | <strong>por</strong> Nanci Alves | fotos: Arquivo Noisinho da Silva<br />
Érika Foureaux: o sonho de<br />
mudar o mundo pelo designer<br />
Nascida em Belo Horizonte, a designer<br />
Érika Foureaux, hoje diretora<br />
do Instituto Noisinho da Silva, foi, ainda<br />
pequena, para Paris, onde passou quase<br />
toda a infância <strong>por</strong> causa do exílio dos<br />
pais, ex-militantes do Partido Comunista.<br />
“A vida foi boa comigo, me colocou<br />
no lugar que é o berço do humanismo,<br />
do ativismo, do pensamento. Vivi toda<br />
a infância em Paris, na década de 70,<br />
uma época fervilhante. Tive também<br />
uma boa escola dentro de casa, pois<br />
com pais militantes políticos, aprendi<br />
a ser contestadora. Meus pais me ensinaram<br />
que as leis existem, mas devem<br />
ser questionadas, desde que com boa<br />
argumentação. Por isso, ainda pequena,<br />
já contestava até meus próprios pais”,<br />
conta Érika.<br />
No início da adolescência, Érika retornou<br />
para a França, apenas com a<br />
mãe e a única irmã, onde ficou até os<br />
18 anos. “Meus pais haviam se separado<br />
e minha mãe queria fazer um curso na<br />
França. Ao voltar novamente para o<br />
Brasil, me casei com o Vitor. Quando<br />
nasceu minha primeira filha, Júlia,<br />
entrei em uma loja de uma marca francesa,<br />
da qual admirava o design dos<br />
seus produtos. Queria que o quarto do<br />
meu bebê tivesse aquela cara. Durante<br />
nossa conversa na loja, me convidaram<br />
para trabalhar com eles. Bastava um<br />
treinamento”, lembra.<br />
Além deste contrato de trabalho,<br />
Érika e seu marido passaram a ser representantes<br />
desta empresa francesa<br />
no Brasil, <strong>por</strong> meio de franquia. Por<br />
um tempo sua vida foi assim até que<br />
aos 25 anos, arquiteta e mãe de 3<br />
filhas (Júlia, Sophia e Nina), fez um<br />
curso de design de produtos na Universidade<br />
do Estado de Minas Gerais,<br />
(UEMG). “Vi que já estava transitando<br />
mais na área de designer do que de arquitetura,<br />
mas precisava me profissionalizar<br />
didaticamente. Durante o curso,<br />
formamos um grupo de estudo para<br />
mostrar que designer não era supérfluo<br />
e que podíamos fazer mudanças na sociedade<br />
<strong>por</strong> meio dele. Já era um movimento<br />
no mundo todo”, reforça.<br />
Em sintonia com esses acontecimentos,<br />
Érika experimentava mudanças<br />
em sua vida pessoal. Com o nascimento<br />
da segunda filha, Sophia, que tem deficiência<br />
física, ela se viu diante de<br />
novo desafio. “Eu, com dificuldades<br />
“<br />
Senti que tinha que<br />
fazer alguma coisa para<br />
garantir uma o<strong>por</strong>tunidade<br />
igualitária para Sophia.<br />
para as injustiças, senti que tinha que<br />
fazer alguma coisa para gerar uma<br />
o<strong>por</strong>tunidade igualitária para Sophia.<br />
Muita coisa a Júlia tinha permissão<br />
para fazer e a Sophia não, <strong>por</strong>que não<br />
conseguia se sentar sozinha, <strong>por</strong><br />
exemplo. Achamos uma cadeira nos<br />
Estados Unidos, mas era horrível, muito<br />
cara e com conotação médica. Mais<br />
tarde, quando Sophia foi para o ensino<br />
fundamental, o problema se agravou.<br />
“No primeiro dia de aula, a gente preparou<br />
a escola, mas na hora que<br />
abrimos a <strong>por</strong>ta da sala, ela falou:<br />
mãe, como vou assentar nesta carteira?<br />
Aí, minha ficha caiu. Pensei: É mesmo,<br />
Sophia não vai aprender deste jeito,<br />
ela precisa de uma cadeira que dê<br />
apoio, condições, segurança”, conta.<br />
Essas demandas diárias motivaram<br />
Érika a buscar uma resposta <strong>por</strong> meio<br />
do seu trabalho de designer. “Reconheço<br />
que só pensei em inclusão <strong>por</strong>que tive<br />
a Júlia antes. Como ofereci o que pude<br />
para ela, me dei conta de que aquela<br />
situação era desigual e que algo precisava<br />
ser feito pela Sophia. Ainda não sabia<br />
como e nem o quê”, afirma Érika ao<br />
ressaltar que quando um mulher engravida<br />
não imagina ter um filho com<br />
algum problema, mas precisa ter em<br />
mente que sempre tem uma forma de<br />
melhorar a realidade. “O que é necessário<br />
é estar disposto a encarar os desafios.<br />
Assim, o primeiro momento é<br />
aceitar que seu filho tem alguma deficiência;<br />
depois, buscar tratamento ade-<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - março <strong>2014</strong> 75