Revista Elas por elas 2014
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
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Bruno Carvalho<br />
sociedade diz que ciúme é amor, e a<br />
jovem, muitas vezes animada p<strong>elas</strong><br />
amigas, é levada a achar bonito o namorado<br />
ciumento e não percebe que isso é,<br />
na verdade, a tentativa de dominar o seu<br />
corpo, a sua vida. O ciclo vai aumentando.<br />
Começa com uma coisinha à toa como<br />
‘não use esta roupa ou não saia com<br />
esta pessoa’, e depois vêm as proibições,<br />
gritos, tapas, etc. E a mulher ainda escuta<br />
dele e de toda a sociedade: ‘quem mandou<br />
você fazer isso? Você sabia que ele não<br />
queria’. O ciúme é resultante de uma<br />
cultura autoritária que precisa ser identificado<br />
logo no início como a centelha<br />
que vai incendiar lá na frente. A mulher<br />
precisa se colocar neste momento, logo<br />
na primeira manifestação, e dizer: você<br />
não pode controlar meu andar no<br />
mundo”, reforça Marlise Matos (foto).<br />
Mudar padrão de com<strong>por</strong>tamento<br />
social é muito difícil. E todos precisam<br />
fazer sua parte nesse processo de transformação.<br />
Assim, a escola, enquanto<br />
segunda instância de socialização, tem<br />
papel fundamental. A pesquisadora<br />
alerta que a escola e cada educador<br />
não podem se furtar ao debate de temáticas<br />
como gênero, sexualidade,<br />
questão racial: “é preciso buscar qualificação<br />
nesses temas. Hoje temos o<strong>por</strong>tunidades<br />
gratuitas e à distância como<br />
a Rede de Educação para a Diversidade<br />
do Ministério da Educação com cursos<br />
à distância, gratuitos. O professor que<br />
nunca busca informação e apoio para<br />
ajudar seus alunos na reflexão crítica<br />
está ajudando a manter esse ciclo perverso<br />
de dominação de gênero”.<br />
Na avaliação de Marlise Matos, precisamos<br />
acabar com estereótipos e desmistificar<br />
a ideia de que meninos podem,<br />
e meninas não. Essas ideias vão sendo<br />
repetidas, inculturadas <strong>por</strong> todos. “É<br />
comum ouvirmos piadas e frases que<br />
reforçam essa cultura como, <strong>por</strong><br />
exemplo, quando uma mulher está grávida<br />
de menina e um amigo ou parente<br />
fala para o pai da criança: ‘ah, agora,<br />
você passa de consumidor para fornecedor’!<br />
São mensagens machistas de<br />
desvalorização do sexo feminino e que<br />
reforçam o ciclo de violência”, afirma.<br />
Da mesma forma, a violência não é<br />
vista, <strong>por</strong> exemplo, quando a sociedade<br />
erotiza o corpo feminino. Desde criança,<br />
a menina aprende tirar fotos sensuais,<br />
usar maquiagem excessiva para as<br />
festas, usar roupas justas e coladas. Se<br />
ela não faz, está fora do contexto. Homens<br />
e mulheres são socializados nesta<br />
cultura reducionista, de banalização do<br />
corpo. Para Marlise Matos, “o corpo<br />
erotizado, permanentemente visível, é<br />
também uma forma de manter a mulher<br />
no lugar de subordinação, de objeto.“A<br />
cultura estimula a mulher a mostrar, fazendo-a<br />
se sentir valorizada assim <strong>por</strong><br />
meio da música, do carnaval, do BBB,<br />
da Globeleza…. É a cultura do estupro.<br />
A sociedade, o tempo todo, estimula<br />
que a mulher use seu corpo e depois a<br />
responsabiliza quando é vítima de violência:<br />
– mas ela só andava mostrando<br />
o corpo! É um paradoxo. Vamos ter<br />
que conviver com isso <strong>por</strong> algum tempo<br />
até que todos se esforcem para a mudança<br />
cultural e um dos caminhos,<br />
acredito, é termos mais mulheres no<br />
exercício do poder”, diz.<br />
A culpa é sempre dela<br />
Até mesmo quando o assunto é criticar<br />
o machismo, a mulher fica com a<br />
responsabilidade, pois a frase mais<br />
comum é: “Quem educa o homem é a<br />
mulher, então ela forma o machista”.<br />
Culpar a mulher <strong>por</strong> tudo é também<br />
um ato de violência. Para a Promotora<br />
de Justiça do Ministério Público do Estado<br />
de São Paulo e Coordenadora do<br />
Núcleo de Combate à Violência Doméstica<br />
e Familiar contra a Mulher -<br />
Grande São Paulo II, Maria Gabriela<br />
Prado Manssur, mudar essa mentalidade<br />
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