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Revista Elas por elas 2014

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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quando Patrícia lhe mostrou alguns<br />

poemas. Bopp sugeriu que ela adotasse<br />

um nome literário feito com as primeiras<br />

sílabas de seu nome e sobrenome:<br />

Pagu. Foi um engano de Bopp, pensando<br />

que a moça se chamasse Patrícia<br />

Goulart. Mas ele escreveu um poema<br />

para ela, “O côco de Pagu”, e o apelido<br />

ficou.<br />

Natural de São João da Boa<br />

Vista/SP, nasceu em 9 de junho de<br />

1910, mudou-se para a capital em<br />

1912. Morou na Liberdade, no Brás,<br />

na Aclimação, na Bela Vista e em uma<br />

chácara no então município de Santo<br />

Amaro. Depois de breves períodos no<br />

Rio de Janeiro e em Paris, para fugir<br />

da repressão, encontrou sossego em<br />

Santos, onde morreu em decorrência<br />

de um câncer, em 12 de dezembro de<br />

1962. Por conta da doença e após sair<br />

da prisão, Patrícia tenta suicídio, que<br />

não se consuma. Sobre o episódio, ela<br />

escreveu no panfleto “Verdade e Liberdade”:<br />

“Uma bala ficou para trás, entre<br />

gazes e lembranças estraçalhadas”.<br />

Diferente das moças de sua época,<br />

Pagu usava blusas transparentes, fumava<br />

na rua e dizia palavrões. Com 15 anos,<br />

passa a colaborar no Brás Jornal, com<br />

um pseudônimo. Apresentada aos artistas<br />

Oswald de Andrade e Tarsila do<br />

Amaral, entre os 18 e 19 anos, se integra<br />

ao movimento antropofágico, de<br />

cunho modernista. Após dois anos,<br />

casa-se com Oswald e tem seu primeiro<br />

filho, Rudá de Andrade. Três meses<br />

após o parto, Pagu viaja para Buenos<br />

Aires, na Argentina, para participar de<br />

um festival de poesia. Conhece, então,<br />

Luís Carlos Prestes, e se entusiasma<br />

com os ideais marxistas.<br />

Na volta, filia-se ao Partido Comunista<br />

Brasileiro (PCB), junto com Oswald.<br />

Foi o início de um período de intensa<br />

militância política. Em março de 1931,<br />

o casal funda o jornal O Homem do<br />

Povo, que apoia “a esquerda revolucionária<br />

em prol da realização das reformas<br />

necessárias”. Em seus artigos,<br />

Pagu critica as “feministas de elite” e<br />

os valores das mulheres paulistas das<br />

classes dominantes.<br />

Jovem, bonita e burguesa, Patricía<br />

Galvão não necessitava lutar pelos direitos<br />

de sua classe, a mais favorecida,<br />

então resolve fazer o que acreditava.<br />

Aos 20 anos agita o bairro do Cambuci<br />

em protesto contra o governo provisório.<br />

Comanda uma greve de estivadores<br />

em Santos, e é presa pela primeira<br />

vez, das vinte e três que ainda iriam<br />

ocorrer, tornando-se a primeira prisioneira<br />

política no país.<br />

Em 1933 publica o romance Parque<br />

Industrial, sob o pseudônimo de Mara<br />

Lobo, considerado o primeiro romance<br />

proletário brasileiro. Nesse mesmo ano<br />

parte para uma viagem pelo mundo,<br />

deixando no Brasil o marido e o filho.<br />

Em 1935 filia-se ao Partido Comunista<br />

da França, onde também fez<br />

cursos na Sorbonne, em Paris, e lá é<br />

presa como comunista estrangeira, com<br />

identidade falsa. Seria de<strong>por</strong>tada para<br />

a Alemanha nazista, contudo o embaixador<br />

brasileiro Souza Dantas consegue<br />

mandá-la de volta ao Brasil. Separa-se<br />

definitivamente de Oswald e então retoma<br />

a atividade jornalística, mas o<br />

passado não a deixa retornar tranquilamente,<br />

e é novamente presa e torturada.<br />

Desliga-se do PCB em 1940, assim<br />

que sai da prisão. Adere ao trotskismo<br />

e incor<strong>por</strong>a-se à redação do jornal A<br />

Vanguarda Socialista. Em 1945 Patrícia<br />

casa-se com Geraldo Ferraz, jornalista<br />

da A Tribuna de Santos, cidade onde<br />

passam a viver. Inicia em 1946 sua colaboração<br />

regular no Suplemento Literário<br />

do Diário de S. Paulo.<br />

Tenta sem sucesso uma vaga de deputada<br />

estadual nas eleições de 1950.<br />

Em 1952 frequenta a Escola de Arte<br />

Dramática de São Paulo, levando seus<br />

espetáculos a Santos. É conhecida como<br />

grande animadora cultural e dedica-se<br />

em especial ao teatro, particularmente<br />

no incentivo a grupos amadores.<br />

Escreve também contos policiais,<br />

sob o pseudônimo de King Shelter, publicados<br />

originalmente na revista Detective,<br />

dirigida pelo dramaturgo Nelson<br />

Rodrigues, e depois reunidos em Safra<br />

Macabra (Livraria José Olympio Editora,<br />

1998).<br />

Em 2004 a catadora de papel Selma<br />

Morgana Sarti, em Santos, encontra<br />

no lixo uma grande quantidade de fotos<br />

e documentos da escritora e do jornalista<br />

Geraldo Ferraz, seu último companheiro.<br />

Esse acervo hoje faz parte do arquivo<br />

da Unicamp.<br />

Correspondente de vários jornais,<br />

Pagu visita os Estados Unidos, o Japão<br />

e a China. Entrevista Sigmund Freud e<br />

assiste à coroação de Pu-Yi, o último<br />

imperador chinês. Foi <strong>por</strong> intermédio<br />

dele que Pagu consegue sementes de<br />

soja, enviadas ao Brasil e introduzidas<br />

na economia agrícola brasileira.<br />

Hoje, Patrícia Galvão é lembrada<br />

pelo Instituto e pela Agência que levam<br />

seu nome. Essas iniciativas contribuem<br />

de forma relevante para a qualificação<br />

da cobertura jornalística sobre questões<br />

críticas para as mulheres brasileiras,<br />

produzindo notícias e conteúdos multimídia,<br />

a fim de influenciar o debate público,<br />

demandar respostas do Estado,<br />

promover mudanças na sociedade e na<br />

própria mídia.ø<br />

Na véspera de sua morte, um<br />

último texto seu é publicado, o<br />

poema “Nothing”.<br />

“Nada mais do que nada<br />

Porque vocês querem que exista<br />

apenas o nada<br />

Pois existe o só nada”<br />

Trecho do poema “Nothing” de Pagu/Patricia<br />

Rehder Galvão.<br />

(Publicado n’A Tribuna, Santos/SP, em<br />

23/09/1962).<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - março <strong>2014</strong> 89

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