geralda maria maia cordeiro de azevedo ... - FUNEDI – UEMG
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estabelecidas pela gramática como, por exemplo, troca <strong>de</strong> letras sem se preocupar com a<br />
etimologia das palavras (jente ao invés <strong>de</strong> gente, ak ao invés <strong>de</strong> aqui). Tais práticas <strong>de</strong> leitura<br />
e escrita expressam uma forma <strong>de</strong> se organizar e interagir socialmente, caracterizando assim<br />
um gênero lingüístico do ciberespaço. Conforme Bakhtin, que mesmo não participando <strong>de</strong>sta<br />
época virtual/digital, já previa isso ao tratar da questão dos gêneros lingüísticos, ao afirmar<br />
que cada época e cada grupo social têm seu repertório <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> discurso na comunicação<br />
sócio-i<strong>de</strong>ológica 21 . Isto é, em cada momento histórico po<strong>de</strong>mos observar gêneros lingüísticos<br />
próprios, conforme os recursos e as tecnologias disponíveis <strong>de</strong> cada época e <strong>de</strong> acordo com o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento cultural. As tecnologias po<strong>de</strong>riam ser uma das mediadoras da construção do<br />
discurso na socieda<strong>de</strong>, possibilitando outras formas para escrever e ler.<br />
Michel <strong>de</strong> Certeau ao tratar da questão <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a escrever nos últimos séculos<br />
afirma que:<br />
nos últimos três séculos apren<strong>de</strong>r a escrever <strong>de</strong>fine a iniciação por excelência<br />
em uma socieda<strong>de</strong> capitalista e conquistadora [...] A i<strong>de</strong>ologia dominante se<br />
muda em técnica, tendo por programa essencial fazer uma linguagem e não<br />
mais lê-la. A própria linguagem <strong>de</strong>ve ser agora fabricada, ‘escrita’ [...] A<br />
escritura se torna um princípio <strong>de</strong> hierarquização social que privilegia, ontem<br />
o burguês, hoje o tecnocrata. 22<br />
Observamos que há um chacoalhar nas estruturas rígidas das normas que regem todos<br />
os princípios e organizações da socieda<strong>de</strong>, uma característica da contemporaneida<strong>de</strong> que tem<br />
sido tratada nos campos da pesquisa em diversas áreas dos saberes. Na comunicação, por<br />
exemplo, emergem possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outras práticas <strong>de</strong> leitura e escrita. Surgem outros<br />
gêneros lingüísticos como também surgem os chamados analfabetos digitais. O letramento<br />
digital passa a incorporar as <strong>de</strong>mandas do ensino, porém numa realida<strong>de</strong> em que a<br />
alfabetização e o letramento convencional ainda são consi<strong>de</strong>rados problemas sociais sérios<br />
que têm sido tratados na educação através das políticas educacionais.<br />
Com a invenção da Internet, novas <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> aprendizado se perpetuam como<br />
afirma Marília Levacov:<br />
faz necessário reconhecer que somos todos parceiros, relutantes ou<br />
entusiasmados, necessitando adquirir novas habilida<strong>de</strong>s (‘alfabetização’<br />
digital) para alcançar as mesmas antigas metas (comunicação, informação e<br />
conhecimento) e precisando também reavaliar constantemente nossos<br />
conceitos sobre tais assuntos 23 .<br />
21 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.p. 43.<br />
22 CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. A invenção do cotidiano. 5ª ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. 2000, p. 227-230.<br />
23 LEVACOV, Marília. Bibliotecas virtuais. In MARTINS, Francisco Menezes & SILVA, Juremir Machado da.<br />
(orgs). Para navegar no século XXI. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs, 2003, p. 269-270.<br />
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