geralda maria maia cordeiro de azevedo ... - FUNEDI – UEMG
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Os leitores e escritores da era digital possuem uma autonomia sobre o texto, isto é,<br />
po<strong>de</strong>m modificá-los, reescrevê-los e reeditá-los a qualquer momento e, ao mesmo tempo,<br />
compartilhar imagens, sons, textos etc. Isso, até então, não era possível. Para Roger Chartier,<br />
o computador altera profundamente todo o relacionamento com a cultura escrita 134 .<br />
São as tecnologias <strong>de</strong> impressão e difusão da escrita que <strong>de</strong>terminam a proprieda<strong>de</strong><br />
sobre a obra, proprieda<strong>de</strong> que se expressa concretamente no surgimento da figura do autor,<br />
em geral difuso e não i<strong>de</strong>ntificado anteriormente, nos livros manuscritos, e institui,<br />
conseqüentemente, os direitos autorais, a criminalização da cópia e do plágio.<br />
Também são as tecnologias <strong>de</strong> impressão e difusão da escrita que criam várias<br />
instâncias <strong>de</strong> controle do texto, <strong>de</strong> sua escrita e <strong>de</strong> sua leitura. O texto é produto não só do<br />
autor, mas também do editor, do diagramador, do programador visual, do ilustrador, <strong>de</strong> todos<br />
aqueles que intervêm na produção, reprodução e difusão <strong>de</strong> textos impressos em diferentes<br />
portadores (jornais, revistas, livros, etc.). Altera-se, assim, fundamentalmente, o estado ou<br />
condição dos que escrevem e dos que lêem. O letramento na cultura do texto impresso<br />
diferencia-se substancialmente do letramento na cultura do texto manuscrito. A escrita no<br />
papel apresenta uma exigência <strong>de</strong> uma organização hierárquica e disciplinada das idéias,<br />
porém, na re<strong>de</strong>, isso não ocorre.<br />
A cultura do texto eletrônico traz uma nova mudança no conceito <strong>de</strong> letramento. Em<br />
certos aspectos essenciais, essa nova cultura do texto eletrônico traz, <strong>de</strong> volta, características<br />
da cultura do texto manuscrito. Como no texto manuscrito e ao contrário do texto impresso, o<br />
texto eletrônico não é estável, não é monumental e é pouco controlado. Não é estável porque,<br />
tal como os copistas e os leitores freqüentemente interferiam no texto, também os leitores <strong>de</strong><br />
hipertextos po<strong>de</strong>m interferir neles, acrescentar, alterar, <strong>de</strong>finir seus próprios caminhos <strong>de</strong><br />
leitura. Não é monumental porque, como conseqüência <strong>de</strong> sua não-estabilida<strong>de</strong>, o texto<br />
eletrônico é efêmero e mutável; pouco controlado porque é gran<strong>de</strong> a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />
textos na tela e é quase totalmente ausente o controle da qualida<strong>de</strong> e conveniência do que é<br />
produzido e difundido.<br />
O autor do texto impresso é permanente e o leitor é apenas um visitador. No texto<br />
eletrônico, a distância entre autor e leitor se reduz, porque o leitor se torna também, autor,<br />
tendo liberda<strong>de</strong> para construir, ativa e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente, a estrutura e o sentido do texto. O<br />
hipertexto é construído pelo leitor no ato mesmo da leitura. Optando entre várias alternativas<br />
134 CHARTIER, Roger. As revoluções da leitura no oci<strong>de</strong>nte. In ABREU, Márcia (org.). Leitura, história e<br />
história da leitura. Campinas, SP: Mercado <strong>de</strong> letras: Associação <strong>de</strong> Leitura do Brasil; São Paulo: FAPESP<br />
2000, p.28.<br />
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