121o respeito à linhagem <strong>de</strong> mestres é fundamental na conservação da tradição e naconexão com a ancestralida<strong>de</strong>.Contudo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da forma como se processa a emergência <strong>de</strong> novosgrupos, observamos, na se<strong>de</strong> da Associação Lenço <strong>de</strong> Seda, que o grupo sempreestá em transformação e renovação. Durante o período em que <strong>de</strong>senvolvemos apesquisa, dois capoeiristas se <strong>de</strong>svincularam do grupo, capoeiristas que estavamafastados retornaram, novos alunos ingressaram, iniciou-se um novo projeto <strong>de</strong>capoeira na escola, o que traz novas crianças para compor o grupo da se<strong>de</strong>. Enfim,um processo <strong>de</strong> movimento e pulsação constantes, com a emergência <strong>de</strong> encontrosentre adultos e crianças, capoeiristas <strong>de</strong> Timóteo, <strong>de</strong> Curitiba e da Itália, entrecapoeiristas formados que compõem o grupo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua origem e aqueles queiniciam agora a capoeiragem. Encontros heterogêneos, engendrando singularida<strong>de</strong>sindividuais e coletivas.6.3.5. A prática <strong>de</strong> si como uma ação política.As práticas <strong>de</strong> si po<strong>de</strong>m ser erroneamente compreendidas como exercícioindividual, todavia, <strong>de</strong> acordo com Foucault (2004) no mundo grego o cuidado <strong>de</strong> siaparece como condição ética para o governo da polis: “constituir-se como sujeitoque governa implica que se tenha se constituído como sujeito que cuida <strong>de</strong> si”(FOUCAULT, 2004, p. 278). Portanto, além das práticas <strong>de</strong> si constituírem-se comoprocesso coletivo por meio da relação com o outro, a história das artes da existênciatem evi<strong>de</strong>nte articulação com a política.A experiência da capoeira também se efetiva conectada a aspectos sóciopolíticos.No percurso dos 29 anos da Associação <strong>de</strong> <strong>Capoeira</strong> Lenço <strong>de</strong> Seda emTimóteo, observamos que a capoeiragem não apenas engendrou novos grupos,como esteve diretamente articulada à vida da cida<strong>de</strong> e funcionou como elementocatalisador <strong>de</strong> acontecimentos históricos. Conforme <strong>de</strong>screvemos, a capoeiragem daLenço <strong>de</strong> Seda constituiu-se como irrupção singular na história <strong>de</strong> Timóteo,engendrando outros acontecimentos, com diferentes alcances no contexto social.
1227. <strong>CAPOEIRA</strong> E ATUALIDADEUtilizamos o termo “atualida<strong>de</strong>” para <strong>de</strong>signar uma análise do presente, tarefacomplexa, pois estamos imersos nas experiências humanas, nos movimentoshistóricos e contextuais, no tempo em que acontecem. Conseqüentemente, há a<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> um distanciamento, um <strong>de</strong>sprendimento em relação a esse tempo, umprocesso <strong>de</strong> reflexão histórica enten<strong>de</strong>ndo que a “história do presente é história feitano presente sobre um presente... que já não somos” (RODRIGUIS, 2005, p.20).De acordo com Foucault (2004), colocar a questão da atualida<strong>de</strong>, ou seja,problematizar a comunida<strong>de</strong> da qual fazemos parte, no tempo em que vivemos,pressupõe uma atitu<strong>de</strong> histórico-crítica: um trabalho realizado no limite <strong>de</strong> nósmesmos, que <strong>de</strong>ve abrir um domínio <strong>de</strong> pesquisas históricas e colocar-se à prova darealida<strong>de</strong>, para apreen<strong>de</strong>r os pontos em que a mudança é possível e <strong>de</strong>sejável.Consiste em analisar o presente para buscar a diferença que se introduz hoje emrelação ao ontem, tentando i<strong>de</strong>ntificar as alternativas que se apresentam.Com intuito <strong>de</strong> refletir sobre a capoeira e a atualida<strong>de</strong>, buscamos naexperiência da Lenço <strong>de</strong> Seda alguns pontos que, no presente, constituemdiferenças, sinalizam mudanças. Um <strong>de</strong>sses pontos refere-se à forma <strong>de</strong> rivalida<strong>de</strong>entre os grupos. Tal como no período das maltas cariocas, na contemporaneida<strong>de</strong>há disputas entre grupos por território e reconhecimento, porém, essas rivalida<strong>de</strong>sadquirem novas formas.Destacamos, a partir da experiência da Associação <strong>de</strong> <strong>Capoeira</strong> Lenço <strong>de</strong>Seda, algumas manifestações que <strong>de</strong>monstram diferenças nas formas <strong>de</strong> disputaentre os grupos. A primeira diz respeito à <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> espaços e <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>força do grupo na cida<strong>de</strong>. Certo dia, no início do treino, o instrutor falou aos alunos ecapoeiristas da associação a importância <strong>de</strong> todos participarem da roda <strong>de</strong> domingo,pois alguns capoeiristas <strong>de</strong> outros grupos estariam visitando as rodas da Lenço <strong>de</strong>Seda e seria, assim, fundamental a presença dos capoeiristas da Associação para<strong>de</strong>fesa do seu território, para lutar e <strong>de</strong>marcar a força do grupo diante dos outrosgrupos da comunida<strong>de</strong>. No contexto das maltas cariocas, essa disputa engendravaconfrontos que po<strong>de</strong>riam ocasionar a morte daqueles que invadiam o território <strong>de</strong>
- Page 6 and 7:
AGRADECIMENTOSIêQuando eu aqui che
- Page 8 and 9:
ABSTRACTThis paper presents a study
- Page 10 and 11:
6. CAPOEIRA ANGOLA: TRADIÇÃO E CR
- Page 13 and 14:
12julgamento de valor e determina q
- Page 15:
14coisa de que se sai transformado,
- Page 18 and 19:
17pelo mestre Reginaldo Véio 3 e s
- Page 20 and 21:
192. O MÉTODOÔ menino aprenda a l
- Page 22 and 23:
21pesquisadora que se lança na exp
- Page 24 and 25:
23significados são construídos e
- Page 26 and 27:
25De acordo com Meier e Kudlowiez (
- Page 28 and 29:
273. A CAPOEIRA NO BRASIL: ARTICULA
- Page 30 and 31:
29Entendemos que investigar o adven
- Page 32 and 33:
31No escravismo, os senhores - colo
- Page 34 and 35:
33socialização, emergiu uma cultu
- Page 36 and 37:
35eram identificados por cores, sin
- Page 38 and 39:
37polícia, ao jogo do bicho, aos o
- Page 40 and 41:
39manifestações dos artistas e in
- Page 42 and 43:
41“vadiação” é um termo chei
- Page 44 and 45:
43registrar seu Centro de Cultura F
- Page 46 and 47:
45musicalidade e o jogo, articulado
- Page 48 and 49:
47O estado de dominação estava co
- Page 50 and 51:
49a alta periculosidade, os baixos
- Page 52 and 53:
51conhecimento dos fundamentos dess
- Page 54 and 55:
53políticos e agentes de transform
- Page 56 and 57:
55De acordo com Rodrigues (2002), u
- Page 58 and 59:
57contemporânea, pois essa estrutu
- Page 60 and 61:
59envolve todo mundo. Envolve pra m
- Page 62 and 63:
61da Escola Estadual Capitão Egíd
- Page 64 and 65:
63grandes proporções, chegando a
- Page 66 and 67:
65Nas imagens, vemos crianças banh
- Page 68 and 69:
675. A CAPOEIRAGEM EM TEMPOS DE MOD
- Page 70 and 71:
69pessoal e o bem-estar da comunida
- Page 72 and 73: 71Entendemos, portanto, que, nas re
- Page 74 and 75: 73principalmente no que diz respeit
- Page 76 and 77: 75consumo se tornaram mais intensos
- Page 78 and 79: 77Os movimentos sociais conquistara
- Page 80 and 81: 79atabaque, que vai dar sustentaç
- Page 82 and 83: 81produz, simultaneamente, prática
- Page 84 and 85: 835.3. O corpo: das modelizações
- Page 86 and 87: 85capaz. Maquinações corporais,
- Page 88 and 89: 87O processo de desenvolvimento e a
- Page 90 and 91: 89(...) a prática desta ciência,
- Page 92 and 93: 91positividade, para potencializar
- Page 94 and 95: 93unicidade. Rupturas de sentido, c
- Page 96 and 97: 95Hoje, o berimbau é considerado o
- Page 98 and 99: 97Ao pai que nos criouAbençoe essa
- Page 100 and 101: 99Ainda com os corridos, os capoeir
- Page 102 and 103: 101relata um acontecimento que expr
- Page 104 and 105: 103cada pessoa que compõe a roda.
- Page 106 and 107: 105resposta mínima, onde pensament
- Page 108 and 109: 1076.3. A produção da malícia e
- Page 110 and 111: 109Pepinha fala dessa construção
- Page 112 and 113: 111a ser o protagonista de si mesmo
- Page 114 and 115: 113dos ritmos e da dança na diásp
- Page 116 and 117: 115se estabelecem no plano macro da
- Page 118 and 119: 117quer de modo mais coletivo)” (
- Page 120 and 121: 119compõe a capoeiragem. Em nosso
- Page 124 and 125: 123uma malta rival. Na contemporane
- Page 126 and 127: 125No cruzamento dos diferentes asp
- Page 128 and 129: 127Foucault (1986) o poder não é
- Page 130 and 131: 129por associarem a capoeira ao pec
- Page 132 and 133: 131diversos. Suas apresentações l
- Page 134 and 135: 133coloca-se continuamente à prova
- Page 136 and 137: 135microscópico, o qual, no entant
- Page 138 and 139: 137REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASACES
- Page 140 and 141: 139GALEANO, Eduardo. As palavras an
- Page 142: 141REIS, Letícia Vidor de Sousa. O