95Hoje, o berimbau é consi<strong>de</strong>rado o principal instrumento da capoeira. Suaimagem é utilizada como código que simboliza a capoeira em diversas partes domundo. De acordo com Nestor <strong>Capoeira</strong> (1988), é o berimbau que cria o clima ecomanda o jogo. Mestre Reginaldo Véio diz que o toque do berimbau catalisaenergias e abre a conexão entre a virtualida<strong>de</strong> e atualizado. No início da roda, apóso toque do berimbau, há a entrada dos outros instrumentos, o que constitui umuniverso rítmico complexo, que conecta o incorporal aos corpos e produz ritornelos.(...) o atabaque vibra na altura do umbigo. Toda tradição cultural africana,que é em torno dos atabaques, gerou danças on<strong>de</strong> tudo acontece em tornodo umbigo. Os orientais vão dizer, por sua vez, que em torno do umbigo vaiestar o hara. O hara é meu centro físico, geométrico e magnético. Se euestendo essa lógica <strong>de</strong> raciocínio, eu vou ter que o atabaque abre asvibrações no nível do umbigo, que é on<strong>de</strong> tá minha i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. O pan<strong>de</strong>irotraz essa vibração um pouco pra cima, on<strong>de</strong> estão meus sentimentos, e oberimbau puxa essa vibração pra cima, on<strong>de</strong> estão os níveis superiores <strong>de</strong>conhecimento. Isso é holográfico. Holográfico no sentido <strong>de</strong> que a parte quecontém um todo também está contida naquela parte ou todo, e aí a gentetem a reprodução do principio trino do atabaque, pan<strong>de</strong>iro e berimbau. Agente tem, no plano superior, o gunga, o médio e o violinha, traduzindo parauma oitava maior a perspectiva do que o atabaque mobilizou vibrando noumbigo das pessoas (MESTRE REGINALDO VÉIO) 45 .A constelação rítmica produzida com essa formação <strong>de</strong> bateria intensifica osfluxos e expan<strong>de</strong> as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conexão, pois, conforme o <strong>de</strong>poimento domestre, o corpo, que é energia, possui pontos que aglutinam campos magnéticos e avibração dos instrumentos afeta esses campos, rompendo estratificações e abrindouniversos <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s. Como já apontamos antes, cada jogador po<strong>de</strong> acessardiferentes janelas rítmicas e criar formas diversificadas <strong>de</strong> entrar no jogo, inventandomovimentos singulares. Dito <strong>de</strong> outro modo, mediante vibrações que abremcontornos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e favorecem novas formas <strong>de</strong> expressão, emergeminúmeras maquinações corporais, que operam em diversos níveis e propiciam atransposição <strong>de</strong> limiares <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>.Com a bateria montada e o grupo distribuído em espaço circular, o mestrepuxa as cantigas. Conforme Rego (1968), as cantigas <strong>de</strong> capoeira fornecemelementos preciosos para o estudo da vida brasileira. Po<strong>de</strong>m expressarenaltecimento a capoeiristas heróis, narrar fatos da vida cotidiana, usos, costumes,relações sociais, episódios históricos, além <strong>de</strong> serem elo entre o aqui e agora e aancestralida<strong>de</strong>.45 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 01/03/2006..
96A roda <strong>de</strong> <strong>Angola</strong> tem início com o canto da ladainha e a chula ou louvação.Essas cantigas compõem um ritual e funcionam como catalisadores da energiapresente na roda, elos <strong>de</strong> espaços-tempos diversos, conexões com os saberes dosmestres, com a ancestralida<strong>de</strong>, com a história da capoeiragem, do grupo ou doscapoeiristas. Conforme Mestre Reginaldo Véio, a ladainha po<strong>de</strong> ser usada paracantar uma dor profunda, para fazer uma piada, para contar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se vem, paradizer quem foi o seu mestre ou para não falar nada: po<strong>de</strong> ser qualquer brinca<strong>de</strong>ira,momento <strong>de</strong> absoluta liberda<strong>de</strong>.No início da roda, as ladainhas e, principalmente, as chulas apresentam oenaltecimento dos gran<strong>de</strong>s capoeiristas, veneração dos mestres. Acionam asmandingas, ou seja, os rituais singulares que cada capoeirista cria para se afinarcom a vibração da roda e buscar proteção:Eh! Maior é Deus Pequeno sou euMaior é Deus pequeno sou euO que tenho foi Deus que me <strong>de</strong>uO que tenho foi Deus que me <strong>de</strong>uNa roda <strong>de</strong> capoeira gran<strong>de</strong> pequeno sou eu... (MESTRE PASTINHA, 1969)Eu sou discípulo que aprendoSou mestre que dou liçãoBerimbau é o meu guiaO meu canto é a oração<strong>Capoeira</strong> minha sinaMinha mãe e protetoraMe governa me iluminaÓ bendita consoladoraQue ilumina meus caminhosE me clareia as veredasQuem gostar <strong>de</strong>ssa mandingaOi passa na Lenço <strong>de</strong> SedaÊh viva meu DeusÊh viva meu mestreAi, ai, ai, viva PastinhaÊh ABCAÊh Lenço <strong>de</strong> Seda (MESTRE REGINALDO VÉIO, 2003)IêQuando eu aqui chegueiQuando eu aqui chegueiA todos eu vim louvarVim louvar a DeusPrimeiroMorador <strong>de</strong>sse lugarAgora eu tô cantandoAgora eu tô cantandoCantando dando louvorTo louvando a Jesus CristoPor que nos abençoouTô louvando e tô rogandoTô louvando e tô rogando
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AGRADECIMENTOSIêQuando eu aqui che
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ABSTRACTThis paper presents a study
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