123uma malta rival. Na contemporaneida<strong>de</strong>, a força dos grupos <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>monstradano diálogo <strong>de</strong> corpos, no jogo, na luta <strong>de</strong>ntro da roda.A segunda manifestação <strong>de</strong> rivalida<strong>de</strong> nos dias <strong>de</strong> hoje é relativa ao estilo <strong>de</strong>capoeira praticada, se <strong>Angola</strong> ou Regional. Mestre Reginaldo Véio relata que(...) hoje, quando a gente fala que é angoleiro, alguns ainda exigem que agente nem freqüente uma roda regional. (...) Tem angoleiros que contamhistórias, que há quinze, vinte anos atrás, os regionais falavam assim:“angoleiro a gente tem que chutar a cara <strong>de</strong>les pra eles apren<strong>de</strong>r a ficarralando bunda no chão”. Eu já escutei muita gente narrando essa citação(MESTRE REGINALDO VÉIO) 78 .No <strong>de</strong>poimento do mestre, observamos a hostilida<strong>de</strong> dos capoeiristasregionais em relação à <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong>. Por outro lado, os angoleiros respon<strong>de</strong>m,afirmando que a verda<strong>de</strong>ira capoeira é a praticada por eles. De acordo comPepinha, “a <strong>Capoeira</strong> <strong>de</strong> <strong>Angola</strong> que é a capoeira <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da senzala, dosescravos, não é, com todo respeito, essa capoeira transformista que tá acontecendoaí” (PROFESSOR PEPINHA) 79 .Portanto, a disputa atual entre os grupos <strong>de</strong> capoeira po<strong>de</strong> emergir pordiversas entradas e com diferentes formas <strong>de</strong> manifestação que, muitas vezes, sãosimultâneas, articuladas e complementares. Envolvem a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> força<strong>de</strong>ntro da roda, a disputa pela ocupação dos espaços da cida<strong>de</strong>, a rivalida<strong>de</strong> emrelação ao estilo <strong>de</strong> capoeira praticada, a rivalida<strong>de</strong> entre grupos, e mais: nocontexto contemporâneo, há também uma disputa por mercado <strong>de</strong> trabalho.Segundo Pepinha, “tem essa frente <strong>de</strong> trabalho, que é uma guerrinha que tápintando aí pra turma, pro pessoal <strong>de</strong> capoeira” (PROFESSOR PEPINHA) 80 .A inserção no mercado capitalístico produz uma diferença significativa naprática da capoeira contemporânea. Conforme sinalizamos anteriormente, acapoeiragem está atravessada pelas modulações do consumo. Principalmente naexperiência da <strong>Capoeira</strong> Regional, constatamos um processo <strong>de</strong> reprodução,conforme a or<strong>de</strong>m contemporânea: o diálogo corporal é substituído porperformances acrobáticas individuais que privilegiam a competitivida<strong>de</strong>, a forma <strong>de</strong>atribuição dos graus muitas vezes está organizada em função da lógica <strong>de</strong> consumo,com eventos anuais e a titulação <strong>de</strong> capoeiristas para abertura <strong>de</strong> novas aca<strong>de</strong>mias.78 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 04/03/200679 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 12/04/200680 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 12/04/2006
124Mestre Reginaldo 81 observa que, na prática da Regional, se abandona os rituais, sepreserva o ritmo, a música e se acrescenta movimentos altos, performancesestilizadas, compondo uma forma <strong>de</strong> sedução maior, que tornam essa capoeira maiscomercial. A capoeiragem passa a ser exercício para mo<strong>de</strong>lização corporal ouprática acrobática, inclusive, presente em diferentes mídias. Pepinha afirma que[...] essa capoeira a gente consi<strong>de</strong>ra - particularmente, com todo respeito -uma capoeira transformista. Eles falam que é evolução, mas a genteacredita que é <strong>de</strong>scaracterização do que é a capoeira. A mídia ajuda a criaressa imagem <strong>de</strong>svirtuada da capoeira. Então, eu acho que é por falta <strong>de</strong>compreensão, mas eu acho especialmente que é falta <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>,ou muita responsabilida<strong>de</strong> com o capitalismo <strong>de</strong>les (PROFESSORPEPINHA) 82 .Certamente, a <strong>Capoeira</strong> Regional tem maior inserção no mercado,principalmente por ser mais aberta às capturas do consumo. Porém, apesar darivalida<strong>de</strong> entre esses estilos, mestre Reginaldo Véio aponta que a relação entre acapoeira <strong>Angola</strong> e a Regional não é tão dicotômica ou controversa. Ele afirma que,principalmente no exterior,[...] todo mercado que a Regional abre passa a ser um mercado potencialda <strong>Angola</strong>. Quando a Regional abre uma frente em um território novo, umacultura nova, num país novo, e no segundo momento, pelo encantamentoda Regional, as pessoas querem conhecer <strong>de</strong> on<strong>de</strong> veio isso, como é quesurgiu, abriu espaço para <strong>Angola</strong>. Então, se existe uma tensão, essadialética da <strong>Angola</strong> com a regional é <strong>de</strong>limitada no espaço e no tempo; elasugere que haverá um momento que vai se processar uma síntese. Isso agente vai compreen<strong>de</strong>r daí pra frente (MESTRE REGINALDO VÉIO) 83 .Na visão do mestre, uma alternativa que emerge na capoeira nos dias <strong>de</strong> hojerefere-se a uma síntese entre os estilos Regional e <strong>Angola</strong>, com a passagem <strong>de</strong>uma relação <strong>de</strong> dicotomia e rivalida<strong>de</strong> para uma relação <strong>de</strong> complementarida<strong>de</strong>. Nãoé possível projetar como se dará essa síntese, contudo, na experiência da Lenço <strong>de</strong>Seda po<strong>de</strong>mos vislumbrar alguns sinais. A opção pela prática da <strong>Angola</strong> não foicolocada em uma perspectiva dualista ou exclu<strong>de</strong>nte. Os grupos <strong>de</strong> Curitiba e doexterior praticam os dois estilos. Muitos alunos iniciam seduzidos pela Regional e,pouco <strong>de</strong>pois, experimentam também a <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong>. Os eventos e encontrosrealizados tanto em Curitiba quanto na Itália contam com a presença <strong>de</strong> mestres <strong>de</strong>Regional e <strong>de</strong> <strong>Angola</strong>.81 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 04/03/200682 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 12/04/200683 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 04/03/2006
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AGRADECIMENTOSIêQuando eu aqui che
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