53políticos e agentes <strong>de</strong> transformação. O encontro entre o movimento operáriosindical e movimentos populares como os <strong>de</strong> bairro, da Igreja Católica e do negrolutaram contra a precarieda<strong>de</strong> das condições <strong>de</strong> vida.Diante <strong>de</strong>sse contexto, em 1979, foram extintos os Atos Institucionais e ogoverno Geisel baixou a nova lei orgânica, que extinguia o bipartidarismo. Em 1980,a articulação entre a militância sindical do ABC Paulista e os representantes domovimento popular funda o Partido dos Trabalhadores (PT). Os capoeiristas daLenço <strong>de</strong> Seda integravam o grupo que organizou este partido em Timóteo.Durante a campanha eleitoral, no ano 1982, a Socieda<strong>de</strong> <strong>Cultural</strong> Pasárgada,composta em sua maioria por capoeiristas da Lenço <strong>de</strong> Seda, lançou um manifestointitulado “Desobe<strong>de</strong>ça”. Como estratégia <strong>de</strong> lançamento, o grupo saiu pelas ruas,durante madrugadas, com tinta e brochas, pintando a palavra “Desobe<strong>de</strong>ça” nosespaços da cida<strong>de</strong>. Em cada bairro, uniam-se a eles moradores que traziampequenos bal<strong>de</strong>s, tinta e pincéis e também saíam pichando muros. Essa açãoextrapolou o universo do grupo Pasárgada, e a palavra “Desobe<strong>de</strong>ça” apareceugrafada nos pontos <strong>de</strong> ônibus, nos muros <strong>de</strong> estabelecimentos comerciais, nosbancos da praça, nas pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> igrejas, em praticamente todos os espaços <strong>de</strong>Timóteo.A essa altura, os militantes do Partido dos Trabalhadores temiam que essapichação prejudicasse sua campanha eleitoral. O candidato do partido da situação,representante da elite da cida<strong>de</strong>, tinha certeza <strong>de</strong> que o “Desobe<strong>de</strong>ça” era umapalavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m da oposição, contra sua candidatura. Houve surpresa geralquando o manifesto foi distribuído, pois o mesmo não tinha conteúdo políticopartidário.O Desobe<strong>de</strong>ça conclamava a uma <strong>de</strong>sobediência em relação àmo<strong>de</strong>lização das formas <strong>de</strong> ser e viver e postulava a invenção e a experimentação<strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> vida.Esse episódio marcou a história da cida<strong>de</strong> e, ainda hoje, reverbera nalembrança daqueles que viveram essa experiência. Consi<strong>de</strong>ramos o evento amaterilização <strong>de</strong> uma transformação na experiência da Lenço <strong>de</strong> Seda: a transição<strong>de</strong> um ethos guerreiro <strong>de</strong> contestação, confronto, do viés político-i<strong>de</strong>ológico, parauma maior intensida<strong>de</strong> na produção <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> resistência pela via da invenção,em conexão com universos da educação e da arte.
544.2. A conexão da capoeiragem com a Socieda<strong>de</strong> <strong>Cultural</strong> Pasárgada e aemergência <strong>de</strong> novos acontecimentosRevel (2005) <strong>de</strong>staca que, para Foucault, o acontecimento é um fato que seconstitui como irrupção <strong>de</strong> uma singularida<strong>de</strong> histórica. Na visão <strong>de</strong> Foucault (1986),existem diversos tipos <strong>de</strong> acontecimentos, com diferentes alcances, amplitu<strong>de</strong>cronológica e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir efeitos. Portanto, é importante “distinguir osacontecimentos, diferenciar as re<strong>de</strong>s e os níveis a que pertencem e reconstituir osfios que os ligam e que fazem com que eles se engendrem, uns a partir dos outros”(FOUCAULT, 1986, p.5). A emergência da Socieda<strong>de</strong> <strong>Cultural</strong> Pasárgada, emconexão com a capoeira, é uma irrupção singular na história da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Timóteo,tendo engendrado outros acontecimentos.Fundada em 1978 por um grupo <strong>de</strong> amigos, entre eles, capoeiristas da Lenço<strong>de</strong> Seda, a Socieda<strong>de</strong> <strong>Cultural</strong> Pasárgada configurou-se através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong><strong>de</strong>smultiplicação causal, com múltiplas entradas e conexões <strong>de</strong> diferentes aspectos.Funcionava como vetor que aglutinava ações da comunida<strong>de</strong>, congregava grupos econectava universos heterogêneos. Na se<strong>de</strong> da Pasárgada, localizada no centro dacida<strong>de</strong>, a capoeira era praticada em interação com outras ativida<strong>de</strong>s. O mesmoespaço em que crianças <strong>de</strong> rua, lí<strong>de</strong>res comunitários, trabalhadores e estudantestreinavam os golpes e faziam as rodas <strong>de</strong> capoeira era utilizado por grupos <strong>de</strong>músicos para ensaios, e mais: era uma livraria freqüentada pela elite intelectual efinanceira da cida<strong>de</strong>, uma galeria <strong>de</strong> arte com presença <strong>de</strong> artistas que expunhamseus trabalhos, palco <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates <strong>de</strong> educadores, herbanário, espaço <strong>de</strong> medicinasalternativas. Enfim, a Socieda<strong>de</strong> <strong>Cultural</strong> Pasárgada constituiu-se como espaçoaberto, no qual as fronteiras do quadriculamento disciplinar se rompiam e diferentesuniversos se encontravam.Com a conexão Pasárgada – <strong>Capoeira</strong> Lenço <strong>de</strong> Seda, engendraram-semovimentos políticos que articulavam resistência como contra-força, através damilitância político-i<strong>de</strong>ológica a processos <strong>de</strong> criação, resistência positiva.Paulatinamente, os processos <strong>de</strong> criação e invenção intensificaram-se epredominaram sobre as ações <strong>de</strong> militância político-i<strong>de</strong>ológicas ou partidárias. Oacontecimento do “Desobe<strong>de</strong>ça” configurou-se como um dos analisadores históricosque materializam essa transição.
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