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CAPOEIRA: - Asociacion Cultural de Capoeira Angola

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60há algum tempo, pois, naquele contexto, a ida<strong>de</strong> regular para esta série era oitoanos. A presença <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> <strong>de</strong>z e até quatorze anos nessa série remete a umprocesso <strong>de</strong> paralisação no âmbito da escola. Repetição <strong>de</strong> repetências, quesinalizam a uma estagnação dos fluxos <strong>de</strong> aprendizagem escolar. Para Deleuze,Apren<strong>de</strong>r vem a ser tão somente o intermediário entre não-saber e saber, apassagem viva <strong>de</strong> um ao outro. Po<strong>de</strong>-se dizer que apren<strong>de</strong>r, afinal <strong>de</strong>contas é uma tarefa infinita, mas esta não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser rejeitada para o ladodas circunstâncias e da aquisição, posta para fora da essênciasupostamente simples do saber como inatismo, elemento a priori ou mesmoidéia reguladora (DELEUZE, 2000, p.271).Na circunstância escolar vivida pelos alunos <strong>de</strong> Flor, eles eramestigmatizados como incapazes <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r ou <strong>de</strong> adquirir conhecimentos, pois aaprendizagem estava relacionada à regulação, à progressão nas séries, não aomovimento <strong>de</strong> transformação das ações e pensamentos. A partir da capoeira, entraem cena um universo diferente: as crianças começaram a experimentar práticas nasquais eram capazes <strong>de</strong> realizar a passagem viva do não-saber ao saber, e torna-sepossível algo mais que ser repetente. Esse movimento <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou transformaçõesno processo <strong>de</strong> aprendizagem, na forma <strong>de</strong> lidar com o conhecimento e com asrelações estabelecidas na sala <strong>de</strong> aula, conforme os exemplos citados por Flor emseu <strong>de</strong>poimento. Crianças passaram a acreditar em sua potência <strong>de</strong> criação, <strong>de</strong>aprendizagem, no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fazer “alguma coisa”, abrir espaços <strong>de</strong> diferença.Começaram a surgir meninos <strong>de</strong>monstrando li<strong>de</strong>rança. Essa li<strong>de</strong>rança, queentrou em cena e ganhou força a partir da capoeiragem, extrapolou os momentos daaula <strong>de</strong> capoeira, alcançou outras turmas e séries. No pátio, na hora do recreio,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da presença do professor <strong>de</strong> capoeira, os alunos organizavam rodas,jogavam, cantavam. Com ou sem os instrumentos necessários, a música e a rodaaconteciam e crianças <strong>de</strong> todas as séries participavam daquela irrupção <strong>de</strong> alegria.Para Flor, a capoeira <strong>de</strong>ntro da escola é uma prática “pra dar prazer, pra <strong>de</strong>ixarmenino alegre, pra ter um movimento” (MADRINHA FLOR) 28 .O movimento transbordou o tempo escolar. Começaram a acontecer aulas<strong>de</strong> capoeira aos sábados, para mães <strong>de</strong> alunos e pessoas da comunida<strong>de</strong> quequisessem participar. Os alunos participavam <strong>de</strong> eventos, excursões e rodas <strong>de</strong>capoeira que o grupo Pasárgada e a Lenço <strong>de</strong> Seda faziam, em outros bairros e emcida<strong>de</strong>s circunvizinhas. Essas crianças, que formaram o primeiro grupo <strong>de</strong> capoeira28 Informação verbal, obtida em entrevista realizada em 28/09/2006.

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