91positivida<strong>de</strong>, para potencializar um processo <strong>de</strong> singularização: a conquista damalícia.Rego (1968) aponta que cada mestre vai transmitindo a seus discípulos aquiloque sabe. O saber produzido na capoeiragem - a malícia –, por ser uma construçãosingular, confere diferenças à forma <strong>de</strong> ensinar em cada grupo, a cada instrutor,professor ou mestre. Todavia, a iniciação na <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong> apresenta algumaspráticas comuns à maioria dos grupos ou linhagens <strong>de</strong> mestres, como aaprendizagem dos golpes básicos, o jogo baixo, a ênfase na <strong>de</strong>fesa. Ressaltamoscomo principal ponto comum a emergência <strong>de</strong> um saber singular, produzidoeminentemente através do corpo.Mestre Pastinha inicia seus manuscritos dizendo: “amigos, o corpo é umgran<strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> razão, por <strong>de</strong>traz <strong>de</strong> nossos pensamentos acha-se um ser,po<strong>de</strong>roso, um sábio, <strong>de</strong>sconhecido;...” (DECANIO FILHO, 1996, p.15) Na capoeira,todo saber e po<strong>de</strong>r emergem eminentemente a partir do corpo. O corpo, nacapoeiragem, não é o corpo físico, biológico, individual, mas o corpo em conexãocom o ritmo, com o outro, em movimento no diálogo corporal.Após pesquisar a forma <strong>de</strong> ensino dos antigos angoleiros, mestre Bola Sete(2003) constatou que eles transmitiam os movimentos para seus alunos por meio <strong>de</strong>treinamento. A aprendizagem acontece pela observação da execução dosmovimentos por outros capoeiristas mais experientes e pelo exercício <strong>de</strong>sses. Naexperiência da Lenço <strong>de</strong> Seda, o treino inicia-se com o exercício individual dosmovimentos básicos: a ginga, os movimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa - negativas, role e aú - , osmovimentos <strong>de</strong> ataque – rabo <strong>de</strong> arraia, meia lua, ponteira, martelo, cabeçada,chapa <strong>de</strong> frente e <strong>de</strong> costas, e rasteira. Na seqüência, os golpes passam a serexperimentados em duplas, enca<strong>de</strong>ados em seqüências <strong>de</strong> perguntas e respostas.Simultaneamente a cada treino, inicia-se a aprendizagem dos toques <strong>de</strong>instrumentos e cantigas. Uma vez por semana, o treino encerra-se com a realização<strong>de</strong> uma roda com os aprendizes e, aos domingos, acontece a roda da Associação,da qual todos os capoeiristas <strong>de</strong>vem participar.A roda é o espaço que potencializa a aprendizagem da capoeira: é nela queos fluxos se intensificam e acontece a conexão jogo, luta, dança, alegria, ritmo,cantigas, festa. Vamos nos guiar pela experiência da roda, recortando cenas,momentos, movimentos, para discorrermos sobre fundamentos da <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong>.
926.2. Na roda <strong>de</strong> <strong>Angola</strong>, gran<strong>de</strong> e pequeno sou euA igreja diz:O corpo é uma culpa.A ciência diz:O corpo é uma máquina.A publicida<strong>de</strong> diz:O corpo é um negócio.O corpo diz:Eu sou uma festa (GALEANO, 1994, p.138).A roda <strong>de</strong> capoeira constitui-se como um espaço-tempo em que o corpo éintensamente festa. É um espaço-tempo <strong>de</strong> encontros heterogêneos: encontro dosritmos <strong>de</strong> base africana com as cantigas que contam as histórias dos povosbrasileiros; encontros daqueles que circundam o espaço e entoam, em coro, asrespostas musicais. Encontro das mãos que articulam ritmos em palmas; encontrodos corpos que se alternam e jogam no centro da roda, conectados ao ritmo dosinstrumentos, às canções, às palmas, ao grupo, ao outro. Encontro <strong>de</strong> tempos eespaços diferentes que, através dos ritmos, cantigas, movimentos, corpos, rituais,acessam a ancestralida<strong>de</strong> dos povos da África e da diáspora africana em terrasbrasileiras. Encontros e conexões múltiplas, que emergem em todas as direções,atualizam campos virtuais e potencializam a festa do corpo, a emergência <strong>de</strong>ritornelos complexos.“Num sentido geral, chamamos <strong>de</strong> ritornelo todo conjunto <strong>de</strong> matérias <strong>de</strong>expressão que traça um território, e que se <strong>de</strong>senvolve em motivos territoriais, empaisagens territoriais” (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p.132) Conforme os autores,um território não é um meio, é um ato que afeta os meios e os ritmos, <strong>de</strong> forma queseus componentes <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser direcionais e passam a ser dimensionais, param<strong>de</strong> ser funcionais e tornam-se expressivos.De acordo com Guattari (1992) um ritornelo complexo é um módulo temporalcatalisador que propicia transposições <strong>de</strong> limiar subjetivo, marca a conexão <strong>de</strong>modos heterogêneos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> subjetivação e opera, simultaneamente, emregistros sócio-culturais, biológicos, maquínicos, cósmicos. Os ritornelospotencializam um modo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> polifônica: o rompimento <strong>de</strong>estratificações, <strong>de</strong> contornos <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>, abertura e fragmentação mediante aheterogeneida<strong>de</strong>, porém, com a emergência concomitante <strong>de</strong> um sentimento <strong>de</strong>
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