47O estado <strong>de</strong> dominação estava colocado em consonância com asconfigurações políticas do País no período da ditadura militar. Em 1964, quando asForças Armadas assumiram o po<strong>de</strong>r político do Brasil, diversos aspectos da vidaforam capturados pela doutrina da segurança nacional, em nome da qual partidospolíticos foram extintos, eleições diretas foram suspensas, o Congresso teve seuspo<strong>de</strong>res limitados, meios <strong>de</strong> comunicação foram censurados, pessoas eram presassem culpa formalizada. Durante esse período, houve censura direta nasuniversida<strong>de</strong>s e escolas, controle rigoroso da imprensa e banimento dos que eramconsi<strong>de</strong>rados inconvenientes à segurança nacional. Esse último fato realizou-setanto pelo exílio quanto pela prisão, tortura ou morte (DOMINGUES; FIUSA, 1996).Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Timóteo, além da dominação militar que imperava no País,havia a peculiarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> localização na zona metalúrgica, consi<strong>de</strong>rada área <strong>de</strong>segurança nacional, <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> operários e à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>movimentos grevistas. Des<strong>de</strong> 1944, quando se iniciou em Timóteo a instalação daUsina Si<strong>de</strong>rúrgica Aços Especiais <strong>de</strong> Itabira – ACESITA, o <strong>de</strong>senvolvimento dacida<strong>de</strong> sempre esteve articulado à fábrica: a vida da comunida<strong>de</strong> era <strong>de</strong>terminadapelo ritmo da usina si<strong>de</strong>rúrgica, com técnicas <strong>de</strong> governo disciplinares.O espaço da cida<strong>de</strong> foi se configurando a partir <strong>de</strong> uma técnica <strong>de</strong> governoque po<strong>de</strong> ser aproximada do que Foucault <strong>de</strong>nominou quadriculamento, ou seja,“(...) cada indivíduo no seu lugar e em cada lugar, um indivíduo. (...) Procedimento,portanto, para conhecer, dominar e utilizar. A disciplina organiza um espaçoanalítico”. (FOUCAULT, 1987, p.123) Nesse sentido, a configuração do contextourbano efetivou-se a partir da organização hierárquica da fábrica. “Foi a ACESITAque <strong>de</strong> fato iniciou um processo <strong>de</strong> urbanização mais intenso (...), assumindo afrente da estruturação urbana do município” (PREFEITURA MUNICIPAL DETIMÓTEO, 1992, p.55). Inicialmente, os bairros eram rudimentares e abrigavam osoperários que erguiam a fábrica. Havia o bairro Vai Quem Quer, o Vai Quem Po<strong>de</strong>, aVila dos Caixotes, on<strong>de</strong> casas foram erguidas com a ma<strong>de</strong>ira dos caixotes queembalavam os equipamentos da usina. Com a chegada <strong>de</strong> médicos para aten<strong>de</strong>raos funcionários, criou-se o bairro Vila Bromélias; os engenheiros moravam na Vilados Técnicos, construída bem perto da usina; o pessoal administrativo morava naVila dos Funcionários (ACESITA, 1989).Nesse contexto, observamos o surgimento <strong>de</strong> uma biopolítica que extrapolaas ações estatais e inclui outros elementos sociais ligados ao mundo do trabalho.
48Dito <strong>de</strong> outro modo, há “um <strong>de</strong>slocamento do agente das biopolíticas do estado paraas forças produtivas” (FERREIRA NETO, 2004, p.169). Em Timóteo, além oquadriculamento permanente da fábrica, outras formas <strong>de</strong> biopolítica expandiam-se<strong>de</strong> maneira difusa, múltipla e polivalente, com penetração e atravessamentos emtodo o corpo social, como as formas <strong>de</strong> controle da ativida<strong>de</strong> e do tempo. De acordocom os <strong>de</strong>poimentos obtidos no grupo focal, os horários na comunida<strong>de</strong> eram<strong>de</strong>terminados pelo apito da fábrica, que convocava para o trabalho às 6h da manhã,<strong>de</strong>marcava o tempo das refeições às 11h e a hora do repouso às 22h, como umtoque <strong>de</strong> recolher. A vida urbana timotense organizava-se a partir do apito: eranecessário acordar às 6h e, após as 22h, via-se poucas pessoas nas ruas; osnamorados <strong>de</strong>spediam-se ao som do último apito; as mulheres que estivessem fora<strong>de</strong> casa após as 22h eram consi<strong>de</strong>radas “<strong>de</strong>pravadas”, e os homens, “boêmios” e“vadios”.Ser funcionário da Acesita era ser cidadão, sujeito na cida<strong>de</strong>. O uniforme dausina <strong>de</strong>marcava um lugar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na comunida<strong>de</strong>. Eles tinham cores diferentespara os chefes, técnicos e operários braçais ou das empreiteiras. As pessoascirculavam com seus uniformes para visitar as namoradas, fazer compras nocomércio da cida<strong>de</strong>. A vestimenta significava po<strong>de</strong>r aquisitivo e idoneida<strong>de</strong> nopagamento das contas.A penetração e os atravessamentos da empresa no corpo social alcançavampraticamente todos os campos: o atendimento médico era feito no Hospital Acesita;o time <strong>de</strong> futebol era o Acesita Esporte Clube; para formação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obraespecializada, a empresa criou o Colégio Técnico <strong>de</strong> Metalurgia e, até 1969, “acompanhia funcionava para a cida<strong>de</strong> como Prefeitura e polícia” (ACESITA, 1989,p.81). Essa frase <strong>de</strong>monstra claramente a extensão e a força das biopolíticas nacomunida<strong>de</strong>.As formas <strong>de</strong> resistências aconteciam na obscurida<strong>de</strong> e clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, ouescamoteadas sob o pretexto <strong>de</strong> ações assistencialistas, principalmente aquelassustentadas por alguns segmentos da Igreja Católica. Conforme Pereira (2001), nadécada <strong>de</strong> 70, os trabalhos das Comunida<strong>de</strong>s Eclesiais <strong>de</strong> Base da Igreja Católicapropiciaram articulações políticas significativas em várias instituições da socieda<strong>de</strong>civil. A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Timóteo discutia as questões da cida<strong>de</strong> na igreja: durante amissa, o padre abria espaço para membros dos grupos <strong>de</strong> jovens discorrerem sobrea vida na comunida<strong>de</strong>, as formas <strong>de</strong> dominação, as condições <strong>de</strong> trabalho na usina,
- Page 6 and 7: AGRADECIMENTOSIêQuando eu aqui che
- Page 8 and 9: ABSTRACTThis paper presents a study
- Page 10 and 11: 6. CAPOEIRA ANGOLA: TRADIÇÃO E CR
- Page 13 and 14: 12julgamento de valor e determina q
- Page 15: 14coisa de que se sai transformado,
- Page 18 and 19: 17pelo mestre Reginaldo Véio 3 e s
- Page 20 and 21: 192. O MÉTODOÔ menino aprenda a l
- Page 22 and 23: 21pesquisadora que se lança na exp
- Page 24 and 25: 23significados são construídos e
- Page 26 and 27: 25De acordo com Meier e Kudlowiez (
- Page 28 and 29: 273. A CAPOEIRA NO BRASIL: ARTICULA
- Page 30 and 31: 29Entendemos que investigar o adven
- Page 32 and 33: 31No escravismo, os senhores - colo
- Page 34 and 35: 33socialização, emergiu uma cultu
- Page 36 and 37: 35eram identificados por cores, sin
- Page 38 and 39: 37polícia, ao jogo do bicho, aos o
- Page 40 and 41: 39manifestações dos artistas e in
- Page 42 and 43: 41“vadiação” é um termo chei
- Page 44 and 45: 43registrar seu Centro de Cultura F
- Page 46 and 47: 45musicalidade e o jogo, articulado
- Page 50 and 51: 49a alta periculosidade, os baixos
- Page 52 and 53: 51conhecimento dos fundamentos dess
- Page 54 and 55: 53políticos e agentes de transform
- Page 56 and 57: 55De acordo com Rodrigues (2002), u
- Page 58 and 59: 57contemporânea, pois essa estrutu
- Page 60 and 61: 59envolve todo mundo. Envolve pra m
- Page 62 and 63: 61da Escola Estadual Capitão Egíd
- Page 64 and 65: 63grandes proporções, chegando a
- Page 66 and 67: 65Nas imagens, vemos crianças banh
- Page 68 and 69: 675. A CAPOEIRAGEM EM TEMPOS DE MOD
- Page 70 and 71: 69pessoal e o bem-estar da comunida
- Page 72 and 73: 71Entendemos, portanto, que, nas re
- Page 74 and 75: 73principalmente no que diz respeit
- Page 76 and 77: 75consumo se tornaram mais intensos
- Page 78 and 79: 77Os movimentos sociais conquistara
- Page 80 and 81: 79atabaque, que vai dar sustentaç
- Page 82 and 83: 81produz, simultaneamente, prática
- Page 84 and 85: 835.3. O corpo: das modelizações
- Page 86 and 87: 85capaz. Maquinações corporais,
- Page 88 and 89: 87O processo de desenvolvimento e a
- Page 90 and 91: 89(...) a prática desta ciência,
- Page 92 and 93: 91positividade, para potencializar
- Page 94 and 95: 93unicidade. Rupturas de sentido, c
- Page 96 and 97: 95Hoje, o berimbau é considerado o
- Page 98 and 99:
97Ao pai que nos criouAbençoe essa
- Page 100 and 101:
99Ainda com os corridos, os capoeir
- Page 102 and 103:
101relata um acontecimento que expr
- Page 104 and 105:
103cada pessoa que compõe a roda.
- Page 106 and 107:
105resposta mínima, onde pensament
- Page 108 and 109:
1076.3. A produção da malícia e
- Page 110 and 111:
109Pepinha fala dessa construção
- Page 112 and 113:
111a ser o protagonista de si mesmo
- Page 114 and 115:
113dos ritmos e da dança na diásp
- Page 116 and 117:
115se estabelecem no plano macro da
- Page 118 and 119:
117quer de modo mais coletivo)” (
- Page 120 and 121:
119compõe a capoeiragem. Em nosso
- Page 122 and 123:
121o respeito à linhagem de mestre
- Page 124 and 125:
123uma malta rival. Na contemporane
- Page 126 and 127:
125No cruzamento dos diferentes asp
- Page 128 and 129:
127Foucault (1986) o poder não é
- Page 130 and 131:
129por associarem a capoeira ao pec
- Page 132 and 133:
131diversos. Suas apresentações l
- Page 134 and 135:
133coloca-se continuamente à prova
- Page 136 and 137:
135microscópico, o qual, no entant
- Page 138 and 139:
137REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASACES
- Page 140 and 141:
139GALEANO, Eduardo. As palavras an
- Page 142:
141REIS, Letícia Vidor de Sousa. O