87O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e aperfeiçoamento da <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong> naLenço <strong>de</strong> Seda <strong>de</strong>u-se tanto com a participação <strong>de</strong> seus capoeiristas em eventos ecursos em Salvador quanto com a presença dos mestres baianos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Timóteo para participar <strong>de</strong> eventos e oferecer cursos.Essa ênfase na prática da <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong> engendrou aprendizagem eamadurecimento na capoeiragem da Lenço <strong>de</strong> Seda. Pepinha relata:a gente amadureceu – a Lenço <strong>de</strong> Seda e a cabeça da gente - a gente<strong>de</strong>scobriu a <strong>Angola</strong> mesmo. A gente passou da infância, da adolescência.Agora adulto, a gente enten<strong>de</strong>u mesmo a coisa. Então, tecnicamentefalando as coisas, é difícil (PROFESSOR PEPINHA) 39Quando Pepinha fala do amadurecimento na capoeiragem, diz doaprofundamento e da maior compreensão em relação aos fundamentos da mesma,o que traz dificulda<strong>de</strong>s. Os movimentos e golpes mais próximos ao chão, queexigem maior conexão com o outro no diálogo corporal, são um novo <strong>de</strong>safio. Outradificulda<strong>de</strong> enfrentada nesse processo foi em relação às rupturas, aos grupos que se<strong>de</strong>sligaram da Associação, principalmente na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Timóteo. Na opinião <strong>de</strong>Madrinha Flor, essas rupturas ocorrem <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> que:(...) a Regional oferece um marketing maior. Os movimentos são altos,permite dar aqueles saltos. Ela não tem uma or<strong>de</strong>m, o povo corta o jogo nahora que quer. Na <strong>Angola</strong> tem uma disciplina, tem toda uma hierarquia. Porexemplo, na <strong>Angola</strong>, pra jogar, tem umas regras que você tem queobe<strong>de</strong>cer. O berimbau po<strong>de</strong> mandar você sair, você tem que acatar. Quemnão tem amadurecimento ainda, não aceita, recusa mesmo (MADRINHAFLOR) 40 .Além <strong>de</strong> reafirmar a questão do individualismo, que atravessa a prática daRegional, Flor acrescenta alguns elementos que geraram rupturas na AssociaçãoLenço <strong>de</strong> Seda, por ocasião da opção pela <strong>Angola</strong>: as mudanças em relação àforma <strong>de</strong> hierarquia na capoeiragem, a observação dos rituais e a obediência aosfundamentos, como, por exemplo, o comando do berimbau gunga na roda. Naopinião do mestre Reginaldo, são os fundamentos ancorados na tradição que fazemda <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong> uma experiência menos capturada pela lógica do consumo, compossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> favorecer, ao capoeirista, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>.Articular tradição e invenção em uma experiência que potencializa a produção <strong>de</strong>39 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 12/04/2006.40 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 28/09/2006.
88singularida<strong>de</strong>, provavelmente, foi o maior ganho da Lenço <strong>de</strong> Seda, e é a principalconquista dos capoeiristas angoleiros na contemporaneida<strong>de</strong>.6.1. <strong>Angola</strong> <strong>de</strong> Pastinha: filosofia e fundamentos baseados na alegria.<strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong>!Jogo, luta e disfarce;Tradição, cultura, educação e religiosida<strong>de</strong>;Ritual, música e criativida<strong>de</strong>;Ética, estética, lealda<strong>de</strong> e falsida<strong>de</strong>;História, filosofia e liberda<strong>de</strong>;Terapia, fraternida<strong>de</strong>, harmonia e agilida<strong>de</strong>;Mandinga, malícia e malandragem;Poesia, folclore, coreografia e arte... (CRUZ, 2006)Na visão <strong>de</strong> Rego (1968), a capoeira é uma só, com ginga, toques e golpesque servem <strong>de</strong> padrão a todos os capoeiristas, enriquecidos com criações novas evariações sutis. Para mestre Reginaldo Véio, a capoeira é uma egrégora, matrizholográfica no plano da imaterialida<strong>de</strong>, centro <strong>de</strong> consciência que po<strong>de</strong> seracessado através <strong>de</strong> diferentes pontos. Essa matriz adquire múltiplas formas <strong>de</strong>expressão no plano real, <strong>de</strong> forma que “a parte contém o todo da mesma maneiraque o todo contém a parte; o que está em cima é o que está embaixo” (MESTREREGINALDO VÉIO) 41 .As elaborações <strong>de</strong> Mestre Reginaldo e <strong>de</strong> Rego remetem à perspectiva damultiplicida<strong>de</strong>, o uno e o múltiplo intrincados numa mesma experiência. A capoeira“é uma só” e é “muitas”, une o único e o heterogêneo ao ser manifestada <strong>de</strong>diferentes formas. Não buscamos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a pureza da <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong> comoúnica e fiel manifestação da capoeira original, nascida nas senzalas, todaviabuscamos o começo, ou os começos inumeráveis, lugares e recantos <strong>de</strong>acontecimentos emergentes no encontro da tradição com a criação.Ressaltamos que a <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong> se manifesta <strong>de</strong> diferentes maneiras,todavia, nela “persistem os traços <strong>de</strong> uma ancestralida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> uma ritualida<strong>de</strong>características do modo africano <strong>de</strong> se relacionar com o tempo, com o espaço, emúltima instância - com o mundo” (ABIB, 2004, p.103). Em nosso trabalho,pautaremo-nos na <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong>, conforme Mestre Pastinha, que ensina que:41 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 04/03/2006.
- Page 6 and 7:
AGRADECIMENTOSIêQuando eu aqui che
- Page 8 and 9:
ABSTRACTThis paper presents a study
- Page 10 and 11:
6. CAPOEIRA ANGOLA: TRADIÇÃO E CR
- Page 13 and 14:
12julgamento de valor e determina q
- Page 15:
14coisa de que se sai transformado,
- Page 18 and 19:
17pelo mestre Reginaldo Véio 3 e s
- Page 20 and 21:
192. O MÉTODOÔ menino aprenda a l
- Page 22 and 23:
21pesquisadora que se lança na exp
- Page 24 and 25:
23significados são construídos e
- Page 26 and 27:
25De acordo com Meier e Kudlowiez (
- Page 28 and 29:
273. A CAPOEIRA NO BRASIL: ARTICULA
- Page 30 and 31:
29Entendemos que investigar o adven
- Page 32 and 33:
31No escravismo, os senhores - colo
- Page 34 and 35:
33socialização, emergiu uma cultu
- Page 36 and 37:
35eram identificados por cores, sin
- Page 38 and 39: 37polícia, ao jogo do bicho, aos o
- Page 40 and 41: 39manifestações dos artistas e in
- Page 42 and 43: 41“vadiação” é um termo chei
- Page 44 and 45: 43registrar seu Centro de Cultura F
- Page 46 and 47: 45musicalidade e o jogo, articulado
- Page 48 and 49: 47O estado de dominação estava co
- Page 50 and 51: 49a alta periculosidade, os baixos
- Page 52 and 53: 51conhecimento dos fundamentos dess
- Page 54 and 55: 53políticos e agentes de transform
- Page 56 and 57: 55De acordo com Rodrigues (2002), u
- Page 58 and 59: 57contemporânea, pois essa estrutu
- Page 60 and 61: 59envolve todo mundo. Envolve pra m
- Page 62 and 63: 61da Escola Estadual Capitão Egíd
- Page 64 and 65: 63grandes proporções, chegando a
- Page 66 and 67: 65Nas imagens, vemos crianças banh
- Page 68 and 69: 675. A CAPOEIRAGEM EM TEMPOS DE MOD
- Page 70 and 71: 69pessoal e o bem-estar da comunida
- Page 72 and 73: 71Entendemos, portanto, que, nas re
- Page 74 and 75: 73principalmente no que diz respeit
- Page 76 and 77: 75consumo se tornaram mais intensos
- Page 78 and 79: 77Os movimentos sociais conquistara
- Page 80 and 81: 79atabaque, que vai dar sustentaç
- Page 82 and 83: 81produz, simultaneamente, prática
- Page 84 and 85: 835.3. O corpo: das modelizações
- Page 86 and 87: 85capaz. Maquinações corporais,
- Page 90 and 91: 89(...) a prática desta ciência,
- Page 92 and 93: 91positividade, para potencializar
- Page 94 and 95: 93unicidade. Rupturas de sentido, c
- Page 96 and 97: 95Hoje, o berimbau é considerado o
- Page 98 and 99: 97Ao pai que nos criouAbençoe essa
- Page 100 and 101: 99Ainda com os corridos, os capoeir
- Page 102 and 103: 101relata um acontecimento que expr
- Page 104 and 105: 103cada pessoa que compõe a roda.
- Page 106 and 107: 105resposta mínima, onde pensament
- Page 108 and 109: 1076.3. A produção da malícia e
- Page 110 and 111: 109Pepinha fala dessa construção
- Page 112 and 113: 111a ser o protagonista de si mesmo
- Page 114 and 115: 113dos ritmos e da dança na diásp
- Page 116 and 117: 115se estabelecem no plano macro da
- Page 118 and 119: 117quer de modo mais coletivo)” (
- Page 120 and 121: 119compõe a capoeiragem. Em nosso
- Page 122 and 123: 121o respeito à linhagem de mestre
- Page 124 and 125: 123uma malta rival. Na contemporane
- Page 126 and 127: 125No cruzamento dos diferentes asp
- Page 128 and 129: 127Foucault (1986) o poder não é
- Page 130 and 131: 129por associarem a capoeira ao pec
- Page 132 and 133: 131diversos. Suas apresentações l
- Page 134 and 135: 133coloca-se continuamente à prova
- Page 136 and 137: 135microscópico, o qual, no entant
- Page 138 and 139:
137REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASACES
- Page 140 and 141:
139GALEANO, Eduardo. As palavras an
- Page 142:
141REIS, Letícia Vidor de Sousa. O