77Os movimentos sociais conquistaram força nos jogos estratégicos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.No entanto, a <strong>de</strong>scentralização e a flexibilida<strong>de</strong> não eliminam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umprocesso <strong>de</strong> dominação. Nesses mesmos movimentos, coexistem linhas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,<strong>de</strong> resistência, <strong>de</strong> subjetivação e outras. Às vezes, relações estabelecidas po<strong>de</strong>m,inclusive, cristalizar-se, gerando processos <strong>de</strong> reprodução e não <strong>de</strong> resistência.Há também movimentos mais flexíveis, num processo <strong>de</strong> invenção, queemergem nas cida<strong>de</strong>s, por meio das pichações, do grafite, do funk, do rap, dasdanças e da capoeiragem <strong>de</strong> rua, <strong>de</strong>ntre outros.(…) é nas trincheiras da arte que se encontram os núcleos <strong>de</strong> resistênciados mais conseqüentes ao rolo compressor da subjetivida<strong>de</strong> capitalista, ada unidimensionalida<strong>de</strong>, do equivaler generalizado, da segregação dasur<strong>de</strong>z para a verda<strong>de</strong>ira alterida<strong>de</strong>. (...) A arte aqui não é somente aexistência <strong>de</strong> artistas patenteados, mas também <strong>de</strong> toda uma criativida<strong>de</strong>que atravessa os povos e as gerações oprimidas, os guetos, as minorias(GUATTARI, 1992, p.115).Enfim, são infinitas e diversificadas as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resistência, mashaveria entre elas um ponto <strong>de</strong> contato, uma linha comum? Na visão <strong>de</strong> Guattari eRolnik (2005), o que caracteriza os novos movimentos sociais não é unicamente aresistência contra um processo geral <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lização da subjetivida<strong>de</strong>, mas apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se produzir novos modos <strong>de</strong> subjetivação ou processos <strong>de</strong>singularização subjetiva. Reiteramos esse posicionamento com a direção apontadapor Foucault (1995), ao afirmar que a luta contra as formas <strong>de</strong> submissão dasubjetivida<strong>de</strong> é a batalha mais importante. O modo <strong>de</strong> enfrentamento <strong>de</strong>ve consistirna recusa <strong>de</strong>ssa individualização formatada pelo capitalismo contemporâneo, nainvenção <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>s singulares, não-submetidas aos sistemas saber/po<strong>de</strong>r.Questionamos, então, como emerge a singularida<strong>de</strong> na experiência da capoeiracontemporânea?5.2. Os processos <strong>de</strong> subjetivação e a emergência da resistência pela via dasingularida<strong>de</strong>.Em nossas elaborações, citamos a produção <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> a partir dosagenciamentos capitalistas e sinalizamos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenças nesseprocesso com a emergência <strong>de</strong> subjetivações não-submetidas a essa formataçãodominante. No entanto, é necessário esclarecer algumas questões: sob qual
78perspectiva tomamos o termo subjetivida<strong>de</strong>? O que significa subjetivida<strong>de</strong> submetidaou dominada? Como emergem subjetivida<strong>de</strong>s autônomas ou singulares?O termo subjetivida<strong>de</strong>, neste trabalho não se refere a uma dimensãointeriorizada, própria da natureza humana, ou à idéia <strong>de</strong> sujeito constituinte,soberano, universal, mas a uma produção engendrada <strong>de</strong> maneira rizomática.O rizoma é um plano <strong>de</strong> multiplicida<strong>de</strong>s atravessado por linhas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>segmentarida<strong>de</strong>, linhas molares que são endurecidas e diminuem a intensida<strong>de</strong> dosfluxos. Através <strong>de</strong>las, constituem-se estratificações, organizações, territorializações,contornos <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>, reprodução <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas formas <strong>de</strong> ser, agir e viver -na família, no trabalho, na escola, no clube. Porém, os estratos não esgotam a vidae são rompidos por movimentos e impulsos que conectam o fora. São atravessadospor linhas flexíveis, moleculares, que intensificam os fluxos e possibilitam aemergência da resistência - linhas <strong>de</strong> fuga, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sterritorialização, que rompem osestratos e po<strong>de</strong>m abrir planos <strong>de</strong> consistência, nos quais é possível a produção donovo, a invenção, a criação <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> conviver, expressar, agir, sonhar, amar.Nos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sterritorialização, quando as linhas <strong>de</strong> fuga atravessam e seabrem para campos <strong>de</strong> virtualida<strong>de</strong>, os contornos se rompem e novas conexõespo<strong>de</strong>m se atualizar, em movimentos <strong>de</strong> produção com emergência do novo, <strong>de</strong>reprodução com reiteração <strong>de</strong> códigos e sistemas estabelecidos ou até <strong>de</strong> contraprodução,<strong>de</strong>struição, linhas <strong>de</strong> morte.Enfim, os rizomas são multiplicida<strong>de</strong>s nôma<strong>de</strong>s, sem sujeito nem objeto,apenas <strong>de</strong>terminações, gran<strong>de</strong>zas, conexões. Uma re<strong>de</strong> que não tem início nem fim,mas infinitas entradas e comunicações transversais entre aspectos, pontos e linhasdiferenciadas, em movimento contínuo. Na roda <strong>de</strong> <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong>, a música, osinstrumentos, os movimentos, as palmas, a cantoria daqueles que circundam oespaço, a autorida<strong>de</strong> do mestre, os rituais, os <strong>de</strong>sejos, as memórias, aancestralida<strong>de</strong>, o jeito <strong>de</strong> jogar e os movimentos <strong>de</strong> cada capoeirista no diálogo <strong>de</strong>corpos, tudo po<strong>de</strong> conectar-se <strong>de</strong> diversas maneiras e produzir um campo <strong>de</strong>possibilida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> afetamentos, que engendram simultaneamente reprodução einvenção do novo. Mestre Reginaldo Véio, ao dizer sobre a música, o ritmo e a ginga(movimento básico da capoeira) na roda, oferece um recorte para a visualizaçãorizomática <strong>de</strong>ssa experiência:Na hora em que a bateria tá montada ela tem diferentes marcações <strong>de</strong>freqüência <strong>de</strong> ritmo acontecendo. Ela tem, por exemplo, a base <strong>de</strong> ritmo do
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