65Nas imagens, vemos crianças banhando-se e brincando em um espelhod’água que compõe a arquitetura do escritório central da Acesita, na praça dacida<strong>de</strong>. Esse prédio po<strong>de</strong> ser visto como materialização arquitetônica das relações<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na cida<strong>de</strong>, local on<strong>de</strong> a diretoria da usina trabalha, espaço formal ocupadopelos que exerciam o po<strong>de</strong>r no mais alto grau hierárquico. O espelho d’água, naentrada do prédio, distancia o escritório central da rua, da praça, como uma<strong>de</strong>marcação da distância, da diferença. Contudo, em uma das Festas, quando o solestava escaldante e o calor era intenso, as crianças invadiram esse espaço etransformaram o mesmo em uma piscina - naquele momento, mais uma opção <strong>de</strong>lazer e alegria.Enfim, a Festa da Criança era um espaço <strong>de</strong> invenção que se abria na cida<strong>de</strong>.Uma experiência que aconteceu por aproximadamente <strong>de</strong>z anos e que mobilizavanúmero cada vez maior <strong>de</strong> pessoas, <strong>de</strong> classes sociais diferentes, <strong>de</strong> diversosbairros. A última Festa da Criança, realizada em 1992, aglutinou aproximadamente12 mil pessoas em um encontro heterogêneo, que potencializou uma constelação <strong>de</strong>acontecimentos e produziu a abertura <strong>de</strong> inumeráveis possibilida<strong>de</strong>s.4.2.4. Eixos transversaisAlguns aspectos presentes na história da Associação <strong>de</strong> <strong>Capoeira</strong> Lenço <strong>de</strong>Seda e Socieda<strong>de</strong> <strong>Cultural</strong> Pasárgada funcionavam como pontas <strong>de</strong> lança, linhastransversais que abriam novos campos e potencializavam processos <strong>de</strong> invenção.Destacamos três <strong>de</strong>les: a capoeira como experiência propulsora dos movimentos; oprocesso <strong>de</strong> acontecimentalização, com <strong>de</strong>smultiplicação causal; e o exercício <strong>de</strong>cidadania.1 - A capoeira sempre era o movimento propulsor das ações, a experiênciaque reunia as pessoas. Todos os domingos, os capoeiristas encontravam-sena se<strong>de</strong> da Pasárgada para a roda <strong>de</strong> capoeira. Junto a eles, compunham aroda aqueles que queriam assistir, participar, cantar. O momento posteriorconstituía-se como um espaço-tempo <strong>de</strong> conversas, <strong>de</strong>bates, encontros; asidéias fluíam e os eventos começavam a ser engendrados. Mestre ReginaldoVéio ressalta que, na realização das ações, o trabalho dos capoeiristas era agran<strong>de</strong> potência <strong>de</strong> execução.
662 - Na roda <strong>de</strong> capoeira, o jogo, eminentemente coletivo, faz-se no ato <strong>de</strong>jogar e a cada movimento, por meio <strong>de</strong> conexões <strong>de</strong> universos heterogêneos,rompendo evidências e suscitando respostas inusitadas, em invençõescontínuas. Tal como na roda, também as ações e eventos produzidos naconexão Pasárgada-Lenço <strong>de</strong> Seda emergiam em <strong>de</strong>smultiplicação causal,com articulação <strong>de</strong> diferentes processos históricos, que produziam rupturas<strong>de</strong> evidências, abertura <strong>de</strong> infinitas possibilida<strong>de</strong>s em inúmeras direções,materializando diversos acontecimentos históricos (FOUCAULT, 2004).3 - Os eventos que emergiam na conexão Pasárgada-Lenço <strong>de</strong> Seda semprepotencializavam a produção da diferença na vida <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>: com um carnavalmais fluido e aberto, que rompia a estratificação do <strong>de</strong>sfile das escolas <strong>de</strong>samba organizadas, com a capoeiragem na escola, que engendrava novasformas <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> conviver, ou com a festa da criança, que produziafissuras nas relações hierarquizadas e o uso inusitado dos espaços dacida<strong>de</strong>. Essas experiências abriam campos <strong>de</strong> diferença e articulavam abusca do bem-estar pessoal com o bem-estar da comunida<strong>de</strong>. Pepinharessalta: “tinha um sentimento <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> uma coisa legal pra nossa cida<strong>de</strong>.A nossa cida<strong>de</strong> era muito carente <strong>de</strong> tudo. Tinha um sentimento da gentezelar por uma coisa que pu<strong>de</strong>sse ser importante pra nossa cida<strong>de</strong> no futuro”(PROFESSOR PEPINHA) 30 . Observamos, nas práticas da Lenço <strong>de</strong> Seda-Pasárgada, a emergência do exercício da cidadania - na visão <strong>de</strong> Bauman(2001), exercida na medida em que projetos individuais são ligados a ações eprojetos coletivos.Enten<strong>de</strong>mos que os acontecimentos que emergiam na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Timóteo, emconexão com a capoeiragem da Lenço <strong>de</strong> Seda, constituíam intervenções sóciopolíticase alcançavam um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas em diversos segmentossociais, como uma experiência <strong>de</strong> cidadania que afetava a vida da comunida<strong>de</strong> eproduzia diferenças nas formas <strong>de</strong> ser e viver.30 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 12/04/2006.
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AGRADECIMENTOSIêQuando eu aqui che
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