125No cruzamento dos diferentes aspectos que produzem essa síntese, emergea possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior disseminação da <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong> no Brasil e no mundo. Acapoeira <strong>Angola</strong>, por <strong>de</strong>mandar maior envolvimento, comprometimento epersistência do capoeirista, em um processo eminentemente coletivo e <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>senvolvimentocontínuo, torna-se menos sedutora para os iniciantes e maisseletiva. De acordo com Mestre Reginaldo Véio, a Regional po<strong>de</strong> ser entendidacomo “uma mandinga” da capoeiragem, uma forma <strong>de</strong> sedução e conquista <strong>de</strong>novos praticantes que, a partir <strong>de</strong>ssa experiência, vão buscar os fundamentos <strong>de</strong>ssaprática, que serão encontrados na <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong>. Dessa forma, ocorre umenca<strong>de</strong>amento estratégico, que propicia à <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong> a conquista <strong>de</strong> novospraticantes, <strong>de</strong> novos territórios. Um jogo <strong>de</strong> forças que, tal como no diálogo corporalda roda, conecta pontos diferentes e, através dos movimentos do outro, engendranovas respostas.Todavia, mediante essa possível síntese, emergem também novos perigos,<strong>de</strong>ntre eles a contingência <strong>de</strong> maior abertura da <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong> às capturascapitalísticas. Professor Maia <strong>de</strong>staca que, na Europa, po<strong>de</strong>mos observarcapoeiristas que praticam uma <strong>Angola</strong> quase matemática: no diálogo corporal, osmovimentos são tão precisos e calculados que travam os fluxos <strong>de</strong> energia do jogo.Dessa forma, per<strong>de</strong>-se a característica da vadiação, do exercício livre e prazerosodo corpo, do diálogo corporal que potencializa o conhecimento <strong>de</strong> si no encontrocom o outro, nas conexões <strong>de</strong> universos corporais e incorporais. Emerge, então,uma competitivida<strong>de</strong>, na qual o objetivo principal é vencer o outro, <strong>de</strong>monstrar suaagilida<strong>de</strong>, sua força individual. Enten<strong>de</strong>mos que esse processo po<strong>de</strong> ser minimizadona medida em que os capoeiristas, professores ou instrutores se <strong>de</strong>dicamcontinuamente à aprendizagem e prática dos fundamentos, ao exercício do diálogocorporal, em jogos nos quais haja espaço para a vadiação, para encontros queproduzam a conquista da malícia. Destacamos que essa conquista, além doexercício da experiência da roda, <strong>de</strong>manda tempo, trabalho contínuo e persistênciano universo da capoeiragem.Nesse sentido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994, somente a <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong> é praticada eensinada na se<strong>de</strong> da Associação. Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Timóteo, além dos treinos e práticasdo grupo focarem a <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong>, são promovidos encontros e oficinas comgran<strong>de</strong>s mestres baianos e com capoeiristas angoleiros <strong>de</strong> Salvador, no intuito <strong>de</strong>fortalecer esse estilo: alcançar os campos mais sutis e complexos da capoeiragem e
126simultaneamente, buscar diminuir a vulnerabilida<strong>de</strong> da tradição da capoeira e dogrupo, diante dos enfrentamentos e atravessamentos da lógica capitalística, pormeio da produção <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>.Outra diferença que emerge na contemporaneida<strong>de</strong> é o fato <strong>de</strong> que aexperiência da capoeira tem se tornado cada vez mais institucionalizada, nãoapenas por meio <strong>de</strong> aca<strong>de</strong>mias, mas também com práticas em escolas e projetosassociados a empresas e/ou programas vinculados às políticas públicas. Naassociação <strong>de</strong> <strong>Capoeira</strong> Lenço <strong>de</strong> Seda, são diversos os atravessamentos <strong>de</strong>institucionalização.Na ilha <strong>de</strong> Sar<strong>de</strong>ngna, na Itália, o grupo <strong>de</strong> capoeira Malta do Zoavós,coor<strong>de</strong>nado pelo professor Maia, <strong>de</strong>senvolve projetos junto a instituições públicas dogoverno italiano. Em parceria com outras entida<strong>de</strong>s - como prefeituras,universida<strong>de</strong>s, associações culturais –, o grupo encaminhou projetos ao FundoSocial Europeu, da União Européia, com o intuito <strong>de</strong> captar recursos para financiarações na área <strong>de</strong> inclusão social.No Brasil, o grupo da se<strong>de</strong> da Associação implementou, junto à PrefeituraMunicipal <strong>de</strong> Coronel Fabriciano, o projeto Arte Sempre, realizado no período <strong>de</strong>2002 a 2004. Esse projeto, <strong>de</strong>ntre outras ativida<strong>de</strong>s, propiciou a prática da <strong>Capoeira</strong><strong>Angola</strong> em escolas, creches e outras instituições do município, <strong>de</strong> formasistematizada, com abrangência <strong>de</strong> aproximadamente 3.200 crianças. Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Timóteo, Pepinha atua como capoeirista contratado pela Prefeitura para ministraraulas <strong>de</strong> capoeira nas escolas da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> Ensino. No ano <strong>de</strong> 2006, ogrupo buscou e captou recursos para um trabalho <strong>de</strong> recuperação e conservação doacervo histórico da Associação, com o encaminhamento <strong>de</strong> um projeto ao FundoEstadual <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> Minas Gerais. Em Curitiba, o contramestre Jean Taruíra éprofessor contratado para ministrar aulas <strong>de</strong> capoeira em escolas particulares <strong>de</strong>educação infantil e <strong>de</strong>senvolve um projeto <strong>de</strong>ntro da empresa Petrobrás.Esses fatos <strong>de</strong>monstram que a institucionalização na capoeira se intensifica eadquire novas configurações. Esse processo po<strong>de</strong> ser entendido como uma novacaptura, efetivada por meio <strong>de</strong> atravessamentos das biopolíticas contemporâneasque têm como agentes não somente o Estado, como também outros elementosligados a outras forças sociais (FERREIRA NETO, 2004). Contudo, observamos queos atravessamentos das formas hegemônicas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r nem sempre são negativos.Mediante as capturas, emergem também novas possibilida<strong>de</strong>s, pois, conforme
- Page 6 and 7:
AGRADECIMENTOSIêQuando eu aqui che
- Page 8 and 9:
ABSTRACTThis paper presents a study
- Page 10 and 11:
6. CAPOEIRA ANGOLA: TRADIÇÃO E CR
- Page 13 and 14:
12julgamento de valor e determina q
- Page 15:
14coisa de que se sai transformado,
- Page 18 and 19:
17pelo mestre Reginaldo Véio 3 e s
- Page 20 and 21:
192. O MÉTODOÔ menino aprenda a l
- Page 22 and 23:
21pesquisadora que se lança na exp
- Page 24 and 25:
23significados são construídos e
- Page 26 and 27:
25De acordo com Meier e Kudlowiez (
- Page 28 and 29:
273. A CAPOEIRA NO BRASIL: ARTICULA
- Page 30 and 31:
29Entendemos que investigar o adven
- Page 32 and 33:
31No escravismo, os senhores - colo
- Page 34 and 35:
33socialização, emergiu uma cultu
- Page 36 and 37:
35eram identificados por cores, sin
- Page 38 and 39:
37polícia, ao jogo do bicho, aos o
- Page 40 and 41:
39manifestações dos artistas e in
- Page 42 and 43:
41“vadiação” é um termo chei
- Page 44 and 45:
43registrar seu Centro de Cultura F
- Page 46 and 47:
45musicalidade e o jogo, articulado
- Page 48 and 49:
47O estado de dominação estava co
- Page 50 and 51:
49a alta periculosidade, os baixos
- Page 52 and 53:
51conhecimento dos fundamentos dess
- Page 54 and 55:
53políticos e agentes de transform
- Page 56 and 57:
55De acordo com Rodrigues (2002), u
- Page 58 and 59:
57contemporânea, pois essa estrutu
- Page 60 and 61:
59envolve todo mundo. Envolve pra m
- Page 62 and 63:
61da Escola Estadual Capitão Egíd
- Page 64 and 65:
63grandes proporções, chegando a
- Page 66 and 67:
65Nas imagens, vemos crianças banh
- Page 68 and 69:
675. A CAPOEIRAGEM EM TEMPOS DE MOD
- Page 70 and 71:
69pessoal e o bem-estar da comunida
- Page 72 and 73:
71Entendemos, portanto, que, nas re
- Page 74 and 75:
73principalmente no que diz respeit
- Page 76 and 77: 75consumo se tornaram mais intensos
- Page 78 and 79: 77Os movimentos sociais conquistara
- Page 80 and 81: 79atabaque, que vai dar sustentaç
- Page 82 and 83: 81produz, simultaneamente, prática
- Page 84 and 85: 835.3. O corpo: das modelizações
- Page 86 and 87: 85capaz. Maquinações corporais,
- Page 88 and 89: 87O processo de desenvolvimento e a
- Page 90 and 91: 89(...) a prática desta ciência,
- Page 92 and 93: 91positividade, para potencializar
- Page 94 and 95: 93unicidade. Rupturas de sentido, c
- Page 96 and 97: 95Hoje, o berimbau é considerado o
- Page 98 and 99: 97Ao pai que nos criouAbençoe essa
- Page 100 and 101: 99Ainda com os corridos, os capoeir
- Page 102 and 103: 101relata um acontecimento que expr
- Page 104 and 105: 103cada pessoa que compõe a roda.
- Page 106 and 107: 105resposta mínima, onde pensament
- Page 108 and 109: 1076.3. A produção da malícia e
- Page 110 and 111: 109Pepinha fala dessa construção
- Page 112 and 113: 111a ser o protagonista de si mesmo
- Page 114 and 115: 113dos ritmos e da dança na diásp
- Page 116 and 117: 115se estabelecem no plano macro da
- Page 118 and 119: 117quer de modo mais coletivo)” (
- Page 120 and 121: 119compõe a capoeiragem. Em nosso
- Page 122 and 123: 121o respeito à linhagem de mestre
- Page 124 and 125: 123uma malta rival. Na contemporane
- Page 128 and 129: 127Foucault (1986) o poder não é
- Page 130 and 131: 129por associarem a capoeira ao pec
- Page 132 and 133: 131diversos. Suas apresentações l
- Page 134 and 135: 133coloca-se continuamente à prova
- Page 136 and 137: 135microscópico, o qual, no entant
- Page 138 and 139: 137REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASACES
- Page 140 and 141: 139GALEANO, Eduardo. As palavras an
- Page 142: 141REIS, Letícia Vidor de Sousa. O