49a alta periculosida<strong>de</strong>, os baixos salários, a poluição da cida<strong>de</strong> e outros, engendrandoformas <strong>de</strong> resistências através das <strong>de</strong>núncias e <strong>de</strong>bates.No ano <strong>de</strong> 1977, foi <strong>de</strong>senvolvido em Timóteo um projeto <strong>de</strong> pedagogiapopular comunitária, financiado por uma organização não-governamental holan<strong>de</strong>sa,ligada à Igreja Católica, e implementado através do Centro <strong>de</strong> Documentação eOrganização Comunitária (CEDOC), organização não-governamental brasileira. Oprojeto visava a formação <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças e a consolidação <strong>de</strong> práticas comunitáriasem organização grupal, tendo sido <strong>de</strong>senvolvido pelo grupo <strong>de</strong> jovens ALFA –equipe <strong>de</strong> jovens da comunida<strong>de</strong> indicados pela igreja –, com assessoria dosrepresentantes do CEDOC.Um <strong>de</strong>sses representantes era Reginaldo Consolatrix, que trazia aexperiência em projetos interdisciplinares, associada à militância política e à práticada capoeira. Segundo seu <strong>de</strong>poimento, no bojo da pedagogia comunitária, acapoeira constituía forte instrumento <strong>de</strong> mobilização popular. Além disso, paracontinuar a praticar a capoeira, era necessário ter parceiros. Por isso, ele se reuniacom amigos para brincar <strong>de</strong> capoeira na quadra da igreja, <strong>de</strong> maneira livre eespontânea, na vadiação. Nasce assim o primeiro grupo <strong>de</strong> capoeira da cida<strong>de</strong>,configurando a gênese da Associação <strong>de</strong> <strong>Capoeira</strong> Lenço <strong>de</strong> Seda. Pepinhaexpressa a mobilização social e a resistência que emergiam na capoeira, ao relatar:A capoeira mexia muito com a gente, a gente era meio rebel<strong>de</strong> contra osistema... a polícia não gostava da gente, a gente era muito cabeludo,<strong>de</strong>sempregado... então, na capoeira, a gente encontrou um ambiente muitolegal. A gente consi<strong>de</strong>rava uma coisa importante, fazer aquele joguinho,tocar, mexer com música, cantar e lutar, a gente gostava muito <strong>de</strong> lutar,sabe? (Professor PEPINHA) 18 .Destacamos, aqui, alguns pontos <strong>de</strong> conexão entre o início da capoeira nacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Timóteo e a capoeiragem carioca e baiana. Tal como a capoeira urbanado século XIX, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, em Timóteo essa experiência inicia-se associada àluta contra processos <strong>de</strong> marginalização, <strong>de</strong> discriminação social. O grupo eraformado, em sua maioria, por pessoas que escapavam ao quadriculamentodisciplinar e estavam, portanto, à margem do sistema. Tal como na capoeiragembaiana, predominava a vadiação: o grupo <strong>de</strong> capoeira reunia-se na praça ou no pátioda igreja para brincar, jogar e vadiar. Constituía-se um espaço <strong>de</strong> encontro e <strong>de</strong>expressão para as pessoas que estavam fora do circuito da empresa,18 Informação verbal, obtida em entrevista realizada em 12/04/2006.
50potencializando novas formas <strong>de</strong> resistência ao po<strong>de</strong>r instituído, um movimentodiferente naquele contexto.Após ter iniciado a experiência da capoeiragem na praça em frente à igreja, ogrupo criou a Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> <strong>Capoeira</strong> Quilombo, que oferecia aulas <strong>de</strong> forma maissistematizada. Em um espaço fechado, específico, recebia como alunos osadolescentes e jovens da cida<strong>de</strong>. No entanto, somente aqueles que podiam pagaras mensalida<strong>de</strong>s experimentavam a capoeiragem. O grupo, então, <strong>de</strong>cidiu voltarpara as ruas. Na visão <strong>de</strong> mestre Reginaldo Véio 19 “era necessário <strong>de</strong>volver ao povoesse instrumento <strong>de</strong> lazer e <strong>de</strong> construção da própria história”.A cada apresentação nas ruas, novas pessoas participavam da “brinca<strong>de</strong>ira”e iniciavam a prática da capoeiragem. A capoeira expandiu-se na cida<strong>de</strong> eaumentou o número <strong>de</strong> pessoas na Aca<strong>de</strong>mia Quilombo. Nesse processo, quandovoltavam a suas comunida<strong>de</strong>s, os aprendizes da capoeiragem transformavam-se eminstrutores <strong>de</strong> jovens e crianças, constituindo outros pequenos grupos. O<strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Pepinha diz <strong>de</strong>sse movimento:Aqui era um lugar que a gente nunca tinha visto capoeira, nunca na vida dagente, acho que a cida<strong>de</strong> inteira. Então a gente apren<strong>de</strong>u pouco e tinha queensinar pros meninos, pra fortalecer o grupo, pra ter uma roda com maisgente. (...) Foi legal, porque a gente foi brincando <strong>de</strong> capoeira com osmeninos. Os meninos foram crescendo rapidinho, daí a pouco eles jáestavam bons <strong>de</strong> capoeira, dando alegria pra gente, surpreen<strong>de</strong>ndo a gente(PROFESSOR PEPINHA) 20 .Destacamos, no <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Pepinha, a dimensão eminentemente coletiva<strong>de</strong>ssa experiência e sua potência <strong>de</strong> mobilização nas comunida<strong>de</strong>s. A capoeiragemsó existe na prática <strong>de</strong> grupo, pois são necessárias diferentes pessoas para tocarinstrumentos, cantar, alternar duplas <strong>de</strong> atores no jogo-luta-dança, criar a ambiênciada roda e articular ritmos, canções, brinca<strong>de</strong>iras, teatralida<strong>de</strong>. Então, praticar acapoeira era também ensinar-apren<strong>de</strong>r a capoeiragem, engendrar processoscoletivos <strong>de</strong> criação, produzir e multiplicar novos grupos. Conforme MestreReginaldo Véio 21 , mediante a irrupção <strong>de</strong> pequenos grupos <strong>de</strong> capoeira <strong>de</strong> maneirainformal e solta, surgiu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizar esse movimento. As pessoashaviam conhecido a capoeira nas ruas e passaram a ser multiplicadores sem o19 Informação verbal, obtida em entrevista realizada em 18/02/2006.20 Informação verbal, obtida em entrevista realizada em 12/04/2006.21 Informação verbal obtida em grupo focal em 18/02/2006.
- Page 6 and 7: AGRADECIMENTOSIêQuando eu aqui che
- Page 8 and 9: ABSTRACTThis paper presents a study
- Page 10 and 11: 6. CAPOEIRA ANGOLA: TRADIÇÃO E CR
- Page 13 and 14: 12julgamento de valor e determina q
- Page 15: 14coisa de que se sai transformado,
- Page 18 and 19: 17pelo mestre Reginaldo Véio 3 e s
- Page 20 and 21: 192. O MÉTODOÔ menino aprenda a l
- Page 22 and 23: 21pesquisadora que se lança na exp
- Page 24 and 25: 23significados são construídos e
- Page 26 and 27: 25De acordo com Meier e Kudlowiez (
- Page 28 and 29: 273. A CAPOEIRA NO BRASIL: ARTICULA
- Page 30 and 31: 29Entendemos que investigar o adven
- Page 32 and 33: 31No escravismo, os senhores - colo
- Page 34 and 35: 33socialização, emergiu uma cultu
- Page 36 and 37: 35eram identificados por cores, sin
- Page 38 and 39: 37polícia, ao jogo do bicho, aos o
- Page 40 and 41: 39manifestações dos artistas e in
- Page 42 and 43: 41“vadiação” é um termo chei
- Page 44 and 45: 43registrar seu Centro de Cultura F
- Page 46 and 47: 45musicalidade e o jogo, articulado
- Page 48 and 49: 47O estado de dominação estava co
- Page 52 and 53: 51conhecimento dos fundamentos dess
- Page 54 and 55: 53políticos e agentes de transform
- Page 56 and 57: 55De acordo com Rodrigues (2002), u
- Page 58 and 59: 57contemporânea, pois essa estrutu
- Page 60 and 61: 59envolve todo mundo. Envolve pra m
- Page 62 and 63: 61da Escola Estadual Capitão Egíd
- Page 64 and 65: 63grandes proporções, chegando a
- Page 66 and 67: 65Nas imagens, vemos crianças banh
- Page 68 and 69: 675. A CAPOEIRAGEM EM TEMPOS DE MOD
- Page 70 and 71: 69pessoal e o bem-estar da comunida
- Page 72 and 73: 71Entendemos, portanto, que, nas re
- Page 74 and 75: 73principalmente no que diz respeit
- Page 76 and 77: 75consumo se tornaram mais intensos
- Page 78 and 79: 77Os movimentos sociais conquistara
- Page 80 and 81: 79atabaque, que vai dar sustentaç
- Page 82 and 83: 81produz, simultaneamente, prática
- Page 84 and 85: 835.3. O corpo: das modelizações
- Page 86 and 87: 85capaz. Maquinações corporais,
- Page 88 and 89: 87O processo de desenvolvimento e a
- Page 90 and 91: 89(...) a prática desta ciência,
- Page 92 and 93: 91positividade, para potencializar
- Page 94 and 95: 93unicidade. Rupturas de sentido, c
- Page 96 and 97: 95Hoje, o berimbau é considerado o
- Page 98 and 99: 97Ao pai que nos criouAbençoe essa
- Page 100 and 101:
99Ainda com os corridos, os capoeir
- Page 102 and 103:
101relata um acontecimento que expr
- Page 104 and 105:
103cada pessoa que compõe a roda.
- Page 106 and 107:
105resposta mínima, onde pensament
- Page 108 and 109:
1076.3. A produção da malícia e
- Page 110 and 111:
109Pepinha fala dessa construção
- Page 112 and 113:
111a ser o protagonista de si mesmo
- Page 114 and 115:
113dos ritmos e da dança na diásp
- Page 116 and 117:
115se estabelecem no plano macro da
- Page 118 and 119:
117quer de modo mais coletivo)” (
- Page 120 and 121:
119compõe a capoeiragem. Em nosso
- Page 122 and 123:
121o respeito à linhagem de mestre
- Page 124 and 125:
123uma malta rival. Na contemporane
- Page 126 and 127:
125No cruzamento dos diferentes asp
- Page 128 and 129:
127Foucault (1986) o poder não é
- Page 130 and 131:
129por associarem a capoeira ao pec
- Page 132 and 133:
131diversos. Suas apresentações l
- Page 134 and 135:
133coloca-se continuamente à prova
- Page 136 and 137:
135microscópico, o qual, no entant
- Page 138 and 139:
137REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASACES
- Page 140 and 141:
139GALEANO, Eduardo. As palavras an
- Page 142:
141REIS, Letícia Vidor de Sousa. O