35eram i<strong>de</strong>ntificados por cores, sinais, sons, assobios e <strong>de</strong>marcavam seus domíniosapropriando-se dos espaços da cida<strong>de</strong> e conferindo a eles uma lógica popular <strong>de</strong>ocupação. As fronteiras territoriais das maltas eram <strong>de</strong>fendidas rígida eviolentamente contra a entrada <strong>de</strong> grupos rivais. De acordo com Cruz (1996), havia,inicialmente, vários pequenos agrupamentos, que se aglutinaram em duas gran<strong>de</strong>smaltas: Nagoas e Guayamus.A atuação das maltas <strong>de</strong> capoeiras colocava em foco rivalida<strong>de</strong>s e conflitosentre grupos. Constituía-se um ethos guerreiro, que conectava afetos diversos,envolvia dramatizações, coreografias, malabarismos, canções que afirmavam opo<strong>de</strong>r do grupo a partir do <strong>de</strong>staque <strong>de</strong> personagens célebres, cantigas <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio,brados <strong>de</strong> guerra, <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> <strong>de</strong>streza e valentia, atos <strong>de</strong> violência,transgressão <strong>de</strong> normas e regras socialmente instituídas. Em <strong>de</strong>terminadosperíodos, como nas festas religiosas ou aparições públicas previamente anunciadas,os confrontos das maltas eram verda<strong>de</strong>iros espetáculos nas ruas da cida<strong>de</strong>,<strong>de</strong>spertando fascínio e medo na população (ABIB, 2004).O ethos guerreiro, que se intensificava e adquiria novas formas com asmaltas, participava não apenas dos confrontos públicos entre grupos rivais, mastambém dos movimentos negros por liberda<strong>de</strong>, que se articulavam nos subterrâneosda socieda<strong>de</strong> escravista, com a utilização <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> dissimulação einsubordinação, por meio <strong>de</strong> arruaças, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m e violentas disputas nos espaçosurbanos. Os grupos rivais lutavam entre si, mas se uniam contra o inimigo comum: apolícia.A intensificação da repressão policial evi<strong>de</strong>nciava-se nas cenas <strong>de</strong> violênciacotidiana entre os capoeiras e a polícia. Buarque <strong>de</strong> Holanda (1976) afirma queinsurreições, crimes, negligência eram as formas <strong>de</strong> o escravo protestar. Essaefervescência sinalizavao caráter iminente <strong>de</strong> uma rebelião escrava, prestes a ser <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada,tendo em vista o forte po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> organização <strong>de</strong>sses “<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iros” que, acada dia, mostravam com maior evidência, serem sim, capazes <strong>de</strong>sfazer aor<strong>de</strong>m estabelecida pela socieda<strong>de</strong> colonial-escravista (ABIB, 2004, p. 94).Contudo, ao mesmo tempo em que a capoeira era consi<strong>de</strong>rada uma ameaçaà or<strong>de</strong>m vigente e enquadrada como contravenção penal, com severa repressãopolicial, i<strong>de</strong>ntificamos outros pontos <strong>de</strong> contato entre os capoeiras e os soldados;entrelaçamentos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e resistência na capoeiragem. Cruz (1996) informa que os
36militares praticavam jogos proibidos com negros e pardos e aprendiam capoeira comos escravos nas ruas, praças e praias da cida<strong>de</strong>. Soldados capoeiristas participavam<strong>de</strong> apresentações públicas das maltas e integrantes das maltas também abriam<strong>de</strong>sfiles militares com acrobacias, danças e cantos. Não obstante essas conexõespela via da ludicida<strong>de</strong>, do jogo, observa-se também o uso instrumental dacapoeiragem no universo militar.Segundo Reis (1997), as instituições policiais recrutaram capoeiristascariocas, tanto a partir <strong>de</strong> atos voluntários quanto com prisões arbitrárias ealistamento forçado, principalmente quando as tropas precisavam <strong>de</strong> maiorcontingente. Durante o período da Guerra do Paraguai, a intensificação da inclusãodos capoeiras na instituição militar compunha uma estratégia para fortalecer astropas e também para retirar das ruas os elementos in<strong>de</strong>sejáveis ao sistema. Essaguerra custou a vida <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> negros. Porém, “o recrutamento forçado <strong>de</strong>capoeiras não era garantia absoluta <strong>de</strong> seu a<strong>de</strong>stramento. Muitos capoeiristaspermaneciam ligados às re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relações sociais que os vinculavam às suasmaltas” (REIS, 1997, p. 57).As maltas, além <strong>de</strong> sua potência guerreira, <strong>de</strong> suas apresentações lúdicasnas praças, festas e folguedos da cida<strong>de</strong>, também se conectavam a movimentospolíticos, articuladas à monarquia. Reis (1997) aponta que, logo após a abolição, foiformada uma milícia basicamente <strong>de</strong> capoeiras, arrebanhando os libertos. Esseexército <strong>de</strong> rua, a Guarda Negra, atuava principalmente nos comícios republicanos eagia, por ocasião das eleições, cercando o local <strong>de</strong> votação e hostilizando osadversários <strong>de</strong> seu chefe político. Eram comuns os embates violentos entre asmaltas e os republicanos. Em contrapartida, os capoeiras podiam atuar sem sofrermaiores perseguições da policia imperial.Com a Proclamação da República, instituiu-se dupla oposição aoscapoeiristas: eles eram consi<strong>de</strong>rados inimigos políticos e inimigos sociais. Eramcaracterizados como vagabundos, assassinos, arruaceiros e insufladores <strong>de</strong> greves,pois também se articulavam ao incipiente movimento operário que se formava. Navisão <strong>de</strong> Melo (2001), aos olhos da elite daquela época, o universo da capoeiragemconstituía-se como(...) força <strong>de</strong> trabalho livre e mercenária, primariamente ligada à monarquia.O capoeira pobre, mestre no manejo da navalha, andava em grupos,i<strong>de</strong>ntificava-se pelo uso <strong>de</strong> fitas amarelas e vermelhas nos braços, morava,em geral, em cabeças <strong>de</strong> porco (cortiços), servia aos homens do estado, à
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