129por associarem a capoeira ao pecado, ao candomblé. Esse episódio <strong>de</strong>monstra quea capoeiragem, ainda hoje, é atravessada por preconceitos.Outra dificulda<strong>de</strong> que emerge com a capoeira no contexto escolar é relativa àdiferença em relação aos processos <strong>de</strong> aprendizagem. Conforme <strong>de</strong>screvemosanteriormente, a capoeira, principalmente a <strong>Angola</strong>, introduz no espaço escolardiferenças metodológicas nas formas <strong>de</strong> relações e <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> saberes, comemergência <strong>de</strong> maior movimento, ludicida<strong>de</strong> e liberda<strong>de</strong>, em uma práticaeminentemente corporal e coletiva. Essas diferenças constituem resistências nasescolas, fazendo emergir processos <strong>de</strong> criação que extravasam as aulas <strong>de</strong>capoeira e alcançam outros espaços e tempos. Provavelmente por engendrarresistências, “a capoeira ainda não foi incorporada diante da escola. Ela não estáintroduzida na visão dos educadores como um todo” (MADRINHA FLOR) 87 .Fundamentando-nos nas elaborações <strong>de</strong> Guattari e Rolnik (2005), po<strong>de</strong>mosconsi<strong>de</strong>rar que, mesmo com maior institucionalização, em <strong>de</strong>terminadascircunstâncias, a capoeira ainda é uma prática-margem, na medida em que não seenquadra nas normas dominantes e engendra novas formas resistências.Destacamos que os aspectos que sinalizamos como pontos <strong>de</strong> diferençarelativos à inserção da capoeira no mercado capitalístico, nova formas <strong>de</strong>institucionalização e profissionalização da atuação dos capoeiristas, constituem-seem tramas múltiplas e complexas, com alguns pontos <strong>de</strong> cristalização, em processosainda instituintes. Na experiência da Lenço <strong>de</strong> Seda, observamos que os projetosassociados às políticas públicas são pontuais. São poucos os capoeiristas inseridosno mercado como profissionais da capoeira, em ações institucionalizadas, comoficialização <strong>de</strong> contratos <strong>de</strong> trabalho. As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capoeira nas escolas seefetivam tanto <strong>de</strong> maneira institucionalizada, com profissionais contratados, quantopor iniciativa <strong>de</strong> parcerias informais, com atuação voluntária dos capoeiristas. Osefeitos <strong>de</strong>sses processos no contexto da capoeiragem e os diferentesacontecimentos que emergem sugerem novas investigações em outras pesquisas.87 Informação verbal obtida em entrevista realizada em 28/09/2006
1308. CONSIDERAÇÕES FINAISA<strong>de</strong>us, a<strong>de</strong>usBoa viagemA<strong>de</strong>us, a<strong>de</strong>us,Boa viagemEu vou-me embora,Boa viagemEu vou com Deus,Boa viagemNossa SenhoraBoa viagem(MESTRE BOCA RICA, 2002)Iniciamos esse trabalho com o intuito <strong>de</strong> investigar como se produziu aresistência na capoeiragem, mediante diferentes configurações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, focandoprincipalmente o contexto contemporâneo.Por meio <strong>de</strong> uma breve abordagem histórica, observamos que, no percursodo <strong>de</strong>senvolvimento da capoeira no Brasil, os entrelaçamentos entre po<strong>de</strong>r eresistência sempre estiveram presentes. Mesmo diante dos atravessamentos dasformas hegemônicas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, engendram-se na capoeiragem novas escapadas,em um processo <strong>de</strong> transformações e invenção contínuas, tal como a ginga na roda.A ginga é o movimento-base na capoeira, que, ao absorver a forma do andar,transforma-o em dança capaz <strong>de</strong> comportar elementos necessários para estardançando, lutando e jogando. Um movimento <strong>de</strong> absoluta flexibilida<strong>de</strong>, quepotencializa inversões, mudanças <strong>de</strong> direção, <strong>de</strong>fesas, ataques, escapadas. Ao<strong>de</strong>senvolver diferentes formas <strong>de</strong> resistência no contexto brasileiro, diante dasdiferentes formas <strong>de</strong> configuração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, a capoeira parece gingar nas tramashistóricas.Fez-se luta diante do estado <strong>de</strong> dominação presente no contexto escravocratado Brasil-colônia. Uma potência guerreira, um movimento <strong>de</strong> libertação, que semanifestava não apenas por meio da contra-força, dos golpes que faziam do corpoum arquivo-arma, mas, principalmente, pela potência <strong>de</strong> invenção, pela criação <strong>de</strong>novos espaços <strong>de</strong> encontro e <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> diferentes parcelas marginalizadasda população, como, por exemplo, a emergência das maltas no século XIX, no Rio<strong>de</strong> Janeiro. Com grupos heterogêneos organizados, as maltas conectavam afetos
- Page 6 and 7:
AGRADECIMENTOSIêQuando eu aqui che
- Page 8 and 9:
ABSTRACTThis paper presents a study
- Page 10 and 11:
6. CAPOEIRA ANGOLA: TRADIÇÃO E CR
- Page 13 and 14:
12julgamento de valor e determina q
- Page 15:
14coisa de que se sai transformado,
- Page 18 and 19:
17pelo mestre Reginaldo Véio 3 e s
- Page 20 and 21:
192. O MÉTODOÔ menino aprenda a l
- Page 22 and 23:
21pesquisadora que se lança na exp
- Page 24 and 25:
23significados são construídos e
- Page 26 and 27:
25De acordo com Meier e Kudlowiez (
- Page 28 and 29:
273. A CAPOEIRA NO BRASIL: ARTICULA
- Page 30 and 31:
29Entendemos que investigar o adven
- Page 32 and 33:
31No escravismo, os senhores - colo
- Page 34 and 35:
33socialização, emergiu uma cultu
- Page 36 and 37:
35eram identificados por cores, sin
- Page 38 and 39:
37polícia, ao jogo do bicho, aos o
- Page 40 and 41:
39manifestações dos artistas e in
- Page 42 and 43:
41“vadiação” é um termo chei
- Page 44 and 45:
43registrar seu Centro de Cultura F
- Page 46 and 47:
45musicalidade e o jogo, articulado
- Page 48 and 49:
47O estado de dominação estava co
- Page 50 and 51:
49a alta periculosidade, os baixos
- Page 52 and 53:
51conhecimento dos fundamentos dess
- Page 54 and 55:
53políticos e agentes de transform
- Page 56 and 57:
55De acordo com Rodrigues (2002), u
- Page 58 and 59:
57contemporânea, pois essa estrutu
- Page 60 and 61:
59envolve todo mundo. Envolve pra m
- Page 62 and 63:
61da Escola Estadual Capitão Egíd
- Page 64 and 65:
63grandes proporções, chegando a
- Page 66 and 67:
65Nas imagens, vemos crianças banh
- Page 68 and 69:
675. A CAPOEIRAGEM EM TEMPOS DE MOD
- Page 70 and 71:
69pessoal e o bem-estar da comunida
- Page 72 and 73:
71Entendemos, portanto, que, nas re
- Page 74 and 75:
73principalmente no que diz respeit
- Page 76 and 77:
75consumo se tornaram mais intensos
- Page 78 and 79:
77Os movimentos sociais conquistara
- Page 80 and 81: 79atabaque, que vai dar sustentaç
- Page 82 and 83: 81produz, simultaneamente, prática
- Page 84 and 85: 835.3. O corpo: das modelizações
- Page 86 and 87: 85capaz. Maquinações corporais,
- Page 88 and 89: 87O processo de desenvolvimento e a
- Page 90 and 91: 89(...) a prática desta ciência,
- Page 92 and 93: 91positividade, para potencializar
- Page 94 and 95: 93unicidade. Rupturas de sentido, c
- Page 96 and 97: 95Hoje, o berimbau é considerado o
- Page 98 and 99: 97Ao pai que nos criouAbençoe essa
- Page 100 and 101: 99Ainda com os corridos, os capoeir
- Page 102 and 103: 101relata um acontecimento que expr
- Page 104 and 105: 103cada pessoa que compõe a roda.
- Page 106 and 107: 105resposta mínima, onde pensament
- Page 108 and 109: 1076.3. A produção da malícia e
- Page 110 and 111: 109Pepinha fala dessa construção
- Page 112 and 113: 111a ser o protagonista de si mesmo
- Page 114 and 115: 113dos ritmos e da dança na diásp
- Page 116 and 117: 115se estabelecem no plano macro da
- Page 118 and 119: 117quer de modo mais coletivo)” (
- Page 120 and 121: 119compõe a capoeiragem. Em nosso
- Page 122 and 123: 121o respeito à linhagem de mestre
- Page 124 and 125: 123uma malta rival. Na contemporane
- Page 126 and 127: 125No cruzamento dos diferentes asp
- Page 128 and 129: 127Foucault (1986) o poder não é
- Page 132 and 133: 131diversos. Suas apresentações l
- Page 134 and 135: 133coloca-se continuamente à prova
- Page 136 and 137: 135microscópico, o qual, no entant
- Page 138 and 139: 137REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASACES
- Page 140 and 141: 139GALEANO, Eduardo. As palavras an
- Page 142: 141REIS, Letícia Vidor de Sousa. O