O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
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O <strong>TeaTrO</strong> <strong>GreGO</strong> <strong>em</strong> <strong>COnTexTO</strong> <strong>de</strong> <strong>represenTaçãO</strong><br />
6.6 - MoviMento<br />
Embora a tradição aponte para a entrada do coro <strong>em</strong> mar‑<br />
cha militar coor<strong>de</strong>nada com os anapestos, a verda<strong>de</strong> é que são<br />
escassas as tragédias on<strong>de</strong> realmente isso acontece 46 , sendo que,<br />
no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Herington (1985: 121), o movimento associado<br />
aos anapestos não era obrigatoriamente o <strong>de</strong> marcha, já que,<br />
inclusivamente, este metro podia ser utilizado estando o coro <strong>em</strong><br />
posição estática 47 . Já Pickard‑Cambridge (1953: 248) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />
que a entrada <strong>em</strong> marcha é visível <strong>em</strong> muitas das primeiras<br />
tragédias, nas quais a estrofe e a antístrofe são precedidas <strong>de</strong><br />
cerca <strong>de</strong> quarenta a sessenta e cinco dímetros anapésticos que,<br />
provavelmente, eram enunciados <strong>em</strong> recitativo. Nesta situação<br />
estariam as Suplicantes, os Persas e o Agamémnon <strong>de</strong> Ésquilo,<br />
o Ájax <strong>de</strong> Sófocles, e a Alceste, o Reso e a Hécuba <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s.<br />
De qualquer forma, <strong>em</strong>bora sejam escassos os test<strong>em</strong>unhos<br />
sobre a movimentação do coro, a verda<strong>de</strong> é que, segundo a<br />
tradição, do movimento circular, típico dos coros ditirâmbi‑<br />
cos, ter‑se‑á evoluído para uma formação triangular <strong>de</strong> cariz<br />
militar 48 , porquanto os movimentos eram executados unisso‑<br />
namente e <strong>de</strong> forma compassada. No entanto, na opinião <strong>de</strong><br />
Calame (1977: 79‑86) e exatamente por causa da relação direta<br />
entre danças corais e dramáticas, esta evolução não terá ocor‑<br />
rido <strong>de</strong> uma forma abrupta e muito acentuada. Assim sendo,<br />
parece plausível, até pelo número <strong>de</strong> coreutas que integravam<br />
as primeiras tragédias, que, inicialmente, quando a interação<br />
entre coro e atores era plena, o movimento dos primeiros<br />
46 Entre os poucos ex<strong>em</strong>plos, contam‑se os Persas e o Agamémnon <strong>de</strong><br />
Ésquilo. Segundo Herington (1985: 113), todas as evidências parec<strong>em</strong><br />
apontar para a orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>sta formação <strong>em</strong> Esparta, pelo menos a partir do<br />
século VII a.C., sendo que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> essa altura, não há registos do seu uso<br />
<strong>em</strong> qualquer outra circunstância, até ao seu reaparecimento nas tragédias<br />
gregas. De qualquer forma, <strong>de</strong>sconhece‑se <strong>em</strong> que data a marcha anapéstica<br />
passou a estar incorporada nos dramas.<br />
47 Da mesma opinião partilha Rehm (1992: 27), que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que,<br />
da análise <strong>de</strong> cenas como o kommos entre o coro, Orestes e Electra, nas<br />
Coéforas, o cântico das Fúrias à volta <strong>de</strong> Orestes ou os seus vaticínios sobre<br />
a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Atenas, no final das Euméni<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ésquilo, se constata que a<br />
tese <strong>de</strong> que o coro apresentava geralmente uma configuração militar não<br />
se verifica nos momentos mais intensos da performance.<br />
48 Prova disso é que o esqu<strong>em</strong>a métrico utilizado nas partes correspon‑<br />
<strong>de</strong>ntes ao coro estava mais vocacionado para o recitativo e, por conseguinte,<br />
para uma movimentação <strong>em</strong> marcha lenta.<br />
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