O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
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Isabel Castiajo<br />
As origens do teatro, na Grécia, estão intimamente rela‑<br />
cionadas com a vertente religiosa tão presente no pensamento<br />
grego. Para isso concorre, <strong>em</strong> primeiro lugar, o facto <strong>de</strong> os jogos<br />
cénicos ter<strong>em</strong> resultado do culto <strong>de</strong>dicado ao <strong>de</strong>us Diónisos.<br />
Mesmo aquando dos festivais, altura <strong>em</strong> que a arte da repre‑<br />
sentação estava já amplamente enraizada, ocorriam cerimónias<br />
<strong>em</strong> honra do <strong>de</strong>us que envolviam, entre outros eventos, rituais<br />
<strong>de</strong> sacrifício <strong>em</strong> altares próprios. O facto <strong>de</strong> mesmo nos teatros<br />
helenísticos, séculos mais tar<strong>de</strong>, existir um altar <strong>de</strong>dicado a<br />
Diónisos é um resquício <strong>de</strong>ssa mesma função religiosa que<br />
começou por caracterizar o teatro grego.<br />
O mais antigo teatro <strong>de</strong> pedra conhecido na Ática é o <strong>de</strong><br />
Tóricos, um dos muitos d<strong>em</strong>os gregos que acolhiam as Dionísias<br />
Rurais. Através das ruínas que subsistiram é possível perceber<br />
que a linha central dos lugares era reta e curvada nas partes<br />
laterais 1 , o que para muitos estudiosos 2 é uma prova <strong>de</strong> que,<br />
inicialmente, a orquestra, o local <strong>de</strong>stinado às danças, seria<br />
retangular e não circular, como a que se encontra <strong>em</strong> Atenas,<br />
no teatro <strong>em</strong> pedra <strong>de</strong> Diónisos do século IV a.C. Esta dispo‑<br />
sição da orquestra e consequent<strong>em</strong>ente dos lugares, na opinião<br />
<strong>de</strong> Wiles (2003: 65), proporcionaria uma visão mais ampla<br />
do clímax da procissão – que saía do porto e terminava no<br />
t<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Diónisos – aos cerca <strong>de</strong> 3.000 espectadores que<br />
se sentavam no auditório. Desta forma, era também possível<br />
visualizar‑se aqueles que apresentavam os seus animais ao <strong>de</strong>us<br />
no t<strong>em</strong>plo, que ficava do lado direito da audiência, e os que<br />
os sacrificavam, do lado esquerdo, no altar. Por outro lado, o<br />
facto <strong>de</strong> a área <strong>de</strong> atuação medir cerca <strong>de</strong> 30 metros causava<br />
graves probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> visualização e, por isso, o mesmo estudioso<br />
(Wiles 1997: 33) consi<strong>de</strong>ra que, apesar <strong>de</strong> haver vários registos<br />
<strong>de</strong> performances dramáticas neste espaço, a área reservada à<br />
1 Na opinião <strong>de</strong> Wiles (1997: 33), esta configuração proporcionava<br />
uma boa acústica.<br />
2 Camp (2001: 145‑146) acrescenta que esta disposição da orquestra<br />
seria também a que se po<strong>de</strong>ria encontrar noutros teatros <strong>de</strong> outros d<strong>em</strong>os<br />
gregos. É o caso do teatro <strong>de</strong> Euónimon, <strong>de</strong> Ramnos e mesmo <strong>de</strong> Icárion.<br />
Por essa razão, e pelo facto <strong>de</strong> os assentos do teatro <strong>de</strong> Diónisos do século<br />
V a.C. que perduraram ser<strong>em</strong> a direito <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> arredondados, o autor<br />
acredita que as orquestras circulares pod<strong>em</strong> ter resultado <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvol‑<br />
vimento tardio e que, originalmente, estas seriam retangulares.<br />
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